Combater a doença é a prioridade, mas as consequências para a sua vida sexual também importam Um diagnóstico de câncer é sempre um golpe duro de se absorver. A sensação de que um buraco se abriu no chão e despencaremos em queda livre é real. Felizmente, um número cada vez maior de pacientes se recupera e retoma suas atividades. No entanto, uma questão ainda é pouco debatida nos consultórios, principalmente pelas mulheres: o sexo. Homens diagnosticados com câncer de próstata recebem um volume razoável de informações para dissipar os temores relacionados a um quadro de disfunção erétil e incontinência urinária, mas o mesmo não se aplica para nós.
Combater o câncer é a prioridade, mas o resto da sua vida, o que inclui o sexo, também importa
Cristhiane Louback para Pixabay
Claro que combater o câncer é a prioridade no momento, mas o resto da sua vida – o que inclui a atividade sexual – também importa. Há perguntas que devem ser feitas ao oncologista e, se ele não souber responder, busque um profissional que possa ajudar. Assisti a uma palestra da médica ginecologista Stacy Tessler Lindau, professora da Universidade de Chicago, e tomei conhecimento do WomanLab, sob sua direção: trata-se de uma plataforma voltada para preservar e recuperar a função sexual feminina depois de tratamentos oncológicos, problemas cardíacos e nos desafios da menopausa.
Apesar do turbilhão de emoções depois do diagnóstico, o ideal é discutir o assunto antes do início do tratamento. Deixar para depois pode significar uma dificuldade ainda maior para voltar a ter prazer. Começo por três questões fundamentais que devem ser formuladas:
1) Entre as opções de tratamento, há alguma que poderia garantir, ao mesmo tempo, uma boa chance de recuperação e preservar minha função sexual?
2) Há algo que eu deva saber ou fazer antes de começar o tratamento que possa ajudar a preservar ao máximo minha função sexual?
3) Devo parar de fazer sexo e, em caso positivo, quando será possível voltar a ter relações?
Não se conforme com uma resposta do tipo: “isso agora não tem relevância, o importante é encarar o tratamento”. Quanto mais jovem for a paciente e melhor for o prognóstico, mais sentido terão essas perguntas. E há muitas outras como, por exemplo, o impacto da quimioterapia: ela vai interferir na função ovariana e provocar menopausa? De que forma isso vai prejudicar a vida sexual? Será possível se beneficiar de terapia de reposição hormonal para combater sintomas como ressecamento vaginal e falta de libido? Haverá chance de engravidar depois, ou de fazer um tratamento de fertilização? No caso de ser necessário fazer radioterapia na área genital, como prevenir efeitos colaterais que afetarão o sexo? Se houver a indicação de mastectomia, levante todos os detalhes referentes à reconstrução: quando poderá ser feita e seus riscos; se haverá perda de sensibilidade dos mamilos e dos seios. Parceiros e parceiras devem ser envolvidos em todo o processo, porque é comum que, depois de vencida a doença, os distúrbios sexuais sejam encarados como problemas psicológicos.