Esta é uma das áreas mais promissoras para investimentos porque 80% das decisões de compra dos produtos passam pelo crivo feminino Na mídia norte-americana, expressões como “menoculture” (cultura da menopausa) e “menotech” (tecnologia a serviço da menopausa) começaram a pipocar. O que isso quer dizer? Que o gigantesco mercado composto por mulheres entre a perimenopausa – os anos anteriores à derradeira menstruação – e a pós-menopausa está na berlinda. E não está sozinho, porque faz parte de um segmento ainda maior, em ebulição, conhecido como “femtech”, de empresas de tecnologia voltadas para o público feminino. Em artigo da consultoria Wunderman Thompson, Anu Duggal, fundadora do Female Founders Fund, que financia empreendedoras, afirmou: “esta é uma das áreas mais promissoras para investimentos, já que as mulheres controlam 80% das decisões de compra dos produtos da indústria de cuidados com a saúde, cujo volume total de negócios está na casa dos US$ 3.5 trilhões”.
Anu Duggal, fundadora do Female Founders Fund, que financia empreendedoras: “as mulheres controlam 80% das decisões de compra dos produtos da indústria de cuidados com a saúde”
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No primeiro semestre, a Fawcett Society, instituição britânica pelos direitos das mulheres, realizou uma pesquisa com trabalhadoras em Londres para entender melhor como os sintomas da menopausa e o comportamento dos empregadores afetam a carreira de quem está atravessando essa fase. De acordo com o Office for National Statistics, o equivalente ao IBGE do país, mulheres acima dos 50 anos representam 13% da mão de obra no país. Os resultados serão divulgados no fim do ano e o objetivo é que sirvam de parâmetro para que as companhias criem uma cultura mais acolhedora para suas colaboradoras.
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Numa de suas últimas edições, a revista “The Economist” publicou reportagem sobre o boom das “femtechs”, afirmando que tal mercado pode passar dos 22.5 bilhões de libras, referentes ao ano de 2020, para 65 bilhões, em 2027. Entretanto, ano passado as empresas focadas em resolver problemas do público feminino receberam apenas 3% de todo o investimento para tecnologia da saúde. Miopia da grossa, porque as mulheres são 75% mais propensas que os homens a adotar ferramentas digitais para cuidar da saúde.
Já escrevi sobre o tema: questões femininas têm sido negligenciadas porque a medicina e a ciência ainda privilegiam estudar os homens. Até chegarmos a esse momentum que, diga-se de passagem, ocorre principalmente por motivos mercadológicos, vivemos um longo histórico de ignorar as características que tornam nosso organismo bem diferente do masculino. Duas pesquisas recentes apontam para essa desigualdade: na primeira, uma revisão de 56 testes clínicos voltados para a Doença de Alzheimer, abrangendo quase 40 mil participantes, mostrou que apenas 12.5% dos artigos esmiuçavam a questão do gênero, embora dois terços dos pacientes com a enfermidade sejam mulheres. O segundo trabalho, publicado pela Academia Norte-americana de Neurologia, identificou que as mulheres estão sub-representadas nos testes clínicos de derrames. Hora de virar o jogo.