Segundo ele, há entre diversos agentes a percepção de “que o Brasil não pode crescer mais do que 2% de maneira sustentável” O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou hoje que “estamos na fase em que o mercado está questionando” a capacidade de crescimento da economia brasileira.
“Quanto você pode crescer? Qual pode ser o crescimento estrutural do Brasil?”, disse, em evento promovido pelo Bank of America.
Segundo ele, há entre diversos agentes a percepção de “que o Brasil não pode crescer mais do que 2% de maneira sustentável”.
De acordo com Campos, as projeções de crescimento estruturais são importantes porque, entre outros fatores, afetam os cenários fiscais traçados pelo mercado.
Sobre o quadro fiscal, Campos reforçou durante a sua apresentação a importância de separar “as melhoras de curto prazo” das perspectivas para prazos mais longos.
“O Brasil vai ter uma consolidação fiscal muito forte de 2020 para 2021”, disse, afirmando que há melhora tanto no estoque (dívida) quanto no fluxo (resultado primário).
Mais tarde, questionado sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios, o presidente disse que ela “não é um desvio [fiscal] tão grande”.
De acordo com ele, “os preços mudaram muito mais” do que o desvio fiscal da PEC sugere.
Campos reforçou a necessidade de resolver a questão. “Há um questionamento de qual arcabouço [fiscal] vai ficar”, disse, destacando também a importância das reformas.
Revisão de projeções
Campos Neto afirmou que a autoridade monetária “provavelmente” revisará para baixo a sua projeção de crescimento da economia.
“Vamos elaborar isso no Relatório Trimestral de Inflação, em duas semanas”, disse.
Mesmo assim, segundo ele, a combinação de desempenho da economia brasileira entre 2020, 2021 e 2022 mostra um quadro “melhor”.
A respeito da inflação para os consumidores, Campos disse que o Brasil é “um outlier”, embora mesmo assim ainda esteja “próximo de outros países”.
O presidente destacou que o Brasil teve “um enorme choque de alimentos e depois um choque de energia”. Também afirmou que “começamos a ver contaminação muito mais forte e ampla [da inflação] do que imaginávamos”.
“A inflação de 2021 teve um choque que não vimos em décadas”, disse.
Segundo ele, uma particularidade da conjuntura atual é que, além de a inflação interna estar pressionada, o Brasil também está “importando inflação” de outros países.
Ele disse que “começamos a ver desancoragem” das expectativas de inflação para os próximos anos, com a desancoragem de 2022 ”ganhando força nas últimas semanas”.
“O Banco Central tem sido transparente a respeito disso e de como temos agido”, afirmou.
A respeito da pandemia no Brasil, disse que o país “está mostrando números melhores”.
“Na margem extrema houve aumento da contaminação, mas os números estão bons”, disse.
Presidente do Banco Central Roberto Campos Neto
Raphael Ribeiro/BCB