Populações mais pobres contribuem muito pouco para as emissões de carbono, mas são hoje as mais afetadas pelas mudanças climática A desigualdade não é nenhuma novidade, especialmente no Brasil, onde poucos privilegiados possuem grande parte da riqueza enquanto a esmagadora maioria da população não tem nada. Nos últimos anos, porém, passamos a conhecer uma nova face da desigualdade: a climática. Trata-se de um conceito relativamente novo, mas que vem ganhando força nos debates relacionados à descarbonização da economia em todo o mundo.
Assim como na frente econômica, a desigualdade climática também divide a sociedade em castas, com efeitos colaterais tão perversos quanto. É sabido que os maiores poluidores são as grandes empresas e as pessoas de alto poder aquisitivo, que viajam de avião - muitas vezes próprio -, possuem carros potentes e hábitos de consumo extravagantes.
Por outro lado, as populações mais pobres, que têm baixo consumo, contribuem muito pouco para as emissões globais de carbono. Este grupo, no entanto, é hoje o mais impactado pelas mudanças climáticas, seja por deslizamentos em favelas, alagamentos nas periferias ou a seca que pode acabar com a renda de um agricultor familiar.
"As pessoas que menos contribuem para as mudanças climáticas são as que mais sofrem", afirma Daniel Contrucci, diretor-executivo da Climate Ventures, plataforma focada no fomento da economia regenerativa e de baixo carbono. "Essas populações muitas vezes nem sabem o que está acontecendo ou não relacionam aos problemas climáticos. É uma questnao difícil de se resolver, especialmente sob o ponto de vista de negócios."
De acordo com o executivo, o problema poderia ser minimizado por meio da utilização de recursos provenientes do fundo de US$ 100 bilhões por ano estabelecido pelo Acordo de Paris, pagos pelos países mais ricos às nações em desenvolvimento. O problema, segundo ele, é como fazer com que esse dinheiro chegue a quem, de fato, precisa - algo que ainda está longe de acontecer.
Outra alternativa, muito mais realista, passa pelo fomento à bioeconomia como estratégia de combate às mudanças climáticas. Esta é justamente a aposta da Climate Ventures, que busca em startups soluções disruptivas para os desafios climáticos e ajuda a conectar esses empreendedores a grandes empresas e fundos de investimentos, cada vez mais interessados em projetos de impacto socioeconômico.
"Nos últimos anos, tivemos perdas absurdas na agricultura, especialmente entre os pequenos produtores. Um novo modelo agroecológico, que agregue valor à produção e insira os agricultores familiares na cadeia, pode trazer dignidade, desenvolvimento, emprego e renda para essa população", explica Contrucci, idealizador do recém-lançado estudo A Onda Verde.
O trabalho lista algumas soluções possíveis, seus impactos sociais e a contribuição dessas ações para a redução das emissões. Entre as iniciativas apresentadas, destaque para os sistemas agroflorestais, consorciando culturas comerciais com espécies nativas, e o incentivo à integração lavoura-pecuária-floresta, que poderia contribuir para a regeneração de áreas com pastagens degradadas, além do investimento na certificação e rastreabilidade dos produtos florestais.
"São soluções baseadas na natureza, que aumentam a resiliência e poderiam contribuir para a inclusão de pequenos produtores na cadeia produtiva e reduzir o desmatamento, que impacta diretamente no clima. Mas para que tenha efeitos práticos é preciso capacitação e assistência técnica. Este é o grande desafio hoje e que, ao lado de parceiros, estamos tentando superar", completa o executivo