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"O preconceito contra o idoso é avassalador", diz médico especializado em perda de audição

Por Redação

23/12/2021 às 06:58:43 - Atualizado há
Justin Golub, professor da Universidade de Columbia, afirma que subestimar a surdez é negligência, porque ela está associada a quedas, depressão e declínio cognitivo Com essa terceira coluna, encerro minha cobertura do 2021 Century Summit, evento da Universidade de Stanford que aconteceu no começo do mês. A mobilização crescente em relação ao envelhecimento é promissora, mas não nos enganemos: estamos apenas arranhando a superfície da questão. É veemente o depoimento do médico Justin Golub, professor de cirurgia otorrinolaringológica na Universidade de Columbia, que investiga como a perda de audição que ocorre na velhice afeta o cérebro. Ele dirige um laboratório parcialmente financiado pelo National Institutes of Health (NIH), que reúne centros de pesquisa nos Estados Unidos, e dispara: “a perda de audição é um dos principais fatores de risco para o surgimento de demência, mas é modificável, isto é, pode ser evitada. No entanto, é aí que constatamos como o preconceito contra o idoso é avassalador. Basta ver a diferença do tratamento dado a uma criança e a um velho com problemas de audição. Enquanto todos se mobilizarão para buscar uma solução para a criança, os idosos, com frequência, serão informados de que a condição é "normal" nessa fase da vida. Trata-se de negligência, a surdez está associada a quedas, depressão e declínio cognitivo”.

Justin Golub, professor de cirurgia otorrinolaringológica na Universidade de Columbia, investiga como a perda de audição que ocorre na velhice afeta o cérebro

Columbia University

O depoimento do doutor Golub ilustra com precisão um dos três eixos de discussão do evento: “Repensando o cuidado” (“Rethinking care”), que deveria acompanhar os indivíduos do nascimento à morte. Os outros dois pilares do Century Summit foram “A compressão intergeracional” (“The intergenerational compact”) – já que assistimos, pela primeira vez na História da humanidade, a cinco gerações vivendo no planeta – e “Reinventando a segunda metade da vida” (“Reinventing the second half of life”). Laura Carstensen, diretora-fundadora do Stanford Center on Longevity e professora de psicologia na universidade, afirmou: “a longevidade depende de tudo o que foi semeado antes. Os primeiros anos são críticos, mas tudo no curso de vida é relevante. Os 30 anos de longevidade que ganhamos do século XX apontam para um novo mapa. Temos que ter mais tempo para estudar, em diferentes fases da vida, até porque o que aprendemos na universidade, aos 20 anos, não é suficiente para uma trajetória profissional que vai durar cinco, seis décadas. Temos que poder ficar um período sem trabalhar para cuidar dos filhos pequenos. Quem se dedica a uma atividade braçal deve ter a chance de se qualificar e, quando falo de aprendizado contínuo, não me refiro a voltar para os bancos escolares. Ele pode ser proporcionado pelos empregadores, ou acontecer em centros comunitários”.

Dez mil norte-americanos rompem a barreira dos 65 anos diariamente. Como lembrou a jornalista Paula Span, responsável pelas colunas “New old age” (“Nova velhice”) e “Generation Grandparent” (“Geração Avós”), no jornal “The New York Times”, o governo do presidente Joe Biden incluiu o cuidado no projeto orçamentário dedicado à infraestrutura, com status semelhante à construção de pontes e estradas, tal a sua importância para o funcionamento da economia. E cuidar significa garantir que o idoso não se torne invisível. Aos 87 anos, Pauline Boss, pioneira dos estudos sobre estresse familiar – e ela própria cuidadora do marido – sugeriu que as pessoas enxerguem a riqueza de seus entes queridos mais velhos: “eu, por exemplo, vivi a Segunda Guerra Mundial, a insegurança de uma época muito sombria, e aprendi a superar as adversidades. Idosos têm lições de resistência e perseverança. Por isso, visite, converse e grave as conversas com eles”.
Fonte: G1
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