A vacinação de crianças contra a Covid-19 no Brasil começou nesta sexta-feira (14) com a imunização do menino indígena de 8 anos, Davi Xavante, que mora no estado de São Paulo. A vacinação não será obrigatória, mas os pais que se recusarem a imunizar seus filhos podem ser multados ou até perder a guarda.
Desde a autorização para aplicar a vacina da Pfizer na faixa etária de 5 a 11 anos, muitas dúvidas surgiram na população. Afinal, o alastramento da variante ômicron representa um perigo maior nos mais jovens? A vacina nos menores é a mesma administrada nos adultos? É realmente necessário vacinar as crianças?
A reportagem compilou as principais dúvidas com as suas respectivas respostas desse novo ciclo de proteção contra a Covid-19.
Quais vacinas já foram aprovadas para crianças no Brasil?
Atualmente, a única vacina que pode ser aplicada em crianças de 5 a 11 anos no país é a da Pfizer. A autorização concedida pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) ocorreu em 16 de dezembro de 2021.
Outras farmacêuticas também buscam autorização para utilizar seus produtos nos pequenos. Um exemplo é a Coronavac, que será testada no Espírito Santo a partir dessa sexta (14) em pessoas de 3 a 17 anos de idade. No total, serão 1.280 participantes.
A vacina usada para crianças é a mesma administrada em adultos?
A vacina para os pequenos tem algumas diferenças. O primeiro ponto é a dosagem: para os maiores de 12 anos, a dose é de 0,3 ml, enquanto para os menores a dosagem é de 0,2 ml.
O tempo de armazenamento também muda. Enquanto para os mais velhos o imunizante pode ficar na geladeira entre 2ºC a 8ºC durante apenas um mês, para os pequenos são permitidas até dez semanas.
Além disso, o frasco da vacina das crianças comporta dez doses, mais do que a versão para maiores de 12 anos, que comporta seis doses.
Quais os riscos da vacinação dos menores?
Ainda não há indicativos de efeitos colaterais sérios da vacinação dos menores. Jamal Suleiman, infectologista do Hospital Emílio Ribas, afirma que o imunizante para essa faixa etária é seguro e necessário. "É uma vacina extremamente segura, com ocorrência de eventos adversos de somente 0,05% [em crianças a partir de cinco anos]", diz.
Dados do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças, em tradução do inglês) também indicaram que efeitos colaterais graves são raríssimos nesta faixa etária. Em um estudo, a agência avaliou relatórios recebidos de médicos e do público, assim como respostas a pesquisas com pais ou responsáveis por aproximadamente 43 mil crianças entre 5 e 11 anos.
A maioria das crianças relata somente dor no local da injeção, cansaço, dor de cabeça ou febre. Relatos de miocardite, uma inflamação do músculo cardíaco, foram registrados somente em 11 vacinados. Desses, sete crianças haviam se recuperado e quatro estavam se recuperando no momento do relatório, afirmou o CDC.
Por que é importante vacinar as crianças?
Ao contrário dos efeitos colaterais que são ínfimos, os benefícios de vacinar as crianças é bem maior, como a diminuição de casos graves e mortalidade dos pequenos.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) publicou na quinta passada (6) uma nota em que informava que pesquisas feitas até o momento apontam a eficácia e a segurança da vacina aplicada na população pediátrica. A entidade indicou, ainda, como os imunizantes são essenciais para evitar formas graves da Covid-19.
"A vacina previne a morte, a dor, sofrimento, emergências e internação em todas as faixas etárias. Negar este benefício às crianças sem evidências científicas sólidas, bem como desestimular a adesão dos pais e dos responsáveis à imunização dos seus filhos, é um ato lamentável e irresponsável, que, infelizmente, pode custar vidas", disse.
A publicação da nota ocorreu horas após o presidente Jair Bolsonaro (PL) atacar a vacinação infantil e pedir que pais não se deixem levar pelo que chamou de propaganda. O presidente afirmou que desconhece a morte de crianças por Covid-19, mas dados do Sistema de Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe) informam que foram registradas 301 mortes de crianças entre 5 e 11 anos por Covid-19 no país, de 2020, quando a pandemia teve início, até 6 de dezembro de 2021.
Quais os impactos da variante ômicron no caso das crianças?
A ômicron é uma cepa reconhecida por ser mais transmissível e fez os diagnósticos de Covid explodirem no Brasil nas últimas semanas.
Nessa situação de disseminação da nova cepa, a vacinação das crianças é ainda mais necessária, afirma Renato Grinbaum, membro da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).
"É necessário [a vacinação] porque as novas variantes estão se disseminando com uma maior intensidade nas populações não vacinadas, inclusive em crianças", diz.
Os Estados Unidos, por exemplo, já bateu recorde de crianças internadas com Covid em meio ao avanço da ômicron. Segundo informações do jornal Washington Post, 4.000 menores de idade estavam hospitalizados no último dia 5.
A variante também levou escolas a fechar no país, fazendo com que crianças retomassem o estudo direto de suas casas.
No Brasil, medidas de suspensão das aulas presenciais ainda não foram tomadas, mas isso já é discutido entre especialistas.
"Estamos vendo o que essa variante está causando em todo o mundo e em todos os setores, todos estão tendo que ser mais cautelosos. Embora a escola tenha se mostrado um ambiente seguro, ela não é uma ilha", disse, no começo deste ano, Vitor de Angelo, presidente do Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação).
O fechamento de escola pelo alastramento da ômicron pode trazer novamente problemas que já vêm sendo discutidos desde o início da pandemia, como as desigualdades no acesso à educação.
Como estão os planos para vacinar as crianças no país?
Para janeiro, estão estimados 4,3 milhões de doses, segundo informações do Ministério da Saúde.
A pasta recomenda um esquema em que a imunização comece por menores com comorbidade, deficiência permanente, indígenas e quilombolas. Em seguida, crianças que vivem com pessoas do considerado grupo de risco deveriam ser vacinadas. Logo após essas priorizações, deve haver um escalonamento por faixa etária, começando pelos mais velhos.
No entanto, alguns estados já indicaram que não vão seguir essas recomendações da pasta.
A Secretaria de Saúde de Goiás, por exemplo, afirmou por meio de nota que a vacinação se dará somente por ordem decrescente de idade, ou seja, iniciando com as crianças de 11 anos e sendo gradativamente reduzida. Esquema semelhante será adotado pelo Ceará.
Em São Paulo, a vacinação será iniciada pelas crianças com comorbidades. Para comprovar a condição, elas precisarão apresentar exames, receitas, relatório médico ou prescrição médica.
A Prefeitura do Rio de Janeiro também divulgou um calendário de vacinação das crianças que começa na próxima segunda. A campanha será dividida por sexo e tem início com as meninas de 11 anos até chegar aos meninos de 5 anos no dia 8 de fevereiro. Já no dia 9 haverá repescagem para quem perdeu a imunização.
Crianças abaixo de cinco anos já podem ser vacinadas?
No Brasil, nenhum produto foi aprovado para pessoas com menos de cinco anos. Segundo a presidente da Pfizer no Brasil, Marta Díez, a companhia pretende apresentar à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) o pedido de autorização de uso da vacina em crianças de 6 meses a 5 anos.
"Estamos preparando resultados para crianças de 6 meses a 5 anos. Esperamos para 2022, mas ainda não sabemos quando", afirmou.
Além disso, informações de um documento do Ministério da Saúde enviado ao STF (Supremo Tribunal Federal), indicava que a pasta prevê adquirir doses para crianças de 0 a 4 anos caso a vacina da Pfizer seja aprovada pela Anvisa.
No entanto, a imunização de crianças com menos de quatro anos contra a Covid já é realidade em alguns países. Os Emirados Árabes Unidos aprovaram o uso do imunizante Sinopharm para jovens de 3 a 17 anos. Cuba também já aplica a vacina produzida no próprio país em pessoas que tenham mais de dois anos.
Haverá necessidade da terceira dose da vacina em crianças?
As informações sobre aplicação de reforço em crianças ainda são pequenas. Segundo informações da Reuters, o FDA (Agência de Alimentos e Drogas dos Estados Unidos) autorizou, em 03 de janeiro deste ano, uma terceira dose para crianças de 5 a 11 anos que são imunossuprimidas.
A decisão foi tomada para fornecer uma melhor proteção contra as variantes delta e ômicron, afirmou Peter Marks, diretor do Centro de Avaliação e Pesquisa Biológica do FDA. Dados já indicam que uma dose de reforço é importante para uma imunização mais eficaz contra a ômicron.
No Brasil, está autorizado a dose de reforço somente para pessoas com mais de 18 anos e que tenham um intervalo mínimo de quatro meses a partir do esquema vacinal completo. A aplicação em outras faixas etárias ainda não foi anunciada.