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Alta de casos de covid leva hospitais a adiarem cirurgias e atendimento de paciente com câncer, diz Ludhmila Hajjar



Na Live do Valor, a médica da USP e do Incor disse que a situação nos hospitais públicos ainda deve ter piora O avanço dos casos de covid-19 no Brasil e a alta na demanda por atendimento médico voltaram a obrigar hospitais, principalmente os da rede pública, a adiarem cirurgias eletivas e atendimentos de pacientes com outras doenças. E a situação deve piorar nas próximas semanas em meio à atual fase de disseminação descontrolada da variante ômicron do coronavírus.

Esse é o quadro descrito pela médica Ludhmila Hajjar, cardiologista e intensivista, professora de cardiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora da cardio-oncologia InCor-ICESP. Ela tem se dedicado ao atendimento de pacientes com covid e à pesquisa sobre a doença.

“Nós estamos vendo já uma sobrecarga imensa na maior parte dos hospitais públicos”, afirmou ela, nesta quarta-feira (26), na “Live do Valor”.

A médica Ludhmila Hajjar, cardiologista e intensivista, professora de cardiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora da cardio-oncologia InCor-ICESP, durante Live do Valor desta quarta (26)

Reprodução

“O que a gente chama de colapso na saúde? É quando o sistema está tão pressionado para atendimento de uma determinada situação que o atendimento de outras doenças fica comprometido. E isso nós já estamos vivendo na rede pública brasileira, que, hoje, já está cancelando cirurgias eletivas, já está cancelando atendimento ambulatorial, já não consegue atender aos problemas crônicos do Brasil.”

E acrescenta: “Quando a gente cancela cirurgia, deixa de atender paciente cardiopata, deixa de atender paciente com câncer, significa que o sistema já está colapsado”.

Nesta quarta, 219.878 novos casos conhecidos de covid-19 foram registrados no país em 24 horas, segundo o levantamento do consórcio de veículos de imprensa feito junto às secretarias estaduais de Saúde. O total de infectados subiu para 24.553.950. A média móvel de diagnósticos nos últimos sete dias foi de 161.870 — a maior marca registrada até aqui e nono recorde seguido —, um avanço de 169% em relação aos casos registrados em 14 dias.

Hospitais privados têm mais elasticidade para abrir leitos e contratar mais médicos. A dificuldade maior é mesmo para hospitais públicos.

Hospitais sobrecarregados foram uma das marcas da pandemia no Brasil em 2020 e em 2021. Desta vez, apesar da pressão nas redes públicas, o cenário não é tão caótico como antes.

Ludhmila chamou atenção para o possível efeito da ômicron nas próximas semanas provocado pela não vacinação de uma parcela da população.

“Se nós considerarmos que temos ainda 25% a 30% da população brasileira ainda não vacinada com duas doses, que é a população de maior risco para complicações, nós, que já estamos vivendo dias difíceis, devemos viver mais dias difíceis no que se refere ao controle da saúde.”

Alguns especialistas estimam que entre o fim de janeiro e meados de fevereiro a curva de casos começaria a perder força. Ludhmila está menos otimista: fala em mais quatro ou seis semanas.

O que nesta fase faria diferença? Testagem em massa, isolamento dos contaminados e uma campanha para estimular logo a conclusão do esquema vacinal da dose de reforço, disse a médica. Mais: manter as máscara e não menosprezar a possibilidade que sintomas gripais possam ser covid também ajudariam na redução do ritmo das infecções. E fugir de aglomerações. “Não é o momento de festas de casamento, de encontros em bares e restaurantes”, disse ela.

“Muita gente pensa que a ômicron é leve, que é melhor pegar logo. Esse é um conceito inadequado. Essa doença é desconhecida e ela tem um comportamento completamente imprevisível. O ideal é não pegar.”

A médica, que no ano passado recusou o convite para ser ministra da Saúde, fez na live diversas críticas à conduta do governo federal na pandemia. “Hoje eles não podem imaginar quão negativo é todo esse movimento que eles têm feito [de resistência à vacinação, de desestímulo à máscara], esse negacionismo todo, quão negativo isso tem sido no que se refere ao combate a covid-19”, afirmou ela. “Quantos brasileiros deixaram de se vacinar, quantos estão deixando de levar os seus filhos para se vacinarem.” Ludhmila citou que há alta de casos de crianças nos EUA e no Brasil. “É uma doença que duas picadas no braço vai evitar a morte de uma criança, vai evitar o sofrimento de uma família.”

Sobre volta às aulas presenciais, ela partilha da visão dominante entre médicos: devem ser mantidas. Máscaras, distanciamento entre as crianças, cuidados de higiene são essenciais no retorno, disse ela. Mas a médica faz uma ressalva. “Uma pandemia tem aspectos dinâmicos que nós hoje não conseguimos prever. Vamos imaginar que em duas ou quatro semanas as contaminações continuem se elevando progressivamente. Aí nós podemos mudar de ideia [em relação às aulas presenciais] e retroceder. Isso faz parte do panorama de uma pandemia.”

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