Apresentador contratado pelo Spotify tem histórico de informações falsas - de vacinas a incêndios nos EUA - e de falas racistas e transfóbicas. Empresa mantém podcast no ar mesmo sob críticas. Joe Rogan
Divulgação / Spotify
Neil Young não é o único que quer distância de Joe Rogan. O Spotify começou a remover as músicas do músico canadense, que exigiu que a plataforma retirasse do ar um episódio de um podcast com mentiras sobre a Covid. Em caso contrário, ele preferia sair da plataforma - o que aconteceu.
Joe Rogan tem histórico de falas preconceituosas, com racismo e transfobia, e também de informações falsas - não só sobre as vacinas. Ele ganhou vários inimigos, mas também muitos fãs, e é extremamente popular nos EUA.
Joe Rogan, 54 anos, é comentarista de UFC, humorista e apresentador. O "The Joe Rogan Experience" é o podcast mais ouvido do Spotify, que tem os direitos do programa. Segundo o "Wall Street Journal", a empresa pagou mais de US$ 100 milhões pela exclusividade do podcast.
Desde que fechou contrato com Joe Rogan, o Spotify é alvo de críticas. A empresa sueca tenta contornar as controvérsias sem perder seu apresentador que atrai cerca de 11 milhões de ouvintes por episódio.
O site da revista "Variety" descobriu em 2021 que o Spotify, sem alarde, tirou do ar alguns dos episódios mais problemáticos, como a entrevista com um líder do grupo supremacista branco Proud Boys, que dizia que os muçulmanos não deveriam se misturar às pessoas de países ocidentais.
Veja algumas das mentiras e preconceitos de Joe Rogan:
Vacinas não são necessárias
A declaração que fez Neil Young sair do Spotify ecoa desinformação sobre vacinas contra a Covid. "Se você tem uns 21 anos e diz para mim: 'Será que eu devo me vacinar?'. Eu digo que não", Joe Rogan afirmou para seus milhões de ouvintes.
Ele disse que se uma pessoa estiver saudável não precisa tomar a vacina. A fala foi tão irresponsável que recebeu resposta de Anthony Fauci, que foi o principal cientista dos EUA no combate à Covid. "Isso está incorreto", ele cravou em uma participação no programa "Today".
Joe Rogan também já usou o programa várias vezes para defender medicamentos comprovadamente ineficazes contra a Covid.
Transfobia e racismo
Joe Rogan já teve diversas falas criticadas por pessoas trans e defensores dos direitos LGBTQIA+. Em 2013, por exemplo, ele disse sobre uma lutadora trans de UFC: "Ela se chama de mulher... mas eu discordo". Ele também já disse que ela era "um homem sem um pênis".
Ele também ofendeu as irmãs Kardashian e disse que talvez Caitlyn Jenner tivese "se transformado em uma pi*anha" por ter convivido com elas. Caitilyn respondeu ao site TMZ: "Ele é um homofóbico e transfóbico."
Outro tipo de ofensa repetida por Rogan é um termo racista contra pessoas negras - em um vídeo, ele pronuncia diversas vezes a "palavra com N". Outro vídeo mostra o apresentador comparando um bairro de pessoas negras ao filme "O Planeta dos Macacos".
Falsos incêndios
Em 2020, Rogan repassou aos seus milhões de ouvintes a informação falsa de que "ativistas" de esquerda teriam colocado fogo em florestas do Oregon e causado os enormes incêndios que devastavam a região na época.
Depois, ele se desculpou no Twitter, dizendo que "foi irresponsável de não conferir antes de repetir" a informação.
Graça de abuso sexual
Outro episódio muito criticado de Joe Rogan foi quando o comediante Joey Diaz foi ao seu programa e afirmou que forçava mulheres a fazerem sexo em troca de poderem se apresentar em um clube de comédia. Ele conta detalhes dos abusos enquanto Joe Rogan bate palmas e ri.
Neil Young durante apresentação em Washington em novembro de 2015
REUTERS/Joshua Roberts/Arquivo
Neil Young sai, Joe Rogan fica
Neil Young, que sobreviveu à pólio quando criança, publicou brevemente uma carta em seu site endereçada ao seu empresário e sua gravadora, Warner Music Group, exigindo que o Spotify não disponibilizasse mais suas músicas. A carta foi posteriormente apagada.
Em uma segunda publicação, o cantor afirmou que a plataforma "se tornou o lar de desinformação que coloca vidas em risco" e que tem "mentiras vendidas por dinheiro".
O Spotify se defendeu das acusações em declaração nesta quarta, na qual afirma que removeu mais de 20 mil episódios relacionados à Covid desde o começo da pandemia, mas que busca equilibrar a segurança dos ouvintes com a liberdade para criadores.
"Sentimos muito pela decisão de Neil em remover sua música do Spotify, mas esperamos recebê-lo de volta em breve."
Em seu site, Young afirmou que ficou sabendo do problema ao saber da união de centenas de cientistas, professores e especialistas em saúde pública em um pedido para que a plataforma retirasse do ar um episódio do podcast de Rogan. Nele, o apresentador conversava com imunologista que, segundo o grupo, divulgava "diversas mentiras sobre vacinas contra a Covid".