Geral Ciência e Saúde

"Precisamos de uma conferência mundial sobre a desigualdade na saúde", diz especialista

Por Redação

01/02/2022 às 07:26:23 - Atualizado há
Sir Michael Marmot, professor de epidemiologia na University College London, afirma que as condições sociais fazem as pessoas adoecerem e impactam na expectativa de vida No fim de janeiro, tive a oportunidade de assistir a um painel on-line sobre a desigualdade na saúde, problema que não afeta apenas os brasileiros. O principal palestrante foi Sir Michael Marmot, professor de epidemiologia na University College London desde 1985 e autor de “The health gap: the challenge of an unequal world” (numa tradução livre, “A desigualdade na saúde: o desafio de um mundo injusto”). Marmot é uma das maiores autoridades mundiais nas determinantes sociais que impactam a saúde dos indivíduos. “As condições sociais fazem as pessoas adoecerem. Em Londres, moradores dos bairros chiques, como Kensington e Chelsea, têm 16 anos além de expectativa de vida em comparação com os de regiões desfavorecidas. Em Baltimore, a expectativa dos mais pobres é de 62 anos; a dos ricos, 78 anos. Esse contingente carente tem renda equivalente à dos habitantes da Costa Rica, mas os cidadãos daquele país da América Central vivem 15 anos a mais do que os da cidade norte-americana que moram em áreas degradadas”, afirmou.

Sir Michael Marmot, professor de epidemiologia na University College London desde 1985 e autor de “The health gap: the challenge of an unequal world”

Divulgação: IMS/Uerj

Sobre a Grã-Bretanha, Sir Marmot, que também é diretor do Institute of Health Equity, disse que, entre 2010 e 2020, a expectativa de vida da população deixou de crescer – “o que nos diz muito sobre o que estamos fazendo como sociedade” –acrescentando: “as pessoas estão adoecendo e, quanto mais pobre a área, maior a redução dos investimentos. A pandemia do coronavírus expôs a desigualdade em toda a sua magnitude. O gradiente de mortes da Covid é social, ela golpeou fortemente as camadas humildes”.

Ele explicou que as determinantes sociais acompanham as pessoas desde o seu nascimento e moldam sua trajetória até o envelhecimento. Para mudar tal panorama, propôs uma ação em seis frentes: foco na saúde e desenvolvimento das crianças desde a primeira infância; investimento em educação e aprendizado contínuo; melhora nas condições de emprego; renda mínima; ambientes saudáveis e sustentáveis para viver e trabalhar; empenho na prevenção de fatores de risco em todas as fases da vida. “Não é verdade que os países não possam gastar mais. Todos aumentaram seu nível de endividamento e pioraram sua situação fiscal, mas deveriam gastar com o que importa. Assim como temos as COPs para tratar da questão climática, precisamos de uma conferência mundial sobre a desigualdade na saúde que, por sinal, anda de braços dados com a crise ambiental”, discorreu.

Jo Bibby, diretora de saúde da Health Foundation, chamou a atenção para a falta de consciência dos indivíduos sobre a dimensão da precariedade de sua existência. “Eles se sentem capazes por conseguir dar um jeito para sobreviver e não têm ideia de como estão à margem, de como vivem numa realidade de privações. Cria-se um clima de fatalidade, como se uma outra realidade não fosse possível”, analisou. A especialista reconheceu que os próprios serviços de assistência voltados para essa população utilizam uma linguagem de vitimização que, com frequência, afasta quem tem dificuldade de se identificar em tal situação. Afinal, quem está “se virando” não quer ser visto como um incapaz que precisa de auxílio. Sua posição foi endossada por Jabeer Butt, presidente Race Equality Foundation: “o discurso da vitimização afasta as pessoas, que não querem ser estigmatizadas”. Resumo da ópera: o raiz do mal está na desigualdade.
Fonte: G1
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