Em depoimento no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro nesta quarta-feira (9), durante audiência de instrução sobre a morte do filho Henry Borel, Monique Medeiros disse que Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho, a submetia a uma rotina de abusos e violências físicas e verbais, que teriam começado em novembro de 2020, pouco tempo depois de os dois começarem a se relacionar.
Monique diz ainda que teria sido obrigada por ele a bloquear homens nas redes sociais, a demitir o personal trainer e a apagar fotos de seu Instagram que eram consideradas inapropriadas pelo ex-vereador. "Fui percebendo um controle maior dele, mas eu achava que era ciúme. Como não tive isso no meu casamento, porque o Leniel não era ciumento, eu achava que aquilo era normal, algo sadio de um relacionamento", afirma ela.
"Ele dizia que eram conselhos que ele daria até para uma irmã dele e eu aceitava. Apagava uma foto aqui, bloqueava uma pessoa ali e demitia os profissionais masculinos que trabalhavam comigo", diz ela, acrescentando que Jairinho teria contratado uma pessoa para segui-la e monitorar seus movimentos.
Monique conta que estava na academia quando recebeu uma mensagem de Jairinho perguntando com que roupa ela tinha ido malhar. Ela conta que estava de bermuda, mas achou melhor falar que estava de calça. "Ele disse: 'É mentira. Eu coloquei uma pessoa para ir atrás de você e olha a foto que eu tenho'", diz ela.
Ela revela que, em outra ocasião, Jairinho jogou o controle remoto em seu rosto durante um acesso de raiva. A partir daí, a pedagoga diz que Jairinho teria começado a jogá-la contra o sofá, produzindo um hematoma em seu braço.
"Nisso, eu falei que ia embora, que não ficaria com ele me machucando. Ele pegou a chave do meu carro, escondeu minha bolsa, deu uma joelhada na parede e acabou deslocando o joelho. E ele gritava dizendo para eu ver o que eu tinha feito. Ele sempre tinha um motivo para me culpar de alguma coisa que eu fazia", diz ela, acrescentando que Jairinho alternava momentos de raiva e de afabilidade.
"Eu dizia: 'Jairinho, você precisa procurar um psiquiatra, tem que mudar sua medicação'", diz ela, explicando que Jairinho tomava remédios para dormir e antidepressivos.
Monique Medeiros depõe pela primeira vez na audiência de instrução sobre a morte do filho. Ela e o marido estão presos desde abril sob suspeita do homicídio da criança.
O Ministério Público argumenta que o ex-vereador, padrasto do menino, cometeu o crime por sadismo. Pela argumentação da Promotoria, ele tinha prazer em machucar o menino, enquanto Monique, mãe de Henry, tiraria vantagens financeiras da situação. A Promotoria denunciou os dois por homicídio qualificado.
Jairinho começou a depor às 11h17, mas a oitiva durou apenas dez minutos. O ex-vereador preferiu ficar em silêncio, argumentando que não teve acesso a documentos para conseguir prestar o depoimento. Ele disse que não viu, por exemplo, as imagens do IML (Instituto Médico-Legal) e das câmeras de segurança do hospital para o qual Henry foi levado.
"Eu estou me sentindo mal por não poder falar. Eu tenho muita vontade de falar, mas quero fazer isso com elementos para poder me defender."
Membro da equipe de defesa de Jairinho, o advogado Lúcio Adolfo falou que pretende colaborar com a Justiça para que o processo ocorra de forma célere. O defensor, porém, chegou a pedir à Justiça que a audiência fosse adiada, o que foi negado pela juíza Elizabeth Machado Louro.
"Eu pedi porque cheguei ao processo depois. Ele é volumoso e há um limite de provas importantes ainda a ser produzido. Nós estamos preocupados que se possibilite à juíza conhecer toda a extensão das provas, e não parte delas."
O advogado defendeu o goleiro Bruno, condenado a 20 anos e 9 meses pelo assassinato de Eliza Samudio, e entrou na defesa de Jairinho após os defensores do ex-vereador terem abandonado o processo em janeiro alegando motivos pessoais. Sonia de Fátima Moura, mãe de Samudio, é uma das pessoas que acompanham a audiência.