Uma ala classifica como legítimo o atendimento prioritário àqueles que dão suporte ao governo do presidente Jair Bolsonaro Integrantes da bancada evangélica estão divididos sobre eventuais reações ao esquema de favorecimento aos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura no Ministério da Educação. Enquanto um grupo pressiona para que o ministro Milton Ribeiro se pronuncie nas próximas 24 horas, outra ala classifica como legítimo o atendimento prioritário àqueles que dão suporte ao governo do presidente Jair Bolsonaro.
Segundo reportagens do jornal O Estado de S. Paulo, os pastores estão à frente de um gabinete paralelo dentro do MEC e participam de agendas de Ribeiro que definem prioridades da pasta e o uso de recursos destinados à área de educação no país. Os recursos são geridos pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão do MEC controlado por políticos do Centrão. Santos e Moura não têm vínculo com a administração pública.
A Folha de S.Paulo obteve áudio no qual Ribeiro admite, em reunião reservada, que o governo prioriza prefeituras cujos pedidos de liberação de verbas foram negociados pelos pastores. O ministro afirma que atende às demandas dos religiosos a pedido de Bolsonaro.
“Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar”, afirma Ribeiro em conversa com prefeitos e pastores.
Parlamentares da frente evangélica alinhados com Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), presidente da bancada, afirmaram ao Valor que o ministro já recebeu o recado de que precisa se pronunciar o mais rápido possível para que o escândalo não respingue sobre os religiosos.
Ainda que Ribeiro não seja uma indicação da bancada evangélica, há a preocupação de que a polêmica envolvendo os dois pastores, “que não têm representatividade no segmento”, afete a imagem do grupo.
“É inadmissível que esse escândalo siga sem resposta. Não vamos fechar os olhos para a existência de um gabinete paralelo dentro do MEC. O ministro tem que se pronunciar”, avaliou um parlamentar ligado a Sóstenes.
Uma ofensiva pela eventual saída de Ribeiro só ocorrerá caso as respostas que podem ser dadas pelo titular do MEC não sejam satisfatórias.
Procurado, o líder da frente parlamentar evangélica afirmou que se pronunciará apenas nesta quarta-feira.
Nos bastidores, um outro grupo, mais próximo de Cezinha de Madureira (PSD-RJ), ex-presidente da bancada evangélica, tenta minimizar o episódio.
Para essa ala, não há nada que comprometa Ribeiro ou que justifique uma pressão para que ele deixe o cargo.
A avaliação desse grupo é que o atendimento a pedidos feitos por pessoas que componham a base do governo formal ou informalmente Bolsonaro é “legítimo”.
Milton Ribeiro, ministro da Educação
CRISTIANO MARIZ/Agência O Globo