O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), sinalizou a aliados próximos que deverá ficar no partido e não se filiará ao PSD para levar adiante seu projeto de concorrer à Presidência da República. Segundo interlocutores de Leite, o governador tende a deixar o cargo nos próximos dias. Ele marcou uma entrevista na segunda-feira, na sede do governo gaúcho, para anunciar seu futuro político.
Ao ficar no PSDB, o governador pretende ficar à disposição do partido para eventualmente ser candidato à Presidência, em uma composição com o MDB e União Brasil. Atualmente, o PSDB já tem como pré-candidato o governador João Doria, que derrotou Leite nas prévias no ano passado. Mas parte do PSDB defende que Doria saia da disputa.
O governador gaúcho teria avaliado que sua eventual migração partidária para o PSD, legenda presidida por Gilberto Kassab, tem potencial para gerar mais prejuízos do que dividendos. No cálculo feito por Leite, segundo apurou a reportagem, a filiação ao PSD não contaria com apoio total da legenda, que hoje se mostra dividida entre lulistas e bolsonaristas.
Além disso, o resultado da última pesquisa de intenção de votos do Datafolha, divulgada na quinta-feira (24), não mostrou um cenário promissor para Leite. Ele tem apenas 1%, metade da intenção de votos de Doria. Mesmo assim, Leite só chega a 1% em um cenário político em que Doria não seja candidato a presidente.
Nas prévias, Doria venceu por 52,99% dos votos dos tucanos a 44,66% de Leite – o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio teve 1,35%. Para o gaúcho concorrer à Presidência pelo PSDB, dependeria da desistência de Doria.
Leite (ao centro) pretende ficar à disposição do PSDB para eventualmente ser candidato à Presidência, em composição com MDB e União Brasil
Guito Moreto/Agência O Globo
Adversário Doria no PSDB, o ex-senador José Aníbal (SP) defende que o partido troque o candidato à Presidência e lance Eduardo Leite. "Depois de muita exposição no governo paulista e nas prévias, Doria continua com baixa intenção de voto e alta rejeição. Isso preocupa muito as bancadas, porque uma boa eleição para a Câmara depende muito de um bom candidato à Presidência. E a rejeição de Doria só aumenta", disse.
Ex-presidente nacional do PSDB, Aníbal diz que não há problemas em o PSDB enfrentar um novo "trauma", com a saída de Doria e entrada de Leite. "O partido já enfrentou muitos traumas. Leite é o candidato que melhor representa a renovação, um governo de mudanças", afirma o ex-senador, que defendeu o gaúcho nas prévias. O deputado Aécio Neves (MG) é outro defensor da substituição de Doria por Leite.
A possibilidade de troca do candidato do PSDB é considerada “impossível” por um correligionário próximo do governador paulista. Ele garante que Doria se desincompatibilizará do cargo em 31 de março para seguir adiante com a oficialização de sua pré-candidatura presidencial.
Com a saída de Doria, o Estado de São Paulo ficará sob o comando de Rodrigo Garcia (PSDB), que busca vencer a disputa pelo Palácio dos Bandeirantes. Doria já anunciou que não tentará a reeleição e que não desistirá de sua pré-candidatura à Presidência.
Com a confirmação da candidatura presidencial de Doria, prevista para 31 de março, a expectativa em parte do PSDB é que o gaúcho se afaste da campanha do paulista. Resta saber se Leite resistirá à pressão de tucanos para concorrer à reeleição de seu Estado, em se confirmando a hipótese de ele se manter filiado ao PSDB.
Procurado pela reportagem, o governador do Rio Grande do Sul e o presidente do PSDB do Rio Grande do Sul, deputado Lucas Redecker, não responderam ao pedido de entrevista até a publicação desta nota.
Desempenho nas pesquisas
A pressão contra Doria no PSDB continua e foi reforçada depois da pesquisa Datafolha. Apesar da visibilidade nacional alcançada ao liderar a busca por vacinas contra covid-19 no país – com a Coronavac, do Instituto Butantan, dando partida na campanha nacional de imunização –, o tucano não conseguiu reverter isso em votos. O resultado do governador de São Paulo, de 2% das intenções de voto, é próximo do obtido pela pré-candidata do PSTU, Vera Lucia, na pesquisa com margem de erro de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceria a disputa com 43%, seguido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), com 26%. Em um patamar mais baixo, empatados, estão Sérgio Moro (Podemos), com 8%, e Ciro Gomes (PDT), com 6%, seguidos por Doria, com 2%, André Janones (Avante), com 2%. Vera Lucia (PSTU), Simone Tebet (MDB) e Frederico D'Ãvila (Novo) têm 1% cada.
Doria tem a terceira maior rejeição entre os pré-candidatos, com 33%. Bolsonaro é o mais rejeitado pelos eleitores (55%), seguido por Lula (37%). A rejeição de Leite é menos da metade do que a registrada por Doria, com 14%.
A pesquisa, que entrevistou presencialmente 2.556 pessoas, está registrada no Tribunal Superior Eleitora (TSE) sob o número BR-08967/2022. A margem de erro é de 2 pontos percentuais.
Com um cenário adverso para o PSDB na disputa presidencial, o presidente nacional do partido, Bruno Araújo, anunciou na segunda-feira (21) que a legenda, em conjunto com o União Brasil e MDB, devem definir um candidato único dos três partidos em junho.
Disputa em São Paulo
No mesmo dia em que Leite deve anunciar seu futuro político, o PSD marcou uma reunião na segunda-feira (28), na capital paulista, para definir a participação do partido nas eleições majoritárias em São Paulo.
O partido estuda lançar um candidato próprio ao governo paulista para concorrer contra o tucano Rodrigo Garcia. O nome mais cotado é do prefeito Felipe Ramuth, de São José dos Campos.