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Relembre 9 episódios de ministros trocados por Bolsonaro após escândalos

Por Redação

26/03/2022 às 08:41:44 - Atualizado há

Faltando uma semana para a dança das cadeiras na Esplanada dos Ministérios, em que ministros vão deixar os cargos para concorrer às eleições de outubro, o quarto ministro da Educação está na berlinda da demissão.

Milton Ribeiro, pastor evangélico, é um dos pivôs de um escândalo revelado ao longo desta semana pelos jornais EstadãoFolha de S. Paulo e O Globo, envolvendo liberação de recursos do Ministério da Educação (MEC) em favor de prefeitos próximos aos pastores Arilton Moura e Gilmar Santos. O trio forma o “gabinete paralelo” do MEC.

Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), os pastores não têm vínculo formal com o governo federal, e segundo denúncias de prefeitos, pediram propina em ouro e publicação de bíblias para destravar verbas do MEC para municípios. 

Além de terem trânsito livre em gabinetes do alto escalão do governo no Palácio do Planalto e em ministérios, a dupla é próxima de Milton Ribeiro. O ministro chegou a admitir, em áudio divulgado pela Folha de S. Paulo,  que prioriza demandas “dos amigos do Gilmar”, atendendo “pedido especial do presidente Bolsonaro”.

Com a escalada do escândalo, a demissão de Milton Ribeiro tem sido interpretada como certa pela ala política do governo federal, devido ao desgaste provocado para a campanha pela reeleição de Bolsonaro.

Diante da revelação do escândalo envolvendo o ministro da Educação Milton Ribeiro e dois pastores evangélicos, o presidente Jair Bolsonaro (PL) foi enfático na defesa

"O Milton, coisa rara de eu falar aqui, eu boto minha cara no fogo pelo Milton, minha cara toda no fogo pelo Milton. Estão fazendo uma covardia com ele", afirmou, durante a live desta quinta-feira (24), ao lado da ministra e evangélica Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), 

Bolsonaro também desabafou na live a pressão que tem recebido para trocar o ministro da Educação. "Agora tem gente que fica buzinando, faz chegar para mim: 'Manda o Milton embora, já tem um bom nome para botar aí'. Tem gente querendo botar alguém lá, mas não fala publicamente".

"Querem que eu bote lá, responsabilidade minha e se der problema, eu que indiquei e se não der, continua lá fazendo coisa errada. Ninguém vai indicar um cara e se expor de graça", reclamou.

No entanto, esse não é o primeiro escândalo nem a primeira crise que leva à derrocada de um ministro no governo Bolsonaro. Para se ter uma ideia, do total de 23 ministros que compõem o atual Executivo, somente nove se mantiveram no governo, assumindo diferentes pastas em alguns casos desde 2019.

São eles: Paulo Guedes (Economia), Onyx Lorenzoni (Trabalho e Previdência, Casa Civil, Secretaria-Geral da Presidência, Cidadania), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo, Casa Civil, Secretaria-Geral da Presidência), Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia), Tereza Cristina (Agricultura), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura) e Bento Albuquerque (Minas e Energia).

Outras trocas de ministros foram promovidas nos últimos três anos por questões políticas, como a aliança com partidos do grupo Centrão, sobretudo do PL e do PP, para firmar a base governista no Congresso Nacional.

Desde 2019, ocorreram nove episódios de ministros que foram demitidos como consequência de terem protagonizado crises e escândalos. No Ministério da Educação, isso ocorreu três vezes antes de Milton Ribeiro. Na Saúde, também foram três vezes. Outras ocorrências foram nos Ministérios do Meio Ambiente, das Relações Exteriores e da Defesa.

MEC foi comandado por olavistas e plagiador antes do pastor

Tendo como destaque a promoção de pautas de costumes e conservadoras na gestão da educação nacional, o Ministério da Educação já foi comandado por Ricardo Vélez Rodríguez, ex-seguidor do falecido guru da extrema-direita Olavo de Caravalho e professor emérito da Escola de Comando do Estado Maior do Exército.

Vélez Rodríguez foi demitido na primeira semana de abril de 2019, quando o governo completou 100 anos. A motivação de sua saída foi uma série de trocas promovidas pelo ex-ministro no alto escalão do MEC, além de publicação de documentos oficiais com erros e comentários polêmicos – ele, que é natural de Bogotá (Colômbia), disse que brasileiros são “canibais”, que revisaria livros didáticos sobre o período da ditadura militar e que a universidade não deveria ser para todos.

Em seu lugar, foi nomeado o ex-ministro e economista Abraham Weintraub. Ele permaneceu na função por 14 meses, até junho de 2020, quando pediu demissão.

Weintraub ficou marcado pelos erros de português cometidos em publicações pessoais e discursos, inquérito de crime por racismo, falhas na realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e uma fala controversa durante reunião ministerial de abril de 2020, na qual defendeu “prender os "vagabundos" do STF [Supremo Tribunal Federal]”.

Quase 15 dias depois da demissão de Weintraub, foi nomeado para o posto de ministro da Educação outro economista, o Carlos Alberto Decotelli, que não chegou a assumir o cargo por causa de um crescente mal-estar provocado por informações falsas e acusações de plágio no currículo. Assim como Weintraub, Decotelli tomou a iniciativa de pedir demissão e foi substituído por Milton Ribeiro.

Combate à pandemia do coronavírus motivou trocas de ministros da Saúde

Desde que as infecções pelo coronavírus alcançaram o status de pandemia, anunciada pela Organização Mundial da Saúde em março de 2020, o Ministério da Saúde ficou exposto a crises e denúncias envolvendo ministros.

A pasta foi comandada pelo médico e político Luiz Henrique Mandetta de 2019 até 16 de abril de 2020, quando a pandemia já havia ceifado 1,9 mil vidas brasileiras.

Sua demissão, decidida por Bolsonaro, foi motivada pela discordância dos posicionamentos de Mandetta e do presidente da República na condução das políticas de enfrentamento à Covid-19, entre as quais a adoção de medidas de proteção (distanciamento social e uso de máscaras).

Em seu lugar, assumiu o oncologista Nelson Teich, que pediu demissão em maio, antes de completar um mês no comando do Ministério da Saúde. O ex-ministro, que não explicitou os motivos da decisão, deixou o governo após discordâncias com Bolsonaro, que o pressionava a alterar protocolos do Sistema Único de Saúde (SUS) para liberar o uso de tratamento com remédios sem eficácia contra o coronavírus, como a cloroquina.  

Na sequência, assumiu a Saúde o general Eduardo Pazuello, que permaneceu no cargo de ministro até março de 2021. Sem experiência na área e admitindo até mesmo que não conhecia o SUS até então, Pazuello teve uma passagem no governo marcada pelo alinhamento com Bolsonaro – ele assinou nota técnica com orientações para o uso de cloroquina, por exemplo –, pela lentidão na compra de vacinas contra o coronavírus e estocagem de quase 7 milhões de testes sorológicos para detecção da Covid-19 em depósito em São Paulo.

A conduta de Pazuello diante da crise de abastecimento de oxigênio nos hospitais de Manaus (AM), além do aumento dramático de infecções, internações e mortes decorrentes da Covid-19, virou inquérito no STF.

Também foi na gestão de Pazuello que ocorreu o escândalo de corrupção envolvendo a compra da vacina indiana Covaxin, denunciada em junho de 2021 na CPI da Covid no Senado por Luis Ricardo Miranda, servidor público do Ministério da Saúde e irmão do deputado federal, ex-bolsonarista, Luis Cláudio Miranda (União Brasil-DF).

Após negar reiteradas vezes a gravidade da pandemia e agir contra as medidas de proteção, o general foi demitido. Assumiu, por fim, o médico Marcelo Queiroga, em fins de março de 2021.

Especializado em cardiologia, Queiroga tem se destacado pela atuação ambígua: em determinadas situações se aproxima e afaga o chefe do Executivo federal, adotando discurso negacionista e levantando suspeitas contra vacinas (sobretudo as do público infantil), e em outras circunstâncias segue as orientações científicas e defende uso de máscaras e reforço de vacinas contra o vírus.

Saiba outros três episódios de trocas de ministros motivadas por escândalos e crises

Além das substituições de ministros na Educação e na Saúde, outras três pastas passaram por mudanças de comando resultantes de crises e escândalos: Ministérios do Meio Ambiente, Relações Exteriores e Defesa.

Atualmente pré-candidato à Câmara dos Deputados por São Paulo, o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles protagonizou uma série de polêmicas que geraram crises na gestão ambiental do governo.

Um desses episódios ocorreu naquela reunião ministerial de abril de 2020, quando Salles sugeriu ao presidente da República que o governo aproveitasse a atenção da imprensa dedicada à cobertura da pandemia de Covid-19 para “ir passando a boiada” nas regras ambientais.

O estopim da crise, que de fato levou ao pedido de demissão do ex-ministro em junho de 2021 – segundo Bolsonaro, foi ele quem pediu para sair do governo – foi a denúncia, apresentada ao STF pelo ex-delegado da Polícia Federal Alexandre Saraiva, de envolvimento de Salles em contrabando de madeira da Amazônia.

O ex-ministro foi substituído por Joaquim Leite, que adota posicionamentos mais técnicos do que ideológicos e foi conselheiro da Sociedade Rural Brasileira (SRB), representante do setor agropecuário no país.

Outro ministério alvo de troca da chefia foi o das Relações Exteriores, que no início do governo era comandado por Ernesto Araújo. Ele se demitiu em março de 2021 em decorrência da pressão por sua saída, após recorrentes manifestações contra o governo chinês e organismos multilaterais, como como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas (ONU).

Dedicado seguidor de Olavo de Carvalho, Araújo qualificava as políticas dessas organizações como "globalismo", o qual ele dizia combater ao construir uma diplomacia alinhada unicamente com os Estados Unidos do ex-presidente Donald Trump, além de Arábia Saudita e Israel.

Em seu lugar, está desde então o chanceler Carlos França, que adota postura mais técnica, mas sem dispensar a defesa de Bolsonaro em temas sensíveis da política internacional – como o posicionamento do Brasil no conflito entre Rússia e Ucrânia, por exemplo.

Por fim, também em março de 2021, foi demitido o ministro da Defesa e general Fernando Azevedo e Silva, que recentemente desistiu de assumir cargo de diretoria no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). 

O general buscava desvincular as Forças Armadas, subordinadas à pasta, das políticas do governo, num período em que Bolsonaro fazia acenos à ruptura institucional.

O mandatário cobrou do ex-ministro mais demonstrações de adesão das Forças Armadas às posições do governo, e diante da negativa de Azevedo e Silva, exigiu que ele entregasse o cargo.

Para o comando da Defesa, foi nomeado Walter Braga Netto, general e terceiro militar a assumir o cargo desde a criação da pasta, em 1999.

Braga Netto é uma das opções colocadas na mesa para assumir o posto de vice-presidente na chapa pela reeleição de Bolsonaro, que não citou seu nome, mas sinalizou que seu vice seria um “mineiro de BH [Belo Horizonte]” que passou pelo colégio militar.

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Fonte: O TEMPO
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