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Planalto: Saiba quais votos são disputados por Bolsonaro, Lula e Ciro

Por Redação

02/04/2022 às 08:27:21 - Atualizado há

Dada a largada da corrida eleitoral, os pré-candidatos já estão se articulando para conquistar os votos dos chamados “grupos de interesse”, que são segmentos da sociedade determinantes para o resultado das urnas. 

Segundo analistas consultados pela reportagem de O TEMPO, os grupos de interesse de maior destaque para a disputa de 2022 são: evangélicos, nordestinos, empresários e mulheres. 

Olhando para o primeiro grupo, dos evangélicos, quem ainda lidera nesse segmento é o presidente Jair Bolsonaro (PL), de acordo com as mais recentes pesquisas de intenção de votos. 

Tentando consolidar esse apoio e atento à tendência de migração de eleitores evangélicos para outros candidatos, o chefe do Executivo federal chegou a reunir, em evento pomposo no Palácio da Alvorada no início de março, lideranças de diferentes congregações evangélicas. 

“Essa preferência política dos evangélicos tem sido levada em conta por outros partidos que estão compreendendo que esse vínculo com o bolsonarismo não é automático, por isso estão começando a tentar se aproximar desse grupo”, ressalta Graziella Testa, professora da Escola de Políticas Públicas e Governo da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

“Os evangélicos são um grupo que tradicionalmente apoia maciçamente Jair Bolsonaro, sobretudo os homens dessa religião. As mulheres evangélicas não o apoiam de modo relevante, pelo que já foi possível observar em pesquisas de opinião”, acrescenta.

Na perspectiva de Testa, os outros dois líderes da corrida eleitoral, ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT), estão se movimentado para conquistar os evangélicos.

“Lula e Ciro estão fazendo um primeiro movimento de aproximação com os evangélicos. Não só o Lula, mas o PT está com uma estratégia para buscar os evangélicos. Por outro lado, se for fazer um movimento de base, vai ser mais lento para surtir em impactos já para essas eleições. Mas certamente vai ter um aceno, vamos enxergar nos programas eleitorais gratuitos os candidatos se referindo e usando o linguajar típico do grupo evangélico”, prevê a especialista.

Segundo o cientista político Nauê de Azevedo, o presidente da República continua focado no eleitorado masculino, conservador e antipetista. 

"O Bolsonaro tem ido bastante nos evangélicos, nos homens e empresários mais conservadores. Suas falas são direcionadas para esses grupos, que ele tenta atrair por meio das pautas conservadoras e do antipetismo”, observa.

"Por sua vez, o PT vem fazendo um malabarismo porque vem tentando atrair um público mais de centro-esquerda, centristas e avança, de leve, na centro-direita, na direita democrática. Além de buscar manter o público eleitor que já possui, o PT quer ganhar mais votos, pois o perigo é que tenha chegado ao topo das intenções de votos, o que é ruim atualmente por deixar espaço para que ele perca votos”, nota o cientista político, que também é advogado e sócio do escritório Pinheiro de Azevedo Advocacia.

Nordestinos são determinantes para eleição e composição do Congresso Nacional

Quanto aos votos dos nordestinos, Bolsonaro tem buscado se destacar de Lula e Ciro, que são nordestinos e têm tido mais adesão na região. O presidente tem aproveitado entregas de ministros nordestinos, especialmente de Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) e Fábio Faria (Comunicações), para atrair os eleitores da região.

“O Nordeste tradicionalmente apoia em peso o PT. Certamente o eleitor nordestino vai ter um peso importante e estará no foco dessas eleições. Parlamentares da região também serão importantes na construção de uma coalizão para o próximo governo, seja quem for eleito”, avalia Testa.

Com relação aos empresários, Testa considera que são um grupo relevante para as eleições, embora o financiamento de campanha por empresas não seja mais permitido. 

No entanto, os presidenciáveis disputam a confiança dessa parcela da sociedade, indispensável para o equilíbrio econômico do país, e ao mesmo tempo tentam sinalizar que vão solucionar a crise que tem empobrecido uma parcela considerável da população.

“A pauta econômica é muito séria, não só para os empresários, porque se materializa de modo diferente nas populações de baixa renda, com desemprego, alta da inflação que aumenta os preços dos bens de consumo, entre outras questões”, reforça Testa. 

Eleitorado feminino está em destaque em 2022

Sobre o eleitorado feminino, a cientista política nota que este é um grupo relevante e em destaque nas eleições deste ano, especialmente porque uma parte da agenda de costumes do presidente Jair Bolsonaro afetou direitos ligados às mulheres, como o combate à violência de gênero e espaços de acolhimento para mulheres em situação de violência, por exemplo.

“Esse eleitorado não é unívoco, pois é muito grande e cria tendências, principalmente de rejeição. Por conta da trajetória política e do que Bolsonaro representa, ele está descolado e distante do eleitorado feminino. Mas ele vai fazer um movimento para se aproximar das mulheres”, observa Testa.

Para a especialista, Lula e Ciro também estão disputando a atenção e confiança do eleitorado feminino, tentando se firmar como representantes das mulheres. Na avaliação dela, depois de Bolsonaro, Ciro é o que tem tido mais dificuldade nesse sentido. 

"Ciro já faz um trabalho há algum tempo para inserir as mulheres de forma mais orgânica no PDT. Mas é focalizado no município de São Paulo, mas sofreu uma grande baixa com os episódios envolvendo a deputada Tábata Amaral e aquela contenda entre eles. Ciro ainda precisa convencer que é um aliado das pautas femininas. A imagem de Ciro, que por vezes é grosseiro, é complicada de ser ligada a uma pauta feminina", considera Testa.

"Esse promete ser o primeiro ano em que todo candidato e candidata terão necessariamente que fazer propostas para as mulheres, pois há uma tendência crescente de despertar político da sociedade de que as mulheres vêm sendo excluídas do processo de decisão e isso passou a incomodar, já não era sem tempo”, reforça Azevedo.

Presidenciáveis ainda estão protocolares nas redes sociais

Avaliando as estratégias de campanha nas redes sociais de Bolsonaro, Lula e Ciro, Maria Carolina Lopes, especialista em Democracia e Comunicação Digital e doutoranda em Comunicação na Universidade Pompeu Fabra, na Espanha, nota que somente Ciro tem conseguido fazer algo menos institucional.

"Bolsonaro e Lula não estão saindo do institucional, eles não têm uma estratégia digital, estão apenas divulgando a agenda política deles. Chama atenção que o Ciro Gomes divulgou um encontro com o movimento negro que me parece proposital para gerar um vídeo e aí há uma estratégia digital”, ressalta a especialista.

Para Lopes, os dois primeiros na corrida ao Planalto estão ainda numa campanha protocolar, o que demonstra uma estratégia política, mas não digital. “É interessante porque eles estão relatando para a sociedade com quem estão se encontrando politicamente, mas isso não é tudo na comunicação. Ainda falta falar para as pessoas com uma linguagem da internet”, nota a cientista política. 

“No geral, os pré-candidatos precisam relatar essas agendas, são grupos que vão fazer diferença na eleição, por isso estão divulgando. Mas não vão além, com exceção do Ciro, que está adotando uma estratégia mais publicitária e digital. Lula e Bolsonaro parecem mais preguiçosos até o momento”, conclui Lopes.

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Fonte: O TEMPO
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