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Empresas precisam ser 'ESG raíz'



Mudança de mentalidade das lideranças é essencial para empresas mudarem seu papel na sociedade e fugirem do greenwashing “Nada é mais poderoso que uma ideia cujo tempo chegou.” - VICTOR HUGO (1802-1885)

Angela Donaggio

Divulgação

Análises do termo “ESG” ou “ASG” no google trends mostram que o interesse no Brasil sobre o tema permaneceu baixo e estável até 2019, começando a disparar de 2020 até agora. O mais curioso é verificar qual o maior interesse sobre o termo: “O que é ESG?”

Embora o acrônimo seja muito comentado, esse resultado corrobora com a pesquisa da CNI na qual 72% dos executivos ouvidos admitem a sua pouca (ou nenhuma) familiaridade com a sigla.

ESG resume três palavras: Environmental, Social and Governance Practices – isto é, práticas Ambientais, Sociais e de Governança Corporativa de uma organização (ou ASG, em português). Se são só três letras, não deveria ser muito complicado, mas ESG serve para falar tanto de práticas de gestão, quanto de critérios para investimento ou características de um produto.

Tudo isso é importante. Mas, acima de tudo, ESG se refere a uma mudança de mentalidade sobre o papel da empresa e sua forma de operar na sociedade – algo que vem ganhando força em função das imensas transformações tecnológicas que estamos passando, e das crises climáticas e sociais que se avizinham.

Há três maneiras de compreender as práticas “ESG”. A primeira resume ESG como sendo simplesmente a divulgação de informações sobre os recursos naturais consumidos na geração de um produto, divulgados em sua etiqueta. Essa abordagem não considera reflexões sobre o propósito do produto em si, seu processo produtivo e externalidades.

Não corroboro com essa abordagem. Se fosse assim, qualquer empresa ou produto poderia ser classificado como ESG – mesmo as que produzem itens altamente poluentes ou viciantes. Se fosse assim, os gravíssimos problemas atuais e futuros decorrentes da crise climática e social estariam resolvidos com um passe de mágica... É preciso mais do que greenwashing para superarmos os desafios reais que temos pela frente.

Uma segunda forma de compreender “ESG” é considerá-lo um conjunto de indicadores que, por sua vez, possibilitam investidores compararem as práticas e os resultados de desempenho de diferentes empresas. Atualmente existem diversos indicadores de ESG (e tentativas de padronização).

É claro que é importante ter indicadores, pois muitas vezes o que não é medido acaba não sendo visto como importante. Ao mesmo tempo, ESG é muito mais do que um punhado de números organizados em indicadores. Temos que ter muito cuidado com eles, pois como diria Goodhart: “quando uma medida se torna uma meta, ela deixa de ser uma boa medida”.

Uma terceira forma de compreender o termo ESG é entendê-lo como algo mais abrangente e parte intrínseca da maneira como as empresas atuam. Trata-se de uma diferente abordagem em relação à função das empresas, fruto de reflexão genuína das lideranças sobre seu papel na sociedade e sobre o conceito de sucesso empresarial.

ESG é muito mais do que um punhado de números organizados em indicadores.

Essa diferente abordagem vai de encontro ao dogma: ou se gera lucro ou se atende à função social. Essa é uma falsa dicotomia, pois não é apenas possível – mas cada vez mais imprescindível – gerar lucro ao mesmo tempo em que se gera um impacto positivo na sociedade.

Na realidade, ser “ESG-Raiz” aumentará as chances de uma empresa gerar lucro por mais tempo, já que ela será mais sustentável para todos os seus públicos: de acionistas a empregados, de clientes a fornecedores, da comunidade ao meio ambiente.

Uma mentalidade ESG exige parar de pensar que uma empresa é uma mera máquina, na qual se inserem diversos tipos de recursos em uma ponta (matéria-prima, recursos humanos etc.) para sair dinheiro na outra. Claro que o lucro é fundamental para a existência e perenidade das empresas, mas ele deve ser visto como consequência de inúmeras relações positivas da empresa com seus diversos stakeholders.

Por fim, empresas são organizações humanas, sistemas complexos – não máquinas – e uma abordagem ESG é justamente a forma de buscar sua perenidade por meio do desenvolvimento de relações “ganha-ganha” com todos os stakeholders e não relações de “soma zero”.

Práticas ESG são resultado de uma transformação profunda de paradigma empresarial por meio de reflexões de cunho Ético, pois envolvem a qualidade das relações que as empresas desenvolvem com seus diversos públicos e dos valores que ela pratica, no dia a dia, em todas as suas decisões de negócio.

Como criar empresas “ESG-Raiz”?

Tudo começa com as lideranças, pois são a pedra angular da mudança de mentalidade, da cultura e das práticas. São as lideranças que investem na criação de um ambiente emocionalmente positivo, psicologicamente seguro e que estimulam a cooperação, a autonomia e o empoderamento. São elas que estabelecem metas e indicadores de desempenho (multidimensionais) coerentes com seus valores. São elas que demonstram – por meio de seus exemplos diários (“walk the talk”) – quais são os valores da empresa a serem promovidos.

Assim, para termos empresas “ESG” temos que ter novas formas de liderar, decidir e premiar dentro das organizações, resultado de uma transformação profunda de paradigma empresarial por meio de reflexões de cunho Ético.

Essas reflexões éticas permitem às lideranças identificarem os impactos das atividades empresariais e de suas decisões em cada parte interessada e estabelecerem quais os valores inegociáveis na tomada de decisão. A boa notícia é que, mesmo em meio a tanto greenwashing, os casos de empresas com práticas genuínas ESG mostram que função social não se contrapõe ao lucro. Muito pelo contrário!

Sobre a autora:

Angela Donaggio e fundadora da Virtuous Company consultoria e atua com ESG, Ética e Diversidade desde 2004. E mestre pela Fundação Getulio Vargas, doutora pela Universidade de São Paulo e visiting researcher & scholar em Harvard e Cornell (EUA). Professora nos cursos para conselheiros de administração do IBGC e da Fundação Dom Cabral, e nos cursos executivos da FGV, FIA e PUC-SP. Autora do livro “Governança Corporativa e Novo Mercado” (Saraiva, 2012) e coautora do livro “ESG: O Cisne Verde e o Capitalismo de Stakeholder”, além de documentos referência em ESG no Brasil e no mundo, dentre eles: “Women in Business Leadership Boost ESG Performance” (IFC, 2019) e “Agenda Positiva de Governança” (IBGC, 2020).

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