Com o setor aéreo enfrentando desafios novos antes mesmo de a pandemia acabar, as empresas da América Latina precisam de apoio dos governos para conseguir elevar a competitividade do segmento e, assim, ampliar a malha aérea, disse Peter Cerdá, vice-presidente regional da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês) para as Américas.
Para além da covid-19, há um novo revés com a alta do petróleo em consequência da guerra na Ucrânia, que deixa a América Latina em posição ainda mais frágil, segundo Cerdá.
“Não queremos que governos nos deem dinheiro. Queremos a redução das taxas sobre os combustíveis e taxas sobre passageiros para termos mais competitividade, e abertura de mercado aos turistas”, disse Cerdá.
Uma ajuda financeira governamental às companhias aéreas da região não chegou nem durante o ápice da pandemia e seria difícil esperar algo diferente agora. Na contramão dos pleitos do setor, Cerdá disse que embora o mercado ainda esteja com uma demanda bastante enfraquecida, muitos países começaram a elevar taxas sobre o transporte aéreo, como as tarifas aeroportuárias.
Uma das principais pautas do setor hoje é convencer os países a reabrirem suas fronteiras neste momento em que a pandemia tem perdido força. Houve progresso, disse Cerdá, mas alguns países mantém barreiras, como a Argentina (que embora não tenha barreiras sanitárias, tem uma política para desestimular viagens internacionais e assim conter a alta do dólar) e o Chile.
No caso do Chile, membros do governo sinalizaram uma revisão nas medidas de controle de fronteiras. O país foi muito criticado pelo setor aéreo pelas exigências para viagens, como a validação prévia por parte do governo chileno dos certificados de vacinação de outros países (sem este documento, que pode levar até 10 dias para sair, o passageiro é impedido de embarcar no avião).
“O Chile está demorando muito para fazer o que os outros países já fizeram. Espero que eles removam todas as restrições a passageiros vacinados”, disse. Ainda não está claro o que o governo vai fazer nesta linha. Como medida geral, o Chile vai liberar o uso de máscara em locais fechados a partir do dia 14 — em Santiago, entretanto, é comum ver pessoas burlando essa regra, que já caiu em países da Europa e também no Brasil.
O vice-presidente da Iata disse ainda que a América Latina tende a ficar mais vulnerável diante da disparada do petróleo. Isso porque os países já têm taxas elevadas sobre os combustíveis. No caso do Brasil, o querosene de aviação já representa cerca de 50% dos custos das empresas — contra cerca de 35% antes.
“No Brasil, o combustível é taxado como uma commodity importada em um país que a produz”, disse Cerdá. A América Latina é muito mais dependente do modal aéreo do que Estados Unidos e Europa, segundo ele. A queda na oferta de voos diante do aumento de custos pode dificultar a mobilidade entre determinadas áreas.
A pressão dos combustíveis chega em um ano em que o setor já estava prevendo perdas. Estimativa feita pela Iata em dezembro, antes do conflito no leste europeu, apontava que as companhias aéreas da América Latina e Caribe fechariam 2022 com prejuízo de US$ 3,7 bilhões. Globalmente, a estimativa era de perdas de US$ 11,6 bilhões — a única região que teria lucro é a América do Norte, com US$ 9,9 bilhões.
*O jornalista viajou a convite da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata)