Desfiles na Marquês de Sapucaí têm impacto econômico em diversos setores da cidade Segundo dados da Riotur, em 2020 o carnaval movimentou R$ 4 bilhões na economia carioca. Getty ImagesAbram alas para o carnaval. Depois de dois anos sem assistir aos desfiles das escolas de samba na Marquês de Sapucaí, o Rio de Janeiro vai conferir o retorno da maior festa popular do mundo enquanto vê a retomada de sua economia acontecer. Os impactos da folia na cidade causam efeito determinante em diversos setores do município. Hotéis, turismo, bares e restaurantes, comércio e eventos são os principais grupos a receberem esses ganhos. Segundo dados da Riotur, em 2020 o carnaval movimentou R$ 4 bilhões na economia carioca. Os dias de festejo também garantem o emprego de muitas pessoas. De acordo com a publicação Carnaval de Dados, da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação (SMDEIS) em parceria com a Fundação João Goulart, 45 mil pessoas trabalham durante o evento, considerando desfiles na Avenida e os blocos de rua. Só no Sambódromo, 20 mil pessoas estão envolvidas em atividades que vão desde imprensa e prestação de serviços até os servidores públicos que atuam na Riotur, Comlurb, Guarda Municipal, CET-Rio e Rio Luz. Ainda de acordo com o mesmo estudo, nos últimos dez anos, o mês do carnaval foi o período com a maior arrecadação de impostos municipais (ISS). - Conhecemos o carnaval do Rio, com os blocos de rua e os desfiles das Escolas de Samba, como o maior espetáculo da terra. No entanto, além da sua importância cultural e histórica, a celebração tem uma forte vertente econômica. Depois de um longo período de pandemia, nesse ano o carnaval certamente será um grande influenciador para a retomada econômica do Rio - afirma Rodrigo Stallone, CEO da Invest.Rio, a agência de promoção e atração de investimentos da prefeitura da cidade do Rio de Janeiro.Contagem regressivaNos barracões, as escolas fazem os últimos ajustes. Depois das dificuldades de recursos impostas pela pandemia do novo coronavírus, é hora de botar o espetáculo na rua. Na São Clemente, o período de isolamento social foi complicado. - Durante o tempo em que ficamos parados, foi bem difícil. Todos os funcionários dependem muito do carnaval. Eles estavam apertados e a escola também. Com a vacinação, fomos voltando aos poucos, seguindo rigorosamente os protocolos sanitários. Foi difícil fazer o carnaval também por conta da falta de material. Nenhuma loja tinha estoque, porque não sabia como seria – lembra Thiago Gomes, diretor de carnaval da escola. A agremiação vai levar para a Sapucaí o enredo “Minha vida é uma peça!”, que homenageia o ator e humorista Paulo Gustavo, que morreu vítima de Covid-19 em maio de 2021. Para Thiago, o desfile vai oferecer, nas palavras dele, uma “emoção boa. Nada de tristeza”. - Todo mundo que gosta de carnaval vai chegar com sede de Avenida. Vai ser uma emoção dupla, por causa do Paulo. Fizemos um espetáculo à altura dele. A prova disso é que a família dele foi no barracão e se emocionou. E emocionou a gente também. Depois de passar por tudo isso, nada melhor do que injetar alegria. Vai ser um desfile divertido e irreverente. Vamos fazer tudo como seu mestre mandou – diz o diretor da amarelo e preto. As consequências da pandemia atingiram também o barracão e a quadra da Imperatriz Leopoldinense. O projeto social da escola logo se organizou para distribuir cestas básicas para os profissionais e a comunidade. O retorno aos trabalhos aconteceu aos poucos e trouxe novos cenários. - Esse é um carnaval de adaptação. Primeiro, fizemos algumas lives, com pessoas testadas e grupos pequenos. Escolhemos nosso samba-enredo dentro de um estúdio. Foi uma coisa muito mais fria, mas tivemos uma projeção nacional – avalia André Bonatte, diretor cultural da Imperatriz. A agremiação de Ramos, na Zona Norte do Rio, vai levar para a Avenida o enredo “Meninos eu vivi... Onde canta o sabiá, Onde cantam Dalva & Lamartine", que conta a história de Arlindo Rodrigues, carnavalesco responsável pelo primeiro campeonato da escola, em 1980. - Contar a história dele é contar a história do próprio carnaval carioca. Ele participou da revolução salgueirense, botou o negro vestido de Zumbi, de Xica da Silva. Isso passa pelo reconhecimento da negritude. E chega na Imperatriz na sua maturidade artística – conta o diretor. Ansioso pelo desfile, André lembra que a escola tem uma grande responsabilidade: é a primeira entre todas a desfilar. - As escolas estão com o clima de celebração da vida. Nunca vi os componentes com tanta garra quanto vi nos nossos ensaios. A quadra abraçou muito o carnaval. Queremos ser campeões, mas vamos promover a maior abertura de carnaval de todos os tempos – promete ele.
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