A Delegacia de Defesa da Mulher de Barueri (Grande SP) indiciou e pediu a prisão preventiva do empresário Saul Klein, 68. A informação foi confirmada pela polícia e pela defesa.
O caso corre em segredo de Justiça. Segundo o portal UOL, Klein, filho de Samuel Klein (1923-2014), fundador das Casas Bahia, foi indiciado nesta quinta-feira (28) pela delegada Priscila Camargo, titular da DDM de Barueri, pelos crimes de organização criminosa, trabalho análogo à escravidão, tráfico de pessoas, estupro, estupro de vulnerável, casa de prostituição, favorecimento à prostituição e falsificação de documento público.
A delegada ainda indiciou e pediu a prisão preventiva de outras nove pessoas. O caso foi levado para o Ministério Público e as detenções só podem ocorrer após autorização da Justiça.
Em investigação que corre desde 2020, Klein é acusado de estupro e aliciamento por 14 mulheres.
Elas acusam o empresário de aliciá-las e estuprá-las em festas que reuniam dezenas de garotas em sua casa, em Alphaville, desde 2008.
Às vésperas do Natal de 2020, ele teve, inclusive, de entregar seu passaporte à Justiça e foi proibido de ter contado com as 14 mulheres.
Em nota, o advogado André Boiani e Azevedo disse, nesta sexta (29), que Saul Klein reafirma que nunca cometeu crime algum. "O indiciamento divulgado ontem [quinta] e o pedido de prisão são atos discricionários da autoridade policial que não vinculam os demais atores processuais", afirma a defesa.
"Saul e sua defesa técnica respeitam o posicionamento da delegada titular da Delegacia de Defesa da Mulher de Barueri mas entendem que a análise atenta e isenta dos elementos colhidos na investigação levará o Ministério Público e o Judiciário a concluírem por sua inocência", afirmou trecho da nota.
Em dezembro de 2020, quando o empresário teve de entregar seu passaporte à Justiça, o advogado Azevedo disse que seu cliente contratava uma agência que lhe trazia sugar babies (como são chamadas as garotas que se dispõem a serem bancadas pelos daddies) e que ele mantém diversos relacionamentos simultaneamente.
"Ele era o 'daddy' de todos os 'daddies', do qual todas as 'babies' gostariam de ser 'babies'", disse Azevedo à coluna Mônica Bergamo, na época.
Azevedo afirmou, também em dezembro de 2020, que os ataques têm por objetivo chantageá-lo e achacá-lo desde 2019, quando Klein parou de adquirir o serviço da empresa que lhe apresentava as mulheres, por desconfiar que os seus proprietários estavam tentando extorqui-lo.
Os relatos das 14 vítimas foram feitos à Ouvidoria da Mulher do Conselho Nacional do Ministério Público, que encaminhou o conteúdo ao Ministério Público de SP (MPSP).
A decisão judicial elenca informações apresentadas pelo MPSP baseadas nos testemunhos das supostas vítimas.
"Segundo constou do requerimento, todas as mulheres acima foram vítimas de aliciamento sexual", aponta o despacho da Justiça citando informações elencadas pela promotoria. "Eram procuradas por aliciadores em redes sociais e outros canais, informadas falsamente de que havia interesse na contratação delas por parte de uma empresa e conduzidas a uma apresentação, a título de teste, para o requerido Saul."
"Os testes eram feitos em um flat e elas tinham que usar biquínis ou roupa íntima. Elas eram convencidas de que, se satisfizessem a lascívia do requerido Saul, poderiam ser contratadas para eventos na 'mansão' de Alphaville, quando então receberiam de mil a três mil reais, ou numa casa de campo dele em Boituva", segue a narrativa.
"Nesses eventos, que podiam contar com 15 a 30 moças, elas tinham que exibir o tempo todo de biquíni e submeter-se a atividades sexuais com o requerido Saul, inclusive de modo humilhante e a contragosto.
Também podiam ter que ingerir droga, permanecer trancadas em um quarto por um dia inteiro e aceitar se submeter a consultas com médicos ginecologista e cirurgião plástico, respectivamente, para cuidar das persistentes e reiteradas doenças sexualmente transmissíveis que as acometia e de outras enfermidades que apresentaram, bem como receber aplicações de botox ou outros tratamentos destinados a prepará-las para as sessões com o requerido Saul."
Em dezembro de 2020, a Folha conversou por telefone com duas das alegadas vítimas que acusam o empresário. Uma afirmou ter conhecido Klein em 2008 e conviveu com ele até 2020. A outra começou em 2013. Nenhuma delas quis se identificar, alegando que não querem ser expostas e que têm medo de represálias do empresário. Elas corroboram os relatos elencados na decisão judicial.
Azevedo afirmou na época que a relação criada entre Klein e as mulheres nem sempre acarretava em atos sexuais, mas que quando isso ocorria era um algo consensual. Ele afirma que o empresário dava presentes a elas, mas que ele nunca fez pagamentos às suas amantes e não participava desta negociação –quem tratava disso era a agência, que também se responsabilizava por verificar as idades de todas as garotas para que fossem maiores de idade.
"As participantes estavam ali de livre e espontânea vontade –e, saliente-se, todas queriam voltar aos eventos, em demonstração de que estavam de acordo com o que ali acontecia", diz ele.
Folhapress