Investidores seguem digerindo decisões de política monetária no Brasil e nos EUA No dia seguinte à decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), os juros futuros se ajustam em alta firme, especialmente os de curto prazo, na medida em que os agentes do mercado embutem nos preços chances de um cenário no qual a Selic pode subir ainda mais. Além do forte ajuste na curva de juros, a porta aberta deixada pelo colegiado para os próximos passos também tem efeitos sobre o câmbio, embora a tendência global de valorização do dólar continue a falar mais alto um dia após a decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, banco central americano).
Às 9h35, o dólar era negociado a R$ 4,9824, em alta de 1,68% no mercado à vista, enquanto o dólar futuro para junho avançava 1,17%, para R$ 5,0195. No mesmo horário, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 saltava de 13,05% no ajuste anterior para 13,17%; a do DI para janeiro de 2024 subia de 12,59% para 12,705%; a do contrato para janeiro de 2025 passava de 12,05% para 12,085; e a do DI para janeiro de 2027 caía de 11,905% para 11,895%.
O Copom deixou claro que antevê um ajuste, no singular, de menor magnitude na próxima reunião, a ocorrer em junho. No entanto, diante de projeções de inflação acima do centro da meta, os agentes passaram a colocar nos preços riscos altistas em relação às expectativas para a Selic. Com uma elevação de 0,5 ponto no juro básico em junho já precificada antes mesmo da decisão de ontem, os agentes do mercado partem, agora, para embutir na curva cenários de uma Selic ainda mais alta, mesmo que eles sejam improváveis no momento.
“Mesmo com a precificação atual, a curva apresenta um movimento de âflatteningâ (achatamento), com os vértices de janeiro de 2023 e janeiro de 2024 apresentando certa abertura”, nota Luís Felipe Laudisio, trader de renda fixa da Renascença. Nesse cenário, inclusive, ele acredita que é possível que, no leilão semanal de prefixados do Tesouro Nacional, haja uma demanda que fique concentrada em LTNs de prazo mais longo (abril de 2024 e julho de 2025), o que poderia aumentar, inclusive, o risco de mercado à oferta.
Não por acaso, o estrategista Alvaro Mollica, do Citi, também aponta que a sinalização de desaceleração do ritmo indica que o fim do ciclo está próximo, o que deixa o ambiente propício para um viés aplicador no “miolo” e na ponta longa da curva para comprimir os prêmios. “Portanto, embora ainda haja incerteza sobre a necessidade de mais ajustes além de junho, acreditamos que posições aplicadas devem se sair bem, especialmente após o Fed mais moderado”, afirma. Assim, apesar da alta forte observada na ponta curta, os trechos intermediários e longos rondam os ajustes.
No câmbio, os sinais do BC ajudam a conter um avanço ainda mais forte do dólar contra o real, em um dia de valorização expressiva da moeda americana. Às 9h35, o dólar subia 0,15% ante o peso chileno; avançava 0,96% em relação à lira turca; tinha alta de 0,40% na comparação com a rupia indiana; e saltava 1,29% contra o rand sul-africano.
Marcello Casal Jr./Agência Brasil