Existe uma pressão crescente por parte dos investidores, consumidores e stakeholders ao redor do mundo para entender como as empresas e seus projetos criam valor ao incorporar objetivos ESG na sua estratégia de negócios. Carlos Braga, sócio da Brasilpar, Chairman da Monte Rodovias e professor da Fundação Dom Cabral
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Em junho de 2004, um grupo de 20 instituições financeiras responsável pela gestão de de mais de US $ 6 trilhões endossou uma iniciativa patrocinada pelo Pacto Global da ONU intitulado “Who care Wins” estabelecendo pela primeira vez a integração de aspectos ambientais, sociais e de governança (ESG) nos critérios de investimentos do mercado financeiro e nas práticas empresariais em geral
Desde então existe uma pressão crescente por parte dos investidores, consumidores e stakeholders ao redor do mundo para entender como as empresas e seus projetos criam valor ao incorporar objetivos ESG na sua estratégia de negócios.
Neste contexto os países desenvolvidos vêm avançando na implementação de legislações para o financiamento do setor de infraestrutura dentro de parâmetros sustentáveis com destaque para aqueles projetos que possam estar associados ao desmatamento ilegal, impactos na biodiversidade, emissão de poluentes e afins.
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De acordo com a o CBI - Climate Bond Initiative o Brasil tem um potencial de investimentos sustentáveis m infraestrutura estimado em US$ 1,3 trilhão com base em seus compromissos climáticos estabelecidos até 2030 no Acordo de Paris da ONU
O financiamento do setor no Brasil tem se limitado principalmente ao fomento público através de Bancos de Desenvolvimento tais como o BNDES ou investidores que compram debêntures de infraestrutura incentivadas através de benefícios fiscais.
De acordo com o Banco Mundial, as necessidades anuais de investimento para a revitalização da nossa infraestrutura são da ordem de 4% do PIB sendo que atualmente investimos cerca de metade deste montante. Tal distorção faz do nosso país um destino natural para os investidores que buscam oportunidades de investimento com retornos atrativos, que mitiguem os riscos decorrentes das mudanças climáticas, gerem impacto social e apoiem o desenvolvimento sustentável.
Para entender tais oportunidades de investimento precisamos contextualizar o que são os títulos sustentáveis. Trata-se de títulos de renda fixa com foco em temas relacionados a sustentabilidade e alinhados aos objetivos do desenvolvimento sustentável da ONU. O mercado de títulos sustentáveis é regulado pela ICMA - International Capital Markets Association e possui algumas modalidades entre elas os Green, Social e Sustainable bonds entre outros sendo que cada título possui seus critérios específicos de elegibilidade.
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Este mercado apresentou um volume total de emissões recorde em 2021 de US$ 1,2 trilhão. Segundo pesquisa recente da CBI espera-se que até 2025 este volume cresça para US$5tln anuais com destinação de 75% destes recursos para os setores de mobilidade sustentável, energias renováveis e edifícios inteligentes
No Brasil em 2021, de acordo com a certificadora NINT (ex-Sitawi), O mercado também registrou um crescimento expressivo com 107 emissões de títulos sustentáveis que movimentaram R$ 84 bilhões praticamente o triplo das emissões do ano anterior. O crescimento é crescente nos segmentos de energia, papel e celulose, transporte e saneamento responsáveis por mais de 70% do volume das emissões.
Os Bancos privados têm importante papel na promoção deste mercado atuando como estruturadores de projetos e fornecedores de empréstimos durante a fase de construção. Destacam-se também assessorando os seus clientes na emissão de debentures de infraestrutura sustentáveis junto aos mercados de capitais
Os bancos de desenvolvimento igualmente são protagonistas neste mercado. Eles podem emitir títulos, fornecer garantias e captar financiamentos sustentáveis no mercado internacional e repassar para projetos de menor porte que não teriam acesso a estes recursos de outra forma.
Como podemos ver a sustentabilidade nunca foi tão importante nem os investidores estiveram tão engajados com esta agenda. Neste contexto cabe aos players locais se capacitarem na estruturação de projetos elegíveis aos padrões internacionais de títulos sustentáveis atendendo desta forma a demanda crescente por este tipo de investimento por parte do mercado local e internacional.
Sobre o autor
Carlos Braga é sócio da Brasilpar, Chairman da Monte Rodovias, Professor da FDC além de conselheiro de diversas empresas privadas e organizações do terceiro setor. Atuou anteriormente como banqueiro de investimentos no Brasil e no exterior.