A Polícia Civil e a Prefeitura de São Paulo desencadearam na manhã desta quarta-feira (11) uma megaoperação contra o tráfico de drogas na praça Princesa Isabel, região central da capital, novo endereço da cracolândia desde a migração do fluxo de usuários no dia 18 de março.
Por volta das 4 horas da manhã, horário em que estava marcado o início da operação, uma parte dos usuários começou a deixar a praça e a desmontar as barracas. Policiais do Choque e da Iope, grupo de elite da GCM, abordaram os usuários e os mandaram se sentar embaixo da estátua do Duque de Caxias. "Todo mundo para debaixo do cavalo", gritavam os oficiais.
O objetivo é retirar as barracas montadas na praça pelos usuários e, segundo a polícia, usada por traficantes para vender as drogas sem serem flagrados pelas câmeras de segurança. Serão cumpridos 36 mandados de prisão expedidos pela Justiça com base nas investigações da Operação Caronte, segundo a Polícia Civil.
"A polícia não vai permitir o tráfico de drogas nesse local", disse o delegado Roberto Monteiro, da 1ª Delegacia Seccional do Centro. Foi preso até o momento um acusado de tráfico de drogas, segundo o delegado.
De acordo com integrantes da prefeitura ouvidos pela Folha, a intenção é remover todos os usuários da praça que, futuramente, pode ser transformada em um parque. "Hoje, na verdade, essas barracas são utilizadas para encobrir o tráfico. Todas as barracas serão tiradas porque elas não utilizadas para moradia, mas sim para guardar droga e encobrir o tráfico", disse o delegado Severino Pereira de Vasconcelos, do 77º (Campos Elíseos).
A orientação é encaminhar os usuários para a rua General Rondon, perpendicular à praça, onde estão posicionadas as equipes de assistentes sociais. Serão oferecidas vagas nas unidades do Siat (Serviço Integrado de Acolhida Terapêutica).
Segundo o secretário municipal de Projetos Estratégicos, Alexis Vargas, que acompanha a ação, o número de pessoas abordadas no entorno da cracolandia que aceitaram ir para os Siats, entre janeiro e março deste ano, foi sete vezes maior do que o mesmo período de 2021. E os atendimentos no Caps da Luz aumentaram 20%. "Quando dispersa o fluxo os usuários ficam mais propensos a aceitar tratamento", disse.
Cada usuário é revistado pelos policiais antes de ser encaminhado para as equipes de assistência social.
Havia a previsão de serem montadas tendas da Smads (Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social) para o atendimento dos usuários, mas não haviam sido montadas até a publicação deste texto. "Eles [usuários] serão encaminhados caso queiram se internar voluntariamente. À vontade. Se não quiserem, vão ficar perambulando por aí. Eles poderão retornar [para a praça] desde que não tragam utensílios. [Montar] barraca está proibido. Vai ter essa mudança ali na praça, mesmo porque ela vai ser quase tomada completamente para revitalização", diz o delegado.
De acordo com o delegado Vasconcelos, há um efetivo instalado no entorno da praça Júlio Prestes, endereço da cracolândia por mais de 30 anos, para impedir a volta dos usuários.
A megaoperação conta com efetivo de 500 oficiais, o que inclui o contingente da PM e da Guarda Civil Metropolitana (GCM).
Ainda segundo o delegado, a ideia também é combater, a partir de agora, o consumo de drogas em vias públicas. "Podem ficar [na praça], mas, sem barraca. Eles serão encaminhados para esses órgãos de assistência, por enquanto", disse.
A Polícia Civil diz que a operação é necessária para impedir novos episódios violentos na praça como o que ocorreu nesta terça, quando houve confronto entre usuários e guardas-civis metropolitanos durante ação de limpeza. A confusão se estendeu por quase duas horas. Segundo a GCM e a Polícia Civil, ninguém foi preso. "Nós estamos bem amparados para fazer essa operação, porque eles estão enfrentando muito", diz o delegado Vasconcelos.
Migração para a praça
A concentração de usuários de drogas deixou de ocupar o entorno da praça Júlio Prestes, na região central de São Paulo, e se mudou para a praça Princesa Isabel, em março após ordem do crime organizado, de acordo com a polícia.
Prefeitura e governo estadual, porém, divergem dessa versão. A administração municipal afirmou que a dispersão da cracolândia ocorreu de forma pacífica. Não houve "nenhum tipo de negociação com o crime organizado", disse o secretário-executivo municipal de Projetos Estratégicos, Alexis Vargas.
O ex-governador João Doria (PSDB) desmentiu a Polícia Civil e negou qualquer influência do crime organizado na mudança.
A Polícia Civil explica que a migração foi uma reação dos criminosos à Operação Caronte, deflagrada em abril do ano passado para prender traficantes na cracolândia.
Como parte da operação, a prefeitura emparedou os imóveis no entorno da praça Júlio Prestes usados como esconderijo de drogas e rotas de fuga, segundo as investigações. A operação identificou 105 alvos e prendeu 79 pessoas.
Conforme a Folha mostrou, 8 em 10 presos pela operação Caronte na cracolândia têm passagem por tráfico de drogas.
Segundo a polícia, antes da migração, o tráfico de drogas ficou a cargo de usuários de drogas que prestam serviços em troca de pequenas porções de crack, conhecidos como "lagartos". A estratégia foi uma forma de poupar os traficantes de serem presos numa eventual ação policial, que se tornaram constantes. (FolhaPress)
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