Movimentos sociais se reuniram na manhã deste domingo (15) no centro de São Paulo para protestar contra a violência policial na região conhecida como "cracolândia", após a morte de um homem durante ação de agentes de segurança na última quinta-feira (12).
Cerca de cem pessoas se organizaram na praça Júlio Prestes, ao lado da estação da Luz, onde antes ficava a maior concentração de usuários de drogas. Sob gritos de "as vidas da craco importam", o protesto, que começou às 13h, saiu da Júlio Prestes e percorreu as ruas Helvetia e Dino Bueno, onde ficava o chamado "fluxo". No trajeto, a manifestação ouviu reclamações de moradores da região.
"Só empurrar não adianta, a cracolândia não acabou, só mudou de endereço. Mas alguém tem que fazer alguma coisa. Os usuários não são culpados, mas nós também não somos, não conseguimos dormir de madrugada", afirma a professora Rose Correa, moradora da Rua dos Gumões, que ela diz ter sido "ocupada" após a operação.
"Vem as associações, a igreja, ficam dando comida, o resto das roupas. Isso não ajuda, só atrapalha. É preciso dar dignidade a eles", afirma Rose.
No início da tarde, também acontecia uma exibição do canil da GCM na praça. Durante a concentração do protesto, um casal de moradores que não quis se identificar também reclamou da manifestação, que disse "proteger bandidos". "Se vocês gostam tanto deles, leva para casa. Eu moro naquele prédio ali. Agora vem os riquinhos falar daqui", gritou a mulher.
Presente, o vereador Eduardo Suplicy (PT-SP) tentou mediar a situação e prometeu marcar uma reunião na Câmara Municipal para debater o assunto. "Não estamos contra os moradores, só estamos questionando a política higienista da prefeitura e do governo do estado. Há um genocídio do povo da rua", diz Escobar, que realiza há anos um trabalho social com dependentes químicos da região.
O ato seguiu pela rua Helvétia e atravessou o "novo fluxo", fixado na esquina da avenida São João. No local, um dos frequentadores, da "cracolândia", Pedro Henrique, fez uma fala pedindo melhores condições para as pessoas em situação de rua e disse ter conhecido Raimundo Rodrigues Fonseca Júnior, 32, morto na quinta-feira (12).
"Não é questão de polícia. O problema é muito mais profundo que isso. Mas também passa pela polícia. Teve [operação] em 2012, o [então prefeito João] Doria fez de novo em 2017. Funcionou? Não funcionou. Porque o traficante não está ali, ele está de helicóptero", afirma o educador social Raphael Escobar, integrante do coletivo A Craco Resiste, que ajudou a organizar o ato.
"O problema não é o crack, é o entorno. É preciso moradia digna, ter um quarto com chave de casa. Ter um emprego que entenda a complexidade do território. Não adianta dar um emprego numa lanchonete e ele ser demitido porque não tem o dedo da frente", argumenta o educador social.
O protesto passou pelo local onde Raimundo foi morto, na Av. Duque de Caxias, e seguiu até a Princesa Isabel, onde deverá ser encerrado às 16h.
Na última quarta-feira (11), a GCM (Guarda Civil Metropolitana) e a Polícia Militar dispersaram os dependentes químicos da Praça Princesa Isabel, a 200 metros da Julio Prestes, onde a "nova cracolândia", havia se estabilizado.
Após a ação na madrugada, que tomou cobertores e barracas das pessoa em situação de rua, eles se dispersaram pelo centro da capital, o que resultou em novas ações da GCM e da PM durante a semana.
Na quinta, Raimundo Rodrigues Fonseca Júnior, 32, foi morto após ser atingido por um tiro no peito na avenida Rio Branco, em meio a uma incursão policial nos arredores da praça Princesa Isabel. A SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) diz ainda estar apurando o caso.
(Folhapress)