A elevação de casos de covid-19 no Brasil e o aumento de internações pediátricas por vírus respiratórios motivam especialistas a recomendarem a volta do uso de máscara nas escolas, mesmo em crianças pequenas. O uso da proteção facial só não foi obrigatório em nenhum momento para menores de dois anos, diante do risco de dificultar a respiração e de asfixia. Para os maiores, o uso é indicado, principalmente, em ambientes fechados
A causa principal do aumento de internações são os vírus respiratórios - como o vírus sincicial respiratório (VSR) e a influenza (gripe), comuns nesta época, além da covid-19. A diferença neste ano, dizem médicos, é que um número alto de bebês e crianças teve contato com esses vírus ao mesmo tempo, após dois anos de pandemia em que ficaram isoladas em casa.
"A Organização Mundial da Saúde (OMS) orienta que seja feito o uso de máscaras a partir dos 7 anos em relação ao novo coronavírus. No entanto, no Brasil temos tido boas experiências com crianças mesmo entre 2 e 3 anos. Mantendo a máscara bastante ajustada, sem problemas. Dentro das salas de aula, na medida do possível, é bom que as crianças usem as máscaras", opina Fausto Flor Carvalho, presidente do Departamento de Saúde Escolar da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
No caso das crianças, a melhor máscara é a que ela se sinta mais confortável. "O equipamento de proteção deve ficar bem ajustado ao rosto - cobrindo a boca e o nariz - para que não haja escape de ar pelas laterais. Em geral, máscaras cirúrgicas infantis com camada tripla são as mais indicadas. As máscaras de pano podem ser usadas, mas não são muito efetivas. Já as máscaras N95 não são indicadas, pois deixam as crianças desconfortáveis", acrescenta Renato Kfouri, pediatra, infectologista e presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
A pediatra e neonatologista Maria Cecília Correia Hyppolito concorda. "O uso de máscara protege não apenas contra o novo coronavírus, mas é válido para todas as infecções respiratórias como influenza", destacou a especialista.
Para Raquel Stucchi, infectologista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o acessório deveria ser exigido até o fim da estação mais fria. "O uso de máscaras deveria ser obrigatório em ambientes fechados sem ventilação natural até, no mínimo, o fim do inverno", defende ela, consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). A recomendação é de que a máscara seja trocada a cada três horas ou antes caso haja necessidade.
Por outro lado, especialistas também se preocupam com a exigência de máscaras nas salas de aula, enquanto outros ambientes continuam com livre circulação. Ao longo da pandemia, gestores foram criticados por priorizar a abertura de bares e academias em detrimento das escolas - o Brasil foi um dos países que mantiveram colégios fechados por mais tempo. Entre as preocupações de cientistas, estão as consequências cognitivas e para a saúde mental do crescimento e convívio das crianças sempre com a proteção no rosto, o que muda a forma de contato com o próximo.
Para menores de 2 anos, a SBP alerta que as crianças não devem usar máscaras, porque a salivação intensa, as vias aéreas de pequeno calibre e a imaturidade motora elevam o risco de sufocação.
Entre os 2 e 5 anos, existe a necessidade de supervisão constante. Possivelmente, a criança se sentirá incomodada com a necessidade de ajustes frequentes. É indicado avaliar individualmente a possibilidade do uso, conforme o grau de maturidade de cada criança.
Dos 6 aos 10 anos, as recomendações são as mesmas daquelas dadas para crianças entre 2 e 5 anos. Por volta dos 12 anos, já é possível compreender todas as instruções necessárias para o uso, retirada, higienização e descarte correto das máscaras.
A SBP esclarece ainda que as crianças e adolescentes que apresentam atrasos no desenvolvimento e condições específicas, como Transtorno do Espectro Autista (TEA), deficiência intelectual e transtornos do comportamento, podem ter mais resistência ao uso da máscara. Nestes casos, vale tentar um treinamento e avaliar a adesão, de acordo com a resposta individual.
Caso a criança tenha qualquer fator de risco para covid-19 ou para doenças respiratórias (asma ou bronquiolite prévia), é importante que o pediatra seja consultado sobre as principais orientações em momentos de pico da doença.
A recomendação é de que a máscara seja trocada a cada três horas ou antes caso haja necessidade.
Os sintomas são tosse seca, febre, coriza, dor de garganta, dor abdominal e diarreia. Em caso de agravamento, é importante procurar auxílio médico, seja por telemedicina ou presencialmente.
Além do uso de máscara acima de 2 anos, é importante reforçar que as medidas anteriores continuam sendo fundamentais para evitar a proliferação da doença. Salas de aula bem ventiladas, atividades ao ar livre, higiene das mãos constantemente, distanciamento social e professores e alunos (acima de 5 anos) vacinados são os cuidados que devem ser mantidos. Já a imunização da gripe, é recomendada a partir dos seis meses de idade. (Agência Estado)