Seis dos sete vereadores do Conselho de Ética da Câmara Municipal carioca, responsável pelo processo que pode levar à cassação do vereador Gabriel Monteiro (PL), decidiram nesta sexta-feira (3) pedir à direção da Casa que lhes providencie carros blindados.
Eles também já solicitaram uma varredura em seus gabinetes e telefones celulares. Suspeitam que são alvos de escutas clandestinas. Os parlamentares afirmam se sentir ameaçados e intimidados por seguidores do parlamentar. As pressões chegam pelas redes sociais.
Ex-policial militar, Monteiro ficou famoso postando nas redes sociais vídeos que lhe rendem cerca de R$ 300 mil mensais, segundo estimativa de especialistas na área. Tem mais de 23 milhões de seguidores, espalhados por Instagram, Facebook, You Tube, Twitter e TikTok. Alguns desses fãs estariam fazendo ameaças aos vereadores responsáveis pelo processo contra Monteiro. O parlamentar é investigado por assédios moral e sexual e manipulação de vídeos, entre outras acusações.
Outra motivo de receio é que um ex-assessor de Monteiro, Vinicius Hayden Witeze, de 33 anos, morreu vítima de uma capotagem na noite de sábado (28). O carro que ele dirigia virou em uma curva, em uma estrada na Região Serrana fluminense.
Três dias antes, Witeze prestara depoimento ao Conselho de Ética fazendo acusações ao vereador. A investigação policial não encontrou indícios de que o incidente tenha sido provocado, mas essa hipótese ainda não foi oficialmente descartada. Outras testemunhas disseram estar com medo.
Não foram divulgados os nomes dos vereadores que pediram os veículos.
"Esta Casa vem de um trauma grande, que foi a morte da vereadora Marielle Franco. Todo cuidado é pouco", disse a vereadora Rosa Fernandes (PSC), uma das integrantes do Conselho, lembrando o assassinato a tiros da parlamentar em março de 2018, com o motorista Anderson Gomes.
Um texto em que a vereadora afirmou estar perplexa diante dos depoimentos de supostas vítimas que acusam o vereador de assédio sexual foi publicado no Facebook na quinta-feira, 2. Recebeu mais de 2,3 mil comentários. A maioria trazia críticas postadas por seguidores de Monteiro.
"Vivemos tempos difíceis, de ódio, fanatismo e total descontrole Todo cuidado é pouco, mas não tenho medo, porque a impressão que tenho é de que os comentários partiram de robôs, pois aconteceram simultaneamente. Isso não me intimida. Estou em paz para fazer o meu trabalho", disse a vereadora.
O vereador Alexandre Isquierdo (União Brasil), presidente do Conselho de Ética, justificou a varredura nos gabinetes e telefones celulares.
"O Vinícius, que veio a falecer, contou que recebia orientação para investigar outros vereadores. Além disso, tem as ameaças desses supostos fãs do Gabriel Monteiro", disse. Segundo Isquierdo, se houver ameaças mais explícitas, a Polícia Civil será acionada.
O relator do processo, Chico Alencar (PSOL), também demonstrou preocupação com as ameaças.
"Nesses tempos de fanatismo, os fãs matam, o ódio desqualifica", disse ele. "A morte do Vinícius também precisa ser melhor investigada. A investigação tem que ser aprofundada, diante do que temos visto nas redes 'antissociais'. Coisas absurdas (sobre a capotagem que provocou a morte do ex-assessor), como 'foi a mão de Deus, o castigo vem para quem ofende os escolhidos'".
O Conselho ouviu nesta sexta-feira duas testemunhas da defesa de Monteiro. São eles Fábio Félix Ferreira, ex-assessor de Monteiro, e a mãe de uma menina que aparece em um vídeo divulgado por Monteiro. A Polícia Civil investiga se a criança foi induzida a fazer pedidos a Gabriel para a montagem de uma farsa que pudesse comover fãs.
"As testemunhas de defesa entraram em muitas contradições", afirmou o relator Alencar.
Na próxima terça-feira, 7, o Conselho vai ouvir o empresário Rafael Sorrilha. Trata-se de um ex-amigo de Monteiro. Agora, é alvo de críticas do parlamentar.
Defesa do vereador
Em nota sobre o pedido de varredura contra supostas escutas clandestinas instaladas a mando de Monteiro, a defesa do vereador afirmou que ele "está se sentindo o 'James Bond' brasileiro". Afirmou ainda que essa decisão do Conselho é mais uma prova de que alguns de seus membros estão considerando como verdade absoluta o que disseram as testemunhas de acusação.
Os advogados de Monteiro elogiaram os depoimentos das testemunhas de defesa. Afirmaram que "provaram total descabimento das acusações de abuso sexual, abuso moral e produção de vídeos forjados para a internet".
"A mãe da menina que participou do vídeo no shopping afirmou que o mesmo não foi manipulado e teve a vida modificada pela ação do vereador. Da mesma forma, seu ex-assessor reafirmou que jamais houve assédio dentro da equipe de gabinete, prosseguiu a nota.
(Estadão Conteúdo)
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