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BRASIL

Indígena lamenta mortes, relata ameaças e abandono no Vale do Javari (AM)


“Sabíamos que iríamos perder um da nossa gente. Perdemos essa pessoa que era amigo, parceiro de luta e que perdeu a vida lutando por nós indígenas. Estamos todos muito sentidos”. O desabafo é do coordenador geral da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Paulo Marubo, amigo pessoal do indigenista Bruno Araújo Pereira, visto pela última vez na região em 5 de junho.

Em entrevista a O TEMPO, ele lamentou a morte de Bruno e do jornalista inglês Dom Phillips. A informação foi veiculada inicialmente pela Band News, e confirmada pela reportagem com a Univaja. Segundo Marubo, uma equipe do movimento indígena da região em que Bruno e Dom Phillips desapareceram está acompanhando todo o trabalho feito pela Polícia Federal nesta quarta-feira (15). 

“A gente já sabe que um deles confessou (o crime). Eles não falaram quem foi que assassinou, mas disseram que sabiam o local em que estão os corpos. Estamos esperando mais informações para saber quem cometeu o crime, quantas pessoas estão envolvidas”, disse Marubo, que aguarda o retorno das equipes da Polícia Federal do local em que Dom e Phillips teriam sido mortos. 

Conforme a Band News, os detalhes do crime teriam sido passados à corporação por Oseney da Costa de Oliveira, 41, conhecido como Dos Santos, que foi preso nesta terça-feira (14). Ele foi levado pelos policiais por suspeita de envolvimento no sumiço de Dom e Bruno. Paulo Marubo afirmou que Oseney e Amarildo Oliveira, popularmente chamado na região de Pelado, outro preso na última semana por suposto envolvimento no desaparecimento, são pessoas conhecidas na região

“São caras aqui da comunidade de São Rafael, pescadores, e que têm residência na cidade (Atalaia do Norte). O tal do Pelado é muito falado, a maioria das pessoas falam que não é boa pessoa, que vivia ameaçando os outros que convive com eles”, contou o líder indígena que participou de reunião com o delegado da PF responsável pela investigação que garantiu uma solução do caso para esta quarta-feira. 

Insatisfação 

Paulo Marubo também reclamou da demora do governo em iniciar as buscas a Dom Phillips e Bruno Araújo. O representante da Univaja afirmou que os indígenas iniciaram, por conta própria, trabalhos para tentar localizar a dupla. “Todo o trabalho que está sendo feito pela Polícia Federal, toda a equipe de segurança, foi da nossa equipe, da gente que tomou frente e levou para mostrar os sinais do crime”, afirmou. 

Para ele, os crimes contra o jornalista e o indigenista refletem uma série de descasos das autoridades em relação às denúncias feitas pela Univaja. Marubo relatou ter sido vítima de ameaças, assim como outros indígenas. “A gente vinha denunciando, apresentando preocupação, e nós não vimos respostas da nossa denúncia. Não vimos mobilização da Polícia Federal, Forças Armadas”, denunciou. 

O indígena afirmou que as queixas foram encaminhadas à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal não só pela Univaja, mas também por grupos de indigenistas em que Bruno Araújo fazia parte. Para ele, a Fundação Nacional do Índio (Funai), que deveria auxiliar as comunidades indígenas, trabalhou para condenar o movimento que representa as famílias da região do Vale do Javari. 

“A Funai, que poderia tomar frente de tudo, quis condenar o movimento indígena pedindo ao MPF para nos denunciar. Isso demonstra que a própria Funai é antí-índio, anti-indígena”, citou. 

Abandono 

Segundo Paulo Marubo, o sentimento no Vale do Javari é de abandono. “O que nós queremos agora é o que foi feito no protesto há dois dias atrás pedindo para as autoridades dar atenção à nossa região, porque moramos na tríplice fronteira (Peru, Colômbia e Brasil). É uma região completamente abandonada pelas autoridades, Forças Armadas, Exército e PF”, pleiteou o coordenador da Univaja. 

Na região, segundo ele, há uma grande invasão de garimpeiros que atuam ilegalmente e sem nenhuma fiscalização, além da presença de traficantes. “Dizem que não tem nada, mas também tem pescadores ilegais, caçadores de animais selvagens e madeireiros que tiram madeiras do lado da Amazônia no Brasil e levam para o outro lado, no Peru, e dizem que foram tiradas lá”, acrescentou. 

O TEMPO

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