O dólar acelerava ganhos frente ao real nesta sexta-feira (1º), primeiro dia após o fechamento de um primeiro semestre negativo para o mercado de renda variável e que reforçou expectativas cada vez mais amplas sobre uma queda mundial da atividade econômica.
Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura, descreveu o semestre encerrado na véspera como "brutal para os mercados" e destacou a exposição dos investidores à perspectiva de recessão nos próximos meses, levando bolsas a operarem em queda, enquanto o dólar, em alta. "O clima é mesmo de aversão ao risco", comentou.
No Brasil, o cenário se tornou ainda pior com o acirramento da disputa eleitoral aumentando o risco fiscal, sobretudo após a aprovação pelo Senado na véspera da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que estabelece um estado de emergência para ampliar e criar novos auxílios sociais.
Às 12h45, o dólar comercial subia 1,52%, cotado a R$ 5,3120. Durante a manhã, a moeda americana chegou a saltar 2,04%, ao tocar a máxima do dia de R$ 5,3390.
No fechamento de junho, o dólar comercial à vista obteve o maior ganho mensal desde março de 2020. O salto no mês passado foi de 10%, enquanto a alta no mês marcado pelo início da pandemia chegou perto dos 16%.
O movimento generalizado de investidores em busca de segurança levava o dólar a ganhar valor sobre quase todas as moedas de países de economia emergente nesta sexta, embora o real estivesse entre as cinco mais depreciadas, considerando uma cesta com 24 divisas monitoradas pela Bloomberg.
Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest, ressalta que o temor da recessão mundial direciona o mercado, sentimento reforçado nesta sexta pelo resultado abaixo do esperado do índice que acompanha a atividade industrial nos Estados Unidos.
Consorte afirma, porém, que o Brasil criou um risco doméstico adicional ao colocar em andamento uma PEC que amplia os gastos do governo. "O mercado está lendo como uma medida para tentar angariar votos nas eleições", disse.
Bolsa deve cair pela quinta semana
No mercado doméstico de ações, a Bolsa de Valores brasileira está no caminho de fechar em queda pela quinta semana consecutiva. O Ibovespa recuava 0,43% nesta sessão, a 98.111 pontos. Esse também é o quarto dia seguido de baixa do indicador de referência da Bolsa.
No fechamento do segundo trimestre de 2022, o Ibovespa afundou 17,88%. Esse foi o pior resultado desde o mergulho de 36,86% apurado no encerramento do primeiro trimestre de 2020.
Com queda mensal de 11,5%, o Ibovespa também teve em junho o seu pior mês desde o tombo de 29,9% em março de 2020. No acumulado do primeiro semestre, a baixa foi de 5,99%.
Nos Estados Unidos, o índice S&P 500 recuava 0,12% no dia. O indicador de referência da Bolsa de Nova York terminou o segundo trimestre com um tombo perto dos 18% e, assim como o Ibovespa, teve o seu pior resultado desde a queda de 20% no início da pandemia. No primeiro semestre, o mergulho de 21% foi o mais profundo desde 1970.
Analistas apontam a inflação mundial como principal vilã dos investimentos neste ano. A alta de preços foi provocada pela ruptura das cadeias de abastecimento durante a pandemia combinada às medidas de estímulo adotadas pelas maiores economias do planeta.
A guerra na Ucrânia agravou o problema da oferta porque restringiu a disponibilidade global de grãos e de petróleo.
Para enfrentar a maior inflação em quatro décadas, o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) vem acelerando a escalada dos juros no país, ampliando temores de que esse aperto ao crédito poderá provocar recessão no país, prejudicando toda a economia mundial. (Clayton Castelani/Folhapress)
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