Se a informalidade é opção para muitos idosos, outros não têm mais saúde e disposição para enfrentar jornadas de trabalho após a aposentadoria para adequar a renda aos gastos mensais. A matogrossense Rosana Varela, de 62 anos, se mudou para Belo Horizonte há 20. A aposentadoria de dois salários veio em 2020, já durante a pandemia, após mais de duas décadas atuando no mercado de congressos. “Mas hoje está valendo como se fosse meio salário, isso em relação ao que a gente tinha de padrão mínimo supérfluo de gastos”, contabiliza.
Ela e o marido, que não recebe aposentadoria por ser de outro país, se mudaram para a casa da mãe recentemente para eliminar custos. O plano de saúde do casal também foi cancelado, em novembro passado, após chegar ao valor de R$ 1.300. “O preço dos remédios está nas alturas e muitos a gente não consegue encontrar no posto. Alimentação? Meu Deus do céu! Cada ida ao supermercado é um grito, mesmo comprando só o estritamente necessário”, lamentou.
Na casa dela, a palavra de ordem é contenção. “Vivemos em função disso. É necessário? Compra. Se não é, não compra. E com isso vai embora um pouco da nossa alegria”, Varela. Viagens de lazer e até idas esporádicas em restaurantes também saíram da rotina. “Uma hora é culpa da pandemia, outra hora guerra na Ucrânia. Sempre tem um culpado, mas não tem vontade política, social, humana de querer resolver essa situação”, criticou a idosa quando indagada sobre a atuação do Estado frente à inflação.
O aumento na informalidade registrado pelo Sebrae pode estar relacionado à escalada do desemprego na terceira idade. Uma pesquisa feita pelo professor Mário Rodarte, da Faculdade de Economia da UFMG, identificou que as demissões no público acima de 50 anos aumentaram 166% no Brasil, entre 2012 e 2021, contra uma média nacional de 77%. Os dados foram coletados junto às pesquisas trimestrais feitas pelo IBGE.
Na avaliação do docente, o cenário de idosos na informalidade é trágico. Ele explica que quem recorre a esse meio, geralmente, não encontra outra saída. “É a combinação de desemprego e inflação. E se a gente entende que essa inflação grande se dá em um momento de desaquecimento e que os salários não crescem de acordo, a situação se torna ainda mais trágica”, analisa.
O professor defende que nos segmentos trabalhistas em que a aposentadoria acaba sendo reduzida quantias baixas deveria haver uma política compensatória. Ele lembrou que o país nos últimos anos deixou de realizar uma política de valorização do salário mínimo calculada tendo como base o crescimento do PIB do ano anterior e a inflação. “O fato porém é que isso deixou de ser obedecido e o crescimento foi pífio com reajustes abaixo da perda inflacionária, já que a inflação tem aumentado”, detalha.
Outro problema, conforme o professor, está na própria disposição do mercado formal de trabalho. “O mercado está mais exigente porque o ritmo de crescimento das vagas está muito pequeno. E aí você mal ocupa as pessoas que estão chegando das universidades, do ensino técnico. É lógico que essas pessoas vão ser mais privilegiadas, mas é uma situação flagrante de insuficiência do setor produtivo em gerar mais postos de trabalho”, complementa Mário Rodarte.