A Polícia Federal prendeu nessa quarta-feira (13) um homem suspeito de matar o líder indígena e professor Ari Uru-Eu-Wau-Wau, 34, encontrado com marcas de espancamento no dia 18 de abril de 2020 em uma estrada de Tarilândia, distrito de Jaru, em Rondônia.
A Operação Guardião Uru, nome em homenagem ao indígena que atuava como guardião da floresta amazônica, não informou o nome do suspeito e onde ocorreu a prisão preventiva. O homem é acusado de outros crimes.
Ari Uru-Eu-Wau-Wau pode ter sido dopado e agredido até a morte, segundo a polícia. Ele fazia parte de um grupo de vigilância formado para fiscalizar e denunciar invasões à Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia.
Segundo a WWF-Brasil, o território tem 1,8 milhões de hectares, é um dos últimos grandes remanescentes de floresta em Rondônia e é alvo de invasões por parte de grileiros, que aproveitam o afrouxamento na fiscalização e punição no governo de Jair Bolsonaro (PL).
Em nota, as associações do Povo Indígena Uru-Eu-Wau-Wau e de Defesa Etnoambiental Kanindé disseram que aguardam detalhes sobre a prisão preventiva, como a identidade do suspeito e a motivação do crime.
"O crime ocorreu em meio à falta de fiscalização, invasões de terras por grileiros, garimpeiros e madeireiros. Esperamos também que esta Operação Guardião Uru, nome dado em homenagem ao Ari, ajude a solucionar outros crimes cometidos na região", afirma a nota.
De acordo com as duas associações, outros indígenas e ativistas sofrem ameaças de morte por defenderem a floresta. Elas dizem que as dificuldades enfrentadas pelos indígenas têm sido amplamente denunciadas pela comunidade aos órgãos competentes, mas nenhuma providência é tomada.
Para a WWF-Brasil, é importante que a Polícia Federal esclareça pontos cruciais para responsabilizar e punir os envolvidos. A organização também cobra informações sobre a motivação do crime, a participação de outras pessoas e a possibilidade de existir um mandante.
As duas associações indígenas e a WWF-Brasil destacam o fato de a prisão ter ocorrido um mês após os assassinatos do indigenista brasileiro Bruno Pereira, 41, e do jornalista britânico Dom Phillips, 57, como um sinal de que a Polícia Federal vai intensificar o combate a esse tipo de crime.
Os dois foram mortos na região do Vale do Javari (AM), num crime que jogou pressão sobre o governo Bolsonaro por evidenciar o cenário de conflito ambiental na Amazônia e de insegurança de lideranças que atuam na defesa de indígenas.
Ari Uru-Eu-Wau-Wau é retratado no documentário "The Territory", que registra a luta do povo indígena sitiado e as motivações de quem os invade. As filmagens foram marcadas pelo assassinato do líder indígena numa estrada da região.
Dirigido pelo americano Alex Pritz, em coprodução com os uru-eu-wau-waus, o filme foi selecionado este ano pelo Festival Sundance, o maior do cinema independente dos Estados Unidos.
A morte dele foi lembrada por Txai Suruí, jovem de 24 anos que fez história ao discursar, em inglês, na abertura da COP26, em Glasgow, em novembro de 2021.
"Enquanto vocês estão fechando os olhos para a realidade, o guardião da floresta Ari Uru-Eu-Wau-Wau, meu amigo de infância, foi assassinado por proteger a natureza", disse.
Nesta quarta, Txai pediu justiça e falou sobre a dor de perder o amigo e protetor do território indígena.
"Só quem viveu sabe a dor de perder alguém querido. Ainda mais quando essa perda acontece de forma violenta contra um protetor e guerreiro do seu território e povo", disse. (Folhapress)