Celebrada como um gol pela equipe do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pré-candidato à Presidência, a declaração de apoio da cantora pop Anitta foi assunto de destaque na imprensa e nas redes sociais na última terça-feira (12), sendo repercutida tanto pela classe artística e influencers, quanto por outros políticos.
Embora não seja de agora o embate travado com a cantora nas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro (PL) foi um dos políticos que expuseram incômodo com o posicionamento dela.
Na quinta-feira (14), durante visita a Vitória do Mearim, município do Maranhão, Bolsonaro reconheceu que Anitta influencia os jovens e criticou a regulação da mídia defendida pelo PT, prometendo a esses jovens que defenderá a liberdade de continuar acessando aplicativos e redes sociais.
Ainda que a iniciativa de Anitta tenha incomodado o principal adversário de Lula na disputa pela Presidência, Amanda Vitoria Lopes, cientista política e pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB), especialista em eleições e relação das instituições, vê poucas chances de que declarações de apoio de artistas influenciem na mudança do voto dos eleitores.
"É improvável que a Anitta vire voto, mas ela é um reforço positivo para a campanha, porque ela dita a pauta de assuntos. Em 2018 o candidato Bolsonaro ditava muito a pauta do que era assunto na imprensa. Isso agora está acontecendo mais com a campanha do Lula, principalmente por causa dos artistas”, nota a especialista.
Lopes explica ainda que, no caso da campanha de Lula, o apoio da cantora serve para reforçar o voto do eleitor que já tendia a elegê-lo. “Ela reforça entre quem pensou em votar no Lula, mas também estava indeciso se votava branco, anulava ou até mesmo ia votar, porque, convenhamos, o voto é obrigatório, mas o custo de não votar é baixo.”
Para Lopes, essa dinâmica se repete no caso de artistas que apoiam publicamente Bolsonaro, como é o caso de Gusttavo Lima, Sérgio Reis, Netinho e Latino.
"No caso do Bolsonaro, o apoio declarado dos artistas tem um alcance menor, não vira manchete de jornal. Então é um apoio que também reforça entre quem já iria votar no Bolsonaro, não é um apoio que vira voto”, observa Lopes.
“Para o eleitor tem mais peso a avaliação do que o governante fez do que o apoio dos artistas. Naturalmente, qualquer governante tem desgastes, porque é colocado à prova para a população”, acrescenta.
Essa percepção de que os artistas reforçam voto, mas não mudam a decisão dos eleitores, é respaldada pela mais recente pesquisa Datafolha, divulgada em 24 de junho. Segundo o levantamento, 70% dos eleitores afirmaram que já estão totalmente decididos sobre o voto para presidente.
Estratégia é histórica, mas agora se concentra nas redes sociais
A especialista lembra também que, historicamente, políticos recorreram aos artistas como estratégia de comunicação para atrair o voto de cidadãos que se identificam e admiram essas celebridades.
Lopes citou como exemplos o apoio dado pelos globais Claudia Raia a Fernando Collor (PTB) em 1989 e Ney Latorraca a Aécio Neves (PSDB) em 2014. Entre os cantores, Caetano Veloso apoiou Marina Silva (Rede) em 2014, enquanto Marina Lima, Chico Buarque e Elza Soares estavam na campanha de Dilma Rousseff (PT) naquele ano.
"É comum da política usar essa estratégia. Mas estávamos acostumados a ver isso na propaganda política da televisão. A novidade que vem mais forte neste ano é que a campanha está principalmente nas redes sociais e começou antes do período oficial”, avalia Lopes.
Embora as eleições deste ano sejam federais e envolvam também candidaturas estaduais (deputados, senadores e governadores), os artistas geralmente se engajam mais pelas campanhas presidenciais.
Lopes explica o motivo: “Quando o artista tem projeção nacional, dificilmente vai dar apoio para quem tem projeção estadual, como deputado, senador ou mesmo governador. É possível que a gente veja artistas de renome nacional no palanque de determinados partidos, mas é incomum se posicionarem a favor de candidaturas locais específicas e divulgarem isso”.
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