A família de Letícia Marinho Sales, 50, uma das vítimas da operação policial no Complexo do Alemão, no Rio, relata ter sido revistada por policiais militares quando estava a caminho do velório, na manhã deste sábado (23). A cerimônia ocorreu no Cemitério São Francisco Xavier (Caju), na zona portuária do Rio. De acordo com a Polícia Militar, 17 pessoas morreram durante o confronto na quinta-feira (21).
O vigilante Neílson Fonseca, 33, sobrinho de Letícia, relata que o ônibus em que a família estava a caminho do funeral foi parado pela polícia na Avenida Braz de Pina. Procurada pela reportagem, a corporação ainda não se manifestou.
Segundo Fonseca, bolsas e documentos foram revistados.
"Eu estou aqui para brigar por justiça, quero saber quem são os verdadeiros criminosos. Quero saber do Coronel Blaz [tenente-coronel Ivan Blaz, porta-voz da Polícia Militar do Rio de Janeiro] e do governador Cláudio Castro o que vai ser feito. Minha tia foi morta por policiais, sendo filha de policial militar e ninguém se dirigiu a nós, não temos assistência nenhuma", disse, emocionado, em frente à capela onde Letícia foi velada.
O sobrinho também questionou a conduta dos policiais durante a operação. "Não adianta ter concurso para 2.000 policiais para eles humilharem e esculacharem a vida de pessoas de bem. A gente paga tributos, água e outras coisas. Não adianta querer ser polícia, eles não são mais do que ninguém. Eu estou cansado. Isso tem que acabar, eu espero resposta, me procurem." Familiares também levaram faixas pedindo justiça e paz para os moradores da favela.
Abatido, o estudante Marcus Vinicius Sales, 22, filho de Letícia, também lamentou a morte da mãe. "Eu morava com a minha mãe e não tenho as palavras certas para definir quem era ela. Acordei com um bom dia diferente, mas é importante saber que ela foi salva, ela vive em Cristo e em Jesus", disse o jovem, muito emocionado.
Letícia foi morta na manhã de quinta-feira (21), atingida por um tiro enquanto passava de carro com familiares pela avenida Itararé, em Bonsucesso. A via é um dos principais acessos às favelas do Complexo do Alemão.
O corpo foi levado inicialmente para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Zilda Arns e encaminhado posteriormente ao IML (Instituto Médico Legal) Afrânio Peixoto.
De acordo com relatos de familiares, Letícia estava voltando para casa, no bairro do Recreio, após passar a noite na Vila Cruzeiro, na casa de amigas.
Em nota, o governador Cláudio Castro lamentou a morte de Letícia. O governo do estado afirmou que as circunstâncias da morte estão sendo investigadas pela Polícia Civil. A Seavit (Secretaria de Assistência à Vítima) também informou que está dando apoio aos familiares.
(Com Folhapress)