A alta da taxa básica de juros nessa quarta-feira (4) reforçou a posição do Brasil como líder do ranking mundial de juros reais, posição que ocupa desde a reunião de maio do comitê monetário do Banco Central, segundo levantamento do portal MoneYou e da gestora Infinity Asset Management. Para chegar ao juro real - taxa nominal descontada a inflação -, o estudo considerou projeção de alta dos preços ao consumidor para os próximos 12 meses, assim como as taxas negociadas no mercado de juros com vencimento também em 12 meses. Esse cálculo apontou que os juros efetivos brasileiros estão em 8,52%, mais do que o dobro do segundo colocado, o México, cuja taxa é de 4,2%.
Referência para o rendimento de títulos de renda fixa, os Estados Unidos aparecem na 25ª posição com um retorno negativo de 3,25% ao ano. O ranking tem 40 países. A Argentina é 11ª da lista, com uma taxa efetiva de 0,57%, embora ostente juros nominais de 60% ao ano, os mais altos do planeta.
Considerando as taxas nominais, o Brasil possui a a terceira maior, de 13,75% ao ano, atrás da Turquia (14%) e da Argentina. O relatório também destaca a tendência mundial de aumento dos juros, uma necessidade observada por muitos bancos centrais diante da disparada da inflação global neste ano. Entre os 40 países que fazem parte do ranking, 33 deles (82,5%) elevaram suas taxas e apenas 1 (2,5%) cortou. Seis (15%) não fizeram alterações. Juros altos dificultam o acesso ao crédito, inibindo o consumo e freando a atividade econômica de modo geral.
Mas a relação entre uma taxa significativamente elevada a ser mantida nos próximo meses e a expectativa de desaceleração da inflação posicionam o Brasil como um destino promissor para investimentos estrangeiros, segundo Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset. É o que no jargão do mercado costuma ser chamado de diferencial de juros. Além do retorno sobre a inflação, investidores também avaliam fatores como estabilidade institucional e riscos de calote do país e de suas empresas.
"Esse é um ponto importante para o diferencial de juros do Brasil, pois é um dos países mais seguros, em termos de mercados emergentes, para se aplicar neste momento por ser um lugar seguro, institucionalmente falando", comenta Vieira. "Também existe a vantagem do Brasil, nesse contexto de rendimento, obviamente, com a melhor taxa real do mundo", afirma. Ao elevar a Selic em 0,50 ponto percentual nesta quarta (3), a 13,75% ao ano, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) indicou que irá desacelerar o aperto ao crédito, avaliando um ajuste de 0,25 ponto em setembro.
Parte do mercado considerou que a atual taxa ficará, no mínimo, estável até o primeiro trimestre do próximo ano. Como há perspectiva de desaceleração da inflação, a leitura que se faz é de um diferencial de juros ainda maior nos próximos meses. O ponto mais importante a ser considerado para essa queda da inflação é a desaceleração da economia americana, cuja segunda queda trimestral do PIB (Produto Interno Bruto) acendeu o alerta para risco de recessão.
Com a maior economia do mundo caminhando um pouco mais devagar, o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) também deve diminuir a velocidade do aumento da sua taxa de juros. Essa será a deixa para investidores tirarem dólares do Tesouro americano e buscarem opções mais rentáveis em países emergentes. Vieira ressalta que riscos internos e externos podem, evidentemente, prejudicar esse contexto favorável ao Brasil.
O descontrole de gastos do governo brasileiro no período eleitoral e questões internacionais, como a Guerra da Ucrânia, seguem no radar do mercado. "A impressão é que, se ajustando a esse cenário de curto prazo e às questões geopolíticas, o Brasil pode se tornar um receptor de investimentos internacionais, o que pode ajudar no câmbio e na inflação, que já está declinante", conclui Vieira. (Clayton Castelani/Folhapress)
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