Um médico dermatologista foi preso na noite dessa quarta-feira (10/8), em Montes Claros, no Norte de Minas, depois de ter sido condenado pela Justiça, em primeira instância, a 51 anos de reclusão pela acusação de estuprar nove pacientes.
As investigações foram iniciadas pela Polícia Civil em 2016, quando duas pacientes denunciaram o médico por abusos sexuais. A defesa dele sustenta inocência e alega que a prisão foi arbitrária.
Por ter sido uma decisão da Justiça em primeira instância, o dermatologista L. W. F. teria direito de recorrer em liberdade. Porém, em entrevista coletiva nesta quinta-feira (11/8), a delegada Karine Maia, da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) de Montes Claros, afirmou que a prisão preventiva foi decretada pelo juiz em atendimento a pedido do Ministério Público Estadual (MPMG) por “questões processuais”, alegando não saber quais.
Por sua vez, o advogado Nestor Rodrigues, que defende o médico, alegou que o seu cliente é inocente, que, segundo ele, foi vítima de perseguição por parte das autoridades envolvidas na investigação, contra as quais anunciou que vai recorrer em “instâncias superiores e ajuizar ação em órgãos de corregedoria”.
A delegada Karine Maia afirmou, no entanto, que a investigação seguiu procedimentos corretos e não quis comentar as acusações do advogado. Rodrigues também anunciou que vai entrar com recurso no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) para tentar o relaxamento da prisão preventiva do médico.
Em junho de 2016, o dermatologista foi denunciado por duas pacientes, que são primas, de 21 e 23 anos. As duas supostas vítimas alegaram que foram abusadas pelo médico depois de terem sido sedadas no consultório dele, onde compareceram para fazer tratamento estético. Outras mulheres também foram ouvidas e, segundo a delegada Karine Maia, reforçaram as denúncias de abusos.
Na ocasião, o especialista denunciado chegou a ser preso temporiamente, mas foi solto e passou a responder o processo em liberdade. Ao ser solto, ele voltou a atender em seu consultório, já que o seu registro no Conselho Regional de Medicina (CRM-MG) foi mantido.
As investigações continuaram, com o processo judicial em segredo de Justiça. Na noite de quarta-feira, após a sentença condenatória, o médico foi preso em seu consultório, no Centro de Montes Claros, e levado para o Presídio Regional da cidade.
Em entrevista coletiva nesta quinta-feira, ao lado dos delegados Jurandir Rodrigues (chefe do 11º Departamento de Policia Civil) e Herilvelton Ruas (regional), a delegada Karine Maia afirmou que a Justiça da Primeira Instância confirmou na íntegra o indiciamento feito pela Policia Civil, a partir do inquérito.
Ela afirmou que, com base nas investigações, o médico foi indiciado pela acusação de estupro de vulnerável de seis pacientes (pelo fato de as supostas vítimas terem sido sedadas) e pelo estrupo de três vítimas mediante fraude – “neste caso, por recorrer a uma situação médica, com objetivo de cometer atos libidinosos”, sem o uso de sedativos.
Karine Maia afirmou que, além das vítimas prestarem depoimentos na delegacia, foram juntadas no inquérito provas contra o médico como fotos de partes íntimas das mulheres encontradas no computador do consultório dele e exames de corpo de delito nas vítimas feitos no Instituo Médico Legal (IML).
Segundo ela, as investigações concluíram que o médico teve “conjunção carnal”, incluindo sexo anal, com as seis pacientes enquanto elas estavam sedadas e três vítimas eram virgens antes dos abusos.
A delegada disse que o dermatologista usou pretextos para abusar sexualmente das mulheres em seu consultório, onde atuava sozinho.
“Em um dos casos, ele alegou para a vítima que os exames laboratoriais dela estavam alterados e precisava olhar o clitóris para ver se estava aumentado. Ela ficou um pouco resistente, mas falou: ‘então tá’. Ele colocou a menina em posição ginecológica, sem luvas e ficou analisando, manipulando o clitóris dela, ´para ver se estava crescido' porque era importante para o atendimento dele”, relatou Karine Maia.
Nestor Rodrigues, defensor do médico dermatologista, aponta que houve “fraude processual” e “perseguição” ao seu cliente, que, segundo ele, é inocente.
O advogado sustenta que o médico não abusou de suas clientes. “Ele adotou procedimentos comuns, que são os mesmos usados por todos os profissionais nos tratamentos relacionados à estética, como cirurgia plástica e procedimentos dermatológicos. Tanto é assim, que o CRM-MG reconheceu isso e absorveu o meu cliente por unanimidade”, alega.
Nestor Rodrigues também alegou que as fotos de partes íntimas das pacientes encontradas no computador do médico “são comuns em procedimentos médicos e são para avaliar o tratamento, seja de progressão ou regressão”.
“A defesa recebe com absoluta surpresa e indignação, a condenação consubstanciada em recursos estranhos ao processo, uma pena extremamente injusta”, afirmou o advogado.
Ele rebate a informação de que laudos de perícias do IML tenham sido usados como provas contra o médico. “A palavra da suposta vítima tão somente não embasa uma condenação. Condenação é (precisa de) prova concreta”, assegurou o advogado.
O defensor considerou ainda que a sentença proferida contra o médico é “absurda” e que vai recorrer às instâncias superiores para anular a decisão do juiz de primeira instância e colocar seu cliente em liberdade.