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Embalagem menor e preço alto: mudanças revoltam consumidores nos supermercados

Por Redação

12/08/2022 às 03:08:39 - Atualizado há

As últimas idas ao supermercado têm gerado uma surpresa à servidora pública Amy Magalhães Sholl: produtos com embalagem menor, mas mantendo o mesmo preço que se tivesse o peso anterior. “São vários, mas o que me vem principalmente na memória é o biscoito”, conta a mulher de 58 anos, moradora do bairro Padre Eustáquio, região Noroeste de Belo Horizonte.

O problema constatado por Amy é uma realidade em todo o Brasil. Trata-se do fenômeno conhecido como reduflação. A prática se resume à redução no tamanho das embalagens ou na quantidade dos produtos, mas com manutenção ou até elevação de preços. Tudo isso com o intuito de reduzir os custos, evitar encarecimentos e encaixar o produto no bolso do consumidor, tendo em vista a inflação de 10,07% medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Atualmente, o mecanismo atinge diversos produtos como os biscoitos, salgadinhos, sabão em pó, amaciantes, extratos de tomate e até caixas de bombons. No caso do cream cracker, algumas marcas adaptaram as embalagens de 200 gramas para 166 gramas. Já no extrato usado para molhos à bolonhesa, o peso foi reduzido de 320 gramas a 300 gramas. “De uma forma geral o consumidor é sempre muito lesado. Não só em alimento, mas em tudo. A gente percebe que cada dia que passa nosso poder aquisitivo está menor”, lamenta a servidora.

Apesar de assustar quem frequenta os mercados nos dias atuais, a prática é antiga, segundo o administrador do site de pesquisas Mercado Mineiro, Feliciano Abreu. Ele lembra que a reduflação é comum em períodos de grande pressão de preços, a exemplo do vivenciado com mais intensidade desde o ano passado, mas também em outros anos, como no final da década de 90 e início dos anos 2000. “É uma tentativa que a indústria faz para continuar vendendo, mas também de repassar seu custo para o consumidor que acaba não sentindo diretamente”, explica Abreu.

Um proprietário de uma rede de supermercados da região metropolitana de Belo Horizonte, que pediu anonimato, confirmou que o procedimento “sempre aconteceu”. “A indústria fala que é para adequar ao novo modelo de consumo de famílias menores, de lanches rápidos em vez de refeições na vida corriqueira. Mas a gente percebe que não é só isso. É para tentar conter mesmo o aumento do produto”, disse à reportagem.

Em entrevista à imprensa para apresentar dados do setor, realizada nesta quinta-feira (11), o vice-presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Marcio Milan, também indicou que o problema ocorre na indústria. “A formação de preços é feita na indústria, o supermercado apenas repassa aos consumidores”, ressaltou. Segundo a Abras, a alteração nas embalagens é um dos motivadores para a alta de consumo da população.

A entidade classifica a adaptação como de “melhor custo benefício” e capaz de resultar em “economia” ou “melhor valor agregado” aos consumidores. Versão essa que é rechaçada pela auxiliar de serviços gerais Jéssica Moreira, de 29 anos. “A diferença de tamanho é bem pouca para um preço igual. Um biscoito de 170 gramas está no mesmo valor de um de 150 gramas”, reclama. Mediante à nova realidade, aliada aos altos preços, ela afirma que reduzir o consumo tem sido a alternativa.

“A estratégia é controlar a quantidade, diminuir o uso e comprar marcas inferiores para dar conta”, afirma a mulher que é mãe de duas filhas pequenas.

Indústria confirma movimentação

O presidente da Câmara da Indústria de Alimentação da Federação da Indústria do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Vinicius Dantas, confirmou à reportagem de O TEMPO que alguns setores têm adotado a prática para evitar um aumento de preço. “Fizeram algumas reduções das embalagens, que é algo legal e permitido, desde que na embalagem se destaque e informe ao consumidor a gramatura menor”, explica.

Dantas afirma que, além de conter o encarecimento, as reduções nas embalagens buscam uma adequação aos hábitos de consumo da população. “A intenção não é lesar o consumidor, é evitar que fique impossível a compra do produto. Geralmente são reduções de 20, 30 gramas”, complementa.

Questionado sobre o motivo de os preços não acompanharem a redução nos volumes, ele reafirmou a intenção de evitar elevação nos valores ao consumidor. A reportagem também questionou a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos, que não se posicionou até a publicação desta matéria.

Como denunciar abusos?

O Código de Defesa do Consumidor assegura à população a prestação de informações “adequadas e claras” sobre os produtos e serviços com a especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e, também, tributos que incidem sobre as mercadorias e riscos que apresentam.

Diretor do Procon de Belo Horizonte, Igor Couto afirmou que a redução no tamanho das embalagens não pode ser fiscalizada pelo órgão devido ao livre mercado. No entanto, ele aconselha a formalização de denúncias caso o consumidor verifique que o produto vendido está com quantidade inferior ao anunciado nos rótulos.

“Nesse quesito, quando a informação que a empresa passa não condiz com a verdade, o Procon consegue atuar e formalizar uma reclamação do consumidor e cumprir os direitos previstos no código de defesa”, explica.

Fonte: O TEMPO
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