Puxado pela valorização de carros novos e seminovos, o preço para contratar um seguro automotivo no Brasil subiu 40,4% nos últimos 12 meses. A alta foi mensurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) a partir do monitoramento da inflação oficial medida no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Mas apesar do percentual apurado via IBGE, no mercado quem trabalha com a venda dos produtos afirma que em alguns casos os contratos chegaram a dobrar de preço entre 2021 e 2022. Proprietário da corretora Projetare, Hudson Pinto Coelho afirma que o cenário de inflação tem dificultado as renovações contratuais.
Nos últimos dois meses, inclusive, ele apura uma queda de 20% no número de clientes. “Para se ter ideia, em junho renovei uma frota que o cliente pagou no ano anterior R$ 85 mil em uma frota de 15 veículos e esse ano, com os mesmos veículos, foi para R$ 195 mil. Aumentou mais de 100%”, ilustrou o corretor há 30 anos no mercado.
Hudson explica que o encarecimento do seguro está diretamente relacionado à valorização dos veículos, sejam novos ou seminovos. A situação deriva da dificuldade da indústria automotiva em abastecer o mercado com carros zero quilômetros com a falta de chips semicondutores que afeta todo o mundo. O problema se arrasta desde 2021 e quem deseja retirar um automóvel zerado da concessionária paga 17,5% a mais desde o ano passado. Já para os seminovos, a alta média apurada pelo IBGE foi de 12,5%.
“Se o carro valia R$ 50 mil há dois anos e passou para um valor de R$ 70 mil, a taxa do contrato vai ser em cima do novo valor”, reforça Coelho. A situação atinge todos os modelos, desde utilitários e hatches até os SUVs e carros de luxo. “Tem cliente que às vezes tira um benefício do contrato para fixar mais barato ou larga de vez e vai para uma cooperativa. Em função da economia, eu percebo que alguns clientes estão trocando os seguros por diferenças de R$ 30, R$ 50 entre as propostas”, observa.
Quem se encaixou nesse perfil foi o auditor fiscal Marcelo Mizeremi, de 23 anos, morador da região metropolitana de Belo Horizonte. No ano passado, ao receber respostas de cotações para contratação de um seguro para o carro, avaliado em R$ 25 mil, ele optou por uma cooperativa que apresentou valor mais atrativo. “Como eu tenho 23 anos, ainda estou com uma faixa etária que para o seguro o risco é muito alto e o valor fica inviável”, afirmou o jovem.
Atualmente, ele paga entre R$ 1.500 a R$ 1.800 para a proteção veicular. Se tivesse optado por um seguro tradicional, o desembolso anual chegaria a R$ 3.500. “No ano que vem se melhorar a situação eu faço um seguro mais enxuto, sem muitos adicionais, quilometragem muito alta. A cooperativa foi um paliativo”, contou à reportagem.
Já para o aposentado Marcelo Pimentel, de 62 anos, a situação foi um pouco diferente. Ele manteve a renovação do seguro, mesmo com um aumento de mais de R$ 500 no intervalo de um ano. O que aumentou o valor contratado por ele foi justamente a valorização do carro.
Em maio de 2019, o veículo foi comprado por R$ 68 mil. Com a tabela Fipe inflacionada, a cotação subiu para R$ 72 mil. Para renovar a apólice, o aposentado, morador de Casa Branca, em Brumadinho, reduziu alguns benefícios como carro reserva e reboque ilimitado.
“Sem seguro não tem como ficar, infelizmente. Se você tem R$ 10 mil para comprar um carro, escolhe um de R$ 9 mil e guarda R$ 1 mil para pagar o seguro”, aconselha o aposentado.
Apesar dos preços mais caros, a contratação de seguros não foi freada, pelo menos dentro do que foi apurado pela Unicred, empresa que tem 15 seguradoras na cartela. De acordo com a diretora superintendente da empresa, Ana Carolina Ramos, no ano passado o número de contratos formalizados aumentou 40%. O ritmo, conforme a gestora, está mantido neste ano mesmo com valores que chegam a ser 50% mais altos.
Ela atribui a boa movimentação à retomada da vida da população no período após a fase mais aguda da pandemia. “O número de furtos e roubos de veículos aumentou 20% nesse pós-pandemia e o risco para as seguradoras também aumentou bastante”, argumenta. Ramos ainda afirma que a expectativa é de que ocorra uma redução nos valores a partir da estabilização no custo dos carros novos e seminovos.
“Vai depender muito desse retorno das montadoras ao mercado nos veículos zero quilômetros, se vamos continuar tendo valorização do usado como está. Quanto maior o valor do bem, mais caro vai ser o valor do seguro”, complementa.
No momento em que as atenções da população estão voltadas para produtos com menor custo, a advogada Aline Dias, diretora da área cível da Todde Advogados, orienta que os contratos sejam averiguados com cuidado independente de qual empresa contratada.
A dica é se atentar aos benefícios e coberturas que estão previstas na apólice e certificar-se do que está sendo negociado para evitar problemas futuros. Um dos principais pontos, na opinião da especialista, é ter a garantia de que a instituição em questão é inscrita na Superintendência de Seguros Privados (Susep).
O órgão é ligado ao governo federal para autorizações, controles e fiscalização do mercado de seguros no Brasil. Para quem escolhe cooperativas que vendem proteção veicular e não seguro, o cuidado deve ser ainda maior.
“Ele deve ler atentamente o contrato antes de assinar para evitar surpresas, verificar a reputação da cooperativa em sites como Reclame Aqui, Procon, verificar se tem reclamações, se tem cooperados satisfeitos”, aconselha a advogada. Outro ponto de atenção é a história da cooperativa e o número de sócios.
“Porque se houver um sinistro, a reparação do veículo vai ser paga com o montante que a cooperativa arrecadar. Então se ela tiver poucos sócios, a probabilidade de ter uma eventual inadimplência para consertar o veículo é grande. E quanto mais cooperados, mais chances de ter dinheiro em caixa para arcar com prejuízos”, acrescenta Aline Dias.