Os Estados Unidos decidiram participar da parada naval do 7 de Setembro no Rio de Janeiro, mas não enviarão representantes ao palanque montado por Jair Bolsonaro (PL) na capital fluminense no dia da celebração do Bicentenário da Independência. Os americanos se viram numa posição complicada, dado que três de seus navios de guerra estão a caminho do Rio para participar do exercício multilateral Unitas-2022, um evento anual realizado em países da América Latina sob o comando da Marinha dos EUA desde 1960.
A escolha do Brasil para sediar o evento este ano ocorreu antes de Bolsonaro ser eleito em 2018, e a diplomacia americana temia a associação entre sua presença e o discurso golpista do presidente contra o sistema eleitoral. A Marinha brasileira convidou todos os participantes do exercício para a parada naval.
Ao tentar associar a data nacional a um evento de defesa de seu governo e contra a Justiça Eleitoral, Bolsonaro criou um constrangimento diplomático –aumentando um mal-estar colocado quando ele chamou embaixadores em Brasília para expor suas teses falsas contra as urnas eletrônicas.
Funcionários americanos haviam afirmado, sob reserva, que o país não deveria integrar a parada prevista para percorrer o litoral carioca no 7 de Setembro, do Recreio dos Bandeirantes até o Leme, passando pelo palanque de Bolsonaro em Copacabana. Oficiais da Marinha, por sua vez, diziam que a presença estava confirmada. A reportagem do jornal Folha de S.Paulo sobre isso foi publicada às 11h51 da terça. No fim da noite, a Embaixada dos EUA divulgou nota afirmando que 2 dos 3 navios que estarão no Unitas iriam participar da parada. O país assim compartilha a decisão chilena de manter a fragata Williams, enviada ao Unitas, no desfile que será liderado pela nau-capitânia brasileira Atlântico e pelo Cisne Branco, veleiro de instrução e relações públicas da Marinha.
O caso de Santiago é ainda mais intrincado, já que o governo chileno convocou o embaixador brasileiro para explicar as acusações infundadas feitas por Bolsonaro contra o presidente do país, Gabriel Boric, de que ele teria depredado patrimônio público nos protestos de 2019 no país. Mas a política de boa vizinhança, particularmente entre as Forças Armadas, falou mais alto. Entre militares consultados, havia a expectativa da participação das duas autoridades americanas que estarão na abertura do Unitas, no dia 8, no evento do Rio. Não houve convite formal, mas a decisão de Washington é não ter ninguém no palanque carioca.
Diplomatas minimizam tal incômodo, buscando manter boas relações com o Brasil, mas o fato é que os EUA deram sinais inequívocos de reprovação da campanha do presidente contra o sistema eleitoral. A embaixada em Brasília chegou a divulgar uma nota oficial dizendo que as urnas eletrônicas eram exemplo para o mundo, após o constrangedor episódio com os representantes internacionais e Bolsonaro. Embaixadas têm acompanhado de perto as eleições brasileiras. A voz corrente é o tradicional "vamos trabalhar com qualquer um que ganhar", mas há preocupações com a campanha promovida contra a lisura do pleito pelo presidente. (IGOR GIELOW/Folhapress)