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Dólar cai, e bolsa sobe: veja como ficou o mercado nesta segunda-feira (5)

Por Redação

05/09/2022 às 19:24:55 - Atualizado há

O dólar abriu a semana em baixa no mercado doméstico de câmbio, voltando a testar o patamar de R$ 5,15, em meio ao avanço dos preços das commodities na esteira de anúncio de estímulos monetários na China. Houve relatos de entrada de fluxo externo e movimento de ajustes e realização de lucros, dado que a divisa fechou a semana passada com alta de 2,10%. Operadores ressaltam, contudo, que a ausência dos mercados americanos, fechados pelo feriado do Dia do Trabalho nos EUA, deprimiu a liquidez e deixou a formação da taxa de câmbio mais suscetível a negócios pontuais.

Afora uma alta esporádica e bem limitada nos primeiros minutos do pregão, quando registrou a máxima da sessão (R$ 5,1904), o dólar operou em baixa ao longo de toda o dia. À tarde, renovou sucessivas mínimas, flertando com rompimento do piso de R$ 5,15, ao tocar R$ 5,1507 (-0,66%). No fim, a divisa era cotada a R$ 5,1540, em baixa de 0,59%. Termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para outubro apresentou giro deprimido, inferior a US$ 8 bilhões.

"O que está impactando o dólar hoje é mesmo essa alta mais forte das commodities. Parece que existe um fluxo bom para a Bolsa ajudando o câmbio", afirma o analista de câmbio da corretora Ourominas, Elson Gusmão, ressaltando que a liquidez esta muito reduzida. "A única coisa que podemos prever para o câmbio é muita volatilidade. Além das questões externas, temos um período conturbado com as eleições".

No exterior, o dólar subiu em relação a moedas fortes, em especial o euro, que atingiu o menor nível em 20 anos, abalado pela crise energética na Europa. A estatal russa Gazprom interrompeu o fornecimento de gás ao continente por meio do gasoduto Nord Stream 1 por tempo indeterminado pretextando necessidade de manutenção. A Europa sofre com a combinação de perda de fôlego da atividade com inflação recorde.

O PMI Composto da zona do euro, que abrange indústria e serviços, caiu para 48,9 em agosto, o menor nível em 18 meses. As vendas no varejo na região subiram 0,3% em julho em relação a junho, abaixo do esperado (+0,4%). Na comparação anual, houve retração de 0,9%. Apesar do temor de estagflação, especula-se que o Banco Central Europeu possa anunciar, na quinta-feira, 8, alta da taxa de juros em 75 pontos-base. Também na quinta-feira o mercado vai monitorar discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, para calibrar as apostas para o tamanho do ajuste monetário nos EUA.

Em relação a divisas emergentes e de exportadores de commodities, o dólar teve comportamento misto, com queda na comparação com real, rand sul-africano e o peso colombiano. Na contramão, apareciam o peso mexicano e o chileno, que reverteu os ganhos vistos mais cedo, atribuídos ao fato de a população chilena ter rejeitado, em plebiscito, a nova Constituição.

Commodities metálicas como cobre e minério de ferro apresentaram alta firme, insufladas pelo corte da taxa de compulsório bancário em 2 pontos porcentuais, para 6%, pelo Banco do Povo (PBoC, o banco central chinês). O recuo do PMI composto da China de 54 em julho para 53 em agosto alimenta a visão de perda de fôlego do gigantes asiático, embora leituras acima de 50 ainda indiquem expansão.

O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, afirma que o desempenho da atividade na China, embora ainda positivo, dá sinais de que está perdendo força, refletindo bloqueios relacionados à política de Covid-zero e à queda do setor imobiliário. A recuperação das commodities, em particular o petróleo, contribuíram para o recuo do dólar nesta segunda, mas há certa rigidez "para baixo", com desaceleração do fluxo externo e "risco de correção dos mercados acionários nos EUA ao longo de setembro", afirma Velho.

Achatados na semana passada, os preços do petróleo subiram com força nesta segunda após o grupo que reúne países exportadores (Opep+) anunciar retomada, em outubro, dos níveis de produção de agosto - o que significa um corte de 100 mil barris por dia na oferta do óleo. O contrato do Brent para novembro - referência para Petrobrás - fechou em alta de 2,93%, a US$ 95,75 o barril.

A economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, afirma que a moeda brasileira encontra certo suporte no aumento da internalização de recursos para exportadores. "Seguem firmes os 'drivers' sempre mencionados de diferencial de juros e, principalmente de crescimento, tendo em vista a divulgação do PIB do segundo trimestre, que sacramentou crescimento superior a 4% anualizados no primeiro semestre do ano, contra a forte desaceleração da economia global nesse período", afirma a economista, em relatório.

Na contramão do exterior, Ibovespa sobe 1,21%, a 112,2 mil, 3º ganho seguido

Mesmo sem a referência de Nova York na sessão, pelo feriado do Dia do Trabalho nos Estados Unidos, o Ibovespa e o câmbio continuaram a refletir um descolamento benigno do Brasil de fatores de risco externo, que punem neste momento em especial os ativos europeus, com a aproximação do inverno no Hemisfério Norte em meio a incertezas tanto sobre o custo como sobre o nível de abastecimento de gás natural no velho continente. Nesta segunda-feira, a referência da B3 emendou o terceiro ganho em uma largada de setembro até aqui sem revés.

Entre mínima de 110.864,76 e máxima de 112.671,39 pontos, o índice fechou em alta de 1,21%, aos 112.203,35 pontos, saindo de abertura aos 110.867,93 pontos. Muito enfraquecido pelo feriado em Nova York, o giro financeiro ficou em R$ 19,4 bilhões na sessão. Em setembro, o Ibovespa avança 2,45%, colocando os ganhos do ano a 7,04%. No câmbio, o dólar fechou nesta segunda em baixa de 0,59%, a R$ 5,1540, com mínima a R$ 5,1507 na sessão

O desempenho das ações de commodities como petróleo e minério de ferro, em recuperação parcial de preços nesta segunda-feira, foi fundamental para que o Ibovespa subisse na abertura da semana. Ao fim, contudo, Petrobras refugou ao fechar em baixa de 0,21% (ON) e de 0,27% (PN), após ter chegado a se alinhar, ainda que a uma grande distância, ao sinal de retomada do Brent na sessão, em alta de quase 3% em Londres, a US$ 95,75 por barril para novembro. A Opep+ informou nesta segunda-feira corte de 100 mil barris por dia na oferta da commodity, na contramão da pressão ocidental por aumento de fornecimento.

"Enquanto uns sofrem, outros comemoram. O Ibovespa hoje foi fortemente beneficiado pelo mesmo fator que preocupa mercados europeus: a oferta limitada de commodities", observa Paula Zogbi, analista da Rico Investimentos, destacando o desempenho do segmento de materiais básicos na B3 nesta segunda-feira, com o IMAT em alta de 1,97% no fechamento. O dia também foi positivo para as ações com exposição à economia doméstica, com o índice de consumo (ICON) em alta de 0,94%.

Lá fora, o corte de oferta de petróleo vem em momento de muita cautela no mercado de energia, com novas interrupções no fornecimento de gás russo à Europa. A perspectiva de temperaturas mais baixas já em outubro, com o outono, traz pressão adicional sobre a inflação no continente. "Esta nova onda pode contribuir para a curva da inflação ao consumidor continuar em linha crescente no gráfico, com raízes no preço do gás natural, em disparada desde o início do ano", diz Rodrigo Simões, professor da FAC-SP especializado em economia e finanças, referindo-se aos efeitos da invasão da Ucrânia pela Rússia sobre o setor de energia.

"A zona do euro tem cenário desafiador nos próximos meses para tentar controlar este jogo de xadrez: uma combinação dura de inflação com subida de taxa de juros e diminuição da atividade econômica", acrescenta Simões. Assim, nesta segunda-feira, o sinal foi majoritariamente negativo especialmente no horário de negócios na Europa, onde as perdas nas principais praças chegaram a 2,22% (DAX, de Frankfurt).

"Houve estresse grande na Europa num dia que era pra ser tranquilo com o feriado do Dia do Trabalho nos Estados Unidos. O anúncio da Gazprom, da Rússia, de interromper o fluxo do Nordstream, que começou ainda na quinta, sexta-feira com alegação de motivos técnicos, de vazamentos, vem agora com alegação de que, se não tirarem as sanções, não mandarão o gás", diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.

"Semana importante para a Europa com a decisão sobre juros do BCE (Banco Central Europeu), em que o mercado está dividido entre um aumento de 0,50 ou de 0,75 ponto porcentual para esta reunião, no momento em que o continente parece caminhar para uma recessão. As notícias de seca, de que seria a maior em 500 anos, também estão muito fortes", acrescenta o economista.

No domingo, a Alemanha, maior economia do bloco, anunciou um pacote de iniciativas para mitigar os efeitos da escalada dos custos de energia para os consumidores, mas o plano foi considerado curto demais pelo mercado. "Embora o pacote (de 65 bilhões de euros) traga algum alívio para os financeiramente mais fracos, é duvidoso que seja suficiente para compensar totalmente o impacto das contas de energia mais altas", aponta o ING, acrescentando que 65 bilhões de euros são menos de 2% do PIB alemão. "O estímulo fiscal alemão durante a pandemia, excluindo garantias, totalizou cerca de 15% do PIB", acrescenta o banco, em relatório a clientes.

Na B3, o desempenho positivo foi assegurado pelo setor de mineração e siderurgia, com Vale à frente (ON +3,66%), ainda em patamar de preço muito depreciado, a R$ 65 a ação, acumulando perda de quase 9% no ano. Nesta segunda, a alta de cerca de 4% para o minério de ferro na China (Dalian), embora ainda abaixo de US$ 100 por tonelada, contribuiu para o avanço das ações do setor, com destaque também para Gerdau (PN +1,45%) e CSN (ON +2,01%). Os grandes bancos foram outro ponto favorável do dia, com ganhos até 1,62% (Itaú PN), à exceção de BB (ON -2,12%).

Na ponta do Ibovespa nesta segunda-feira, Pão de Açúcar (+9,72%), PetroRio (+6,45%), Sul América (+3,77%) e Vale (+3,66%). No lado oposto, Positivo (-2,68%), Marfrig (-2,41%) e Banco do Brasil (-2,12%). "O mercado esteve mais esvaziado hoje por conta do feriado americano. De novidade, uma depreciação de Europa até maior do que a gente imaginava, principalmente pela inflação no preço do gás, o que causou uma deterioração dos ativos de lá", diz José Simão, sócio e head de renda variável da Legend Investimentos.

"Aqui, a gente tem ainda um pouco do reflexo positivo do PIB, que veio na semana passada. A fotografia que fica é Brasil com números um pouco melhores especialmente em relação à atividade econômica, e lá fora, dando continuidade, Europa em situação bem pior, com PMIs índices de atividade andando pra baixo, e Estados Unidos trazendo juros para ao menos 4% (ao ano) para, futuramente, ancorar as expectativas em direção à meta de inflação", acrescenta o gestor.

"Os investidores seguem preocupados com a crise energética do continente europeu devido ao corte de fornecimento de gás pela Rússia por tempo indeterminado, e também ainda receosos com a possível alta de juros, mais elevada, que será decidida na próxima reunião de política monetária do Banco Central Europeu", nesta quinta-feira, dia 8, observa Letícia Sanches, especialista em renda variável da Blue3. (Estadão Conteúdo)

Fonte: O TEMPO
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