Neste sábado (10), Emerson Fittipaldi fará uma viagem no tempo. Será a bordo da Lotus 72, mesmo carro com o qual ele conquistou o primeiro título do Brasil na F1, há exatos 50 anos.
Dentro do cockpit projetado pela lendária escuderia inglesa, o paulista fará uma apresentação no circuito de Monza, na Itália, onde ele se tornou campeão mundial em 10 de setembro de 1972 –o evento ocorrerá momentos antes do treino de classificação para o GP da Itália, neste domingo (11).
Aos 25 anos, 8 meses e 29 dias, ele se tornava à época o mais jovem piloto a conquistar o título. Era como uma marca do pioneirismo pelo qual ele seria reconhecido no automobilismo.
Dois anos antes, em 1970, ele havia se tornado o primeiro brasileiro a vencer uma corrida na categoria. Foi nos Estados Unidos, em Watkins Glen, nas cercanias de Nova York.
Não foi um momento fácil para a Lotus. A equipe havia acabado de perder seu piloto número 1, o alemão radicado na Áustria Jochen Rindt. Líder da temporada naquele ano, ele sofreu um acidente fatal na Itália, quando liderava o campeonato com folga restando mais três corridas (Canadá, EUA e México).
Em solo canadense, a equipe inglesa optou por não levar seus carros à pista, em luto pela morte de Rindt, aos 28 anos. Na etapa seguinte, nos EUA, Fittipaldi foi alçado ao carro número 1 da equipe. Com a vitória dele, e não do belga Jacky Ickx, da Ferrari, o paulista confirmou o título de Rindt, até hoje o único campeão póstumo da F1.
Na temporada de 1972, o brasileiro já era o primeiro piloto da equipe e fez um grande campeonato. Subiu ao lugar mais alto do pódio em cinco das 12 etapas (Espanha, Bélgica, Inglaterra, Áustria e Itália). Para ele, a principal delas foi justamente a última, em Monza, onde confirmou o título.
Naquela corrida, o brasileiro largou em sexto. Seu maior rival na disputa do campeonato, o escocês Jackie Stewart, da Tyrrell, era o terceiro do grid.
No decorrer da prova, enquanto o brasileiro ganhava posições, Stewart teve problemas na embreagem de seu carro, o que o impediu de completar a corrida. Já Fittipaldi estava determinado a vencer.
"Em Monza, perdi um grande amigo e campeão, Jochen Rindt. Antes de ir à pista, eu tinha que apagar essa memória de 1970, pois poderia me atrapalhar. Eu estava determinado não só a ganhar o campeonato, mas queria também vencer o GP da Itália", disse, em uma recente entrevista à TV Globo.
Ele cumpriu sua meta, levando o público local ao delírio. "Quando voltei ao boxe, o público italiano começou a invadir a pista", recordou-se. Ao vencer em solo italiano, fechou o campeonato com 61 pontos, 16 a mais do que Stewart.
Ainda no autódromo, o piloto recebeu também um telegrama do presidente do Brasil à época, Emílio Garrastazu Médici (1905-1985). No texto, o terceiro mandatário do país no período da Ditadura Militar destacava a juventude do mais novo campeão.
"Ao trazer-lhe meu abraço de felicidade por sua notável vitória no Grande Prêmio da Itália, encontro no mais jovem campeão mundial de automobilismo, a resposta da mocidade brasileira à nossa confiança em seu valor e em seu papel", dizia trecho da mensagem, reproduzida pela Folha de S. Paulo em 11 de setembro de 1972.
Emerson Fittipaldi ainda demoraria algum tempo para, enfim, reencontrar o público brasileiro. A volta para o país ocorreria somente no fim de outubro. Ao desembarcar no Aeroporto de Congonhas após uma breve escala no Rio de Janeiro, o campeão foi recebido por uma multidão de fãs.
Durante quase três horas, ele desfilou em carro aberto do aeroporto até o Ibirapuera. Lá, por volta das 11h, foi recebido pelo prefeito Figueiredo Ferraz (1918-1994) em um palanque.
Mal sabia o jovem que, anos mais tarde, ele também tomaria gosto por subir em palanques políticos. Aos 75 anos, ele é atualmente candidato ao senado na Itália pelo Fratelli d'Italia, um partido de extrema-direita.
A entrada na vida política ocorreu após um convite do deputado ítalo-brasileiro Luis Roberto Lorenzato, correligionário do ex-ministro do Interior Matteo Salvini na Liga e bolsonarista convicto.
O próximo pleito na Itália será em 25 de setembro. No Brasil, as cédulas eleitorais preenchidas precisam ser enviadas aos consulados até o dia 22.
O bicampeão mundial recebeu, recentemente, o apoio da família Bolsonaro. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) gravou um vídeo pedindo votos para o ex-corredor.
À agência italiana Ansa, o ex-piloto afirmou recentemente que já teve convites para entrar na política no Brasil também, porém declinou das propostas. No país, ele responde a pelo menos 145 processos judiciais abertos pelos mais diversos credores, inclusive trabalhistas, que lhe cobram dívidas estimadas em mais de R$ 55 milhões, conforme levantamento feito pela Folha de S. Paulo em 2020.
Enquanto cava seu espaço no senado italiano e tenta equacionar suas dívidas, o bicampeão busca usar seu prestígio para abrir caminho para o Brasil voltar à F1. Nenhum piloto do país corre na categoria como titular desde que Felipe Massa se aposentou, no final da temporada de 2017.
Pietro Fittipaldi, neto de Emerson, disputou duas corridas na categoria em 2020, pela equipe Haas, nas etapas de Sakhir e Abu Dhabi, quando um dos titulares da equipe à época, Romain Grosjean, recuperava-se de um acidente e o brasileiro era o reserva imediato.
O bicampeão espera conseguir repetir agora o que fez no passado, quando o sucesso dele abriu espaço para os brasileiros que almejavam chegar à F1. Foi por essa esteira que passaram os tricampeões Ayrton Senna e Nelson Piquet, além de grandes nomes que chegaram perto do título, como Rubens Barrichello e Felipe Massa.
Desde a primeira vitória de Emerson, o Brasil conquistou ao todo 101 na categoria. Atualmente, somente a Alemanha, com 179, e o Reino Unido, com 307, estão à frente dos brasileiros. O Brasil também é o terceiro com mais títulos, com oito, sendo dois deles de Fittipaldi, em 1972 e 1974. (Estadão Conteúdo)