Questionado sobre a alegação de que teria vencido as eleições de 2018 no primeiro turno se não fosse por uma fraude, o presidente da República, Jair Bolsonaro, citou dados públicos da apuração minuto a minuto do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que mostravam que ele chegou a ter mais de 50% dos votos válidos quando a apuração ainda estava incompleta. A situação foi classificada pelo mandatário como um "indício fortíssimo" de fraude, apesar de viradas ao longo da apuração serem corriqueiras em pleitos apertados.
O presidente também sugeriu que as informações da evolução por minuto da apuração seriam reservadas, apesar de se tratar de um dado publicamente disponibilizado pelo Tribunal. "E daí chegou uma pessoa para mim e mostrou, numa tela do computador, a apuração minuto a minuto que vinha ocorrendo no TSE. Coisas que vocês não têm aí. Nós acabamos tendo aqui", disse. As declarações foram dadas por Bolsonaro no início da noite desta sexta-feira, 15, durante entrevista ao programa "Os Pingos nos Is", da rádio Jovem Pan.
Ao longo do programa, Bolsonaro voltou a dizer que, se não fosse por uma fraude, teria vencido as eleições no primeiro turno. Como ele afirma, desde março do ano passado, que iria provar a afirmação, foi indagado sobre as evidências pelo apresentador.
"Então, em mais ou menos duas horas, duas horas de apuração, uma hora dava (que) eu ganhava, num minuto era eu e no minuto seguinte era o (Fernando) Haddad. Eu, Haddad, eu, Haddad. Por aproximadamente 120 vezes. Eu, ele, eu, ele. Se você for falar em estatística, a chance disso acontecer é de você ganhar três vezes seguidas na Mega Sena da virada. Quer maior indício disso? Além de outros, de outro grupo (que teria chamado atenção para outro indício de fraude)", alegou.
Dados amplamente divulgados pelo TSE mostram que o presidente chegou a ter mais de 50% dos votos válidos por cerca de 1 hora e 15 minutos durante a apuração. Primeiro, isso aconteceu por 11 minutos, das 17h02 às 17h12. Depois, isso aconteceu por outros 66 minutos, das 17h18 às 18h23.
Diferentemente do que disse o presidente, Haddad não chegou a virar a eleição, permaneceu em segundo lugar pela maior parte da apuração, descontado o começo da contagem. A virada que se deu foi entre Bolsonaro estar abaixo de 50% dos votos válidos - situação que demanda segundo turno - ou acima dessa porcentagem, o que significaria que ele seria vencedor já no primeiro turno.
Não foram registradas 120 viradas, mas duas. Ou seja, em duas ocasiões, Bolsonaro esteve com mais de 50% dos votos válidos durante a apuração. Essa situação não é incomum em eleições apertadas. No segundo turno das eleições presidenciais anteriores, em 2014, em que a petista Dilma Rousseff disputou contra o tucano Aécio Neves, também ocorreu virada. Aécio começou na frente mas, depois que mais urnas foram sendo contadas, Dilma foi reduzindo a diferença. A petista ultrapassou o tucano às 19h32.
Em março de 2020, quando Bolsonaro prometeu que iria provar que venceu eleição de 2018 no primeiro turno, ele foi rebatido pelo TSE, pela então presidente da corte, ministra Rosa Weber, e pelos ministros Luís Roberto Barroso e Marco Aurélio Mello.
Em novembro de 2018, logo depois de vencer as eleições, Bolsonaro se encontrou com ministros do tribunal e disse que, "no calor dos acontecimentos, a gente dá umas caneladas". A frase foi entendida como um pedido de desculpas pelas críticas feitas durante a campanha, quando ele colocou em dúvida a lisura das urnas eletrônicas.