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Janones promete amenizar 'tom bélico' na reta final da campanha de Lula

Por Redação

18/09/2022 às 09:10:03 - Atualizado há

Desde que passou a integrar a equipe de coordenação da campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato à Presidência, o deputado federal André Janones (Avante-MG), que concorrerá à reeleição na Câmara, tem chamado atenção por confrontar os apoiadores e pessoas próximas ao presidente Jair Bolsonaro (PL), principal adversário de Lula na disputa eleitoral.

Entre os surpreendidos com a atuação de Janones, há setores da esquerda, que se mostra chocada com a agressividade do mineiro. Para o parlamentar, essas pessoas "plantam suspeitas" de que a campanha petista não está satisfeita com sua atuação nas redes pró-Lula, com o único objetivo de "tentar gerar crise".

"Todos estão muito satisfeitos, e é recíproco, também estou muito satisfeito com o tratamento que tenho recebido", garantiu Janones, em entrevista exclusiva à reportagem de O TEMPO, por telefone.

Deputado federal eleito por Minas Gerais em 2018, ele desistiu de concorrer ao Palácio do Planalto, mesmo após a convenção nacional do Avante ter oficializado o nome dele em fins de julho, para apoiar o petista e levar o partido para a coligação do PT com outros nove partidos, desde a primeira semana de agosto.

Faltando exatamente duas semanas para 2 de outubro, dia do primeiro turno das eleições gerais, o advogado e parlamentar disse que está disposto a mudar o tom nas redes sociais, deixando de lado o belicismo para abraçar mensagens "paz e amor". De acordo com Janones, a decisão foi tomada por iniciativa própria e anunciada à campanha durante a reunião com os comunicadores que apoiam Lula, na última segunda-feira (12).

“Agora a gente vai adotar um tom menos bélico, mais paz e amor. Já mostrei as incoerências deles [bolsonaristas], já mostrei que a gente não vai abaixar pra eles, que a gente é capaz de fazer o enfrentamento. Agora é distribuir amor, mensagem de carinho e esperança, mostrar que é possível sair dessa situação”, contou Janones, que também é evangélico membro da Igreja Batista da Lagoinha de Belo Horizonte (MG), aquela do pastor André Valadão, mentor espiritual da primeira-dama Michelle Bolsonaro.

O deputado mineiro apontou que os apoiadores de Bolsonaro “se enforcam sozinhos” e citou o caso do empresário do agronegócio Cássio Cenali, que negou manter a entrega de marmitas para a diarista Ilza Rodrigues, moradora de área pobre do município de Itapeva, no interior paulista, depois que ela declarou voto em Lula.

Ao viralizar com o próprio vídeo humilhando a senhora, revelou-se que Cenali, dono de uma fábrica de ração animal, recebeu indevidamente R$ 5 mil de auxílio emergencial e é processado por sonegação de impostos.

Outro episódio lembrado por Janones foi a tentativa de intimidação e agressão proferida pelo deputado estadual Douglas Garcia (Republicanos-SP) contra a jornalista Vera Magalhães, da TV Cultura, após um debate de candidatos ao governo de São Paulo. A profissional fez boletim de ocorrência contra Garcia, que é candidato a deputado federal por São Paulo e integrava a comitiva de Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato de Bolsonaro para o governo de São Paulo. O ex-ministro da Infraestrutura tentou fingir que não o conhecia.

“Eu fiquei bélico num determinado momento, levantei o tom e mostrei que eles são hipócritas. Agora não é mais hora desse enfrentamento mais violento, até porque agora tem um acirramento dos ânimos, acho que qualquer atitude mais bélica é arriscada”, avaliou.

"Temos que ter responsabilidade enquanto é uma pessoa pública no que faz. Uma coisa é eu ter um tom mais agressivo a um mês da eleição. Outra coisa é eu ter um tom mais agressivo a três dias da eleição, então os ânimos vão ficando mais acirrados. Trago essa responsabilidade comigo desde sempre. Não preciso do Lula falar que não posso postar fake news. Eu tô na rede social desde que tenho 16 anos, então é minha percepção de campanha mesmo, estou fazendo exatamente a mesma coisa na minha campanha de deputado."

Sobre os rumores de que a campanha de Lula e o próprio ex-presidente tenham lhe dado alguma bronca, Janones é categórico: “Não existe dentro da campanha”.

“Eu sempre deixo claro nas reuniões, digo 'gente, somos um time, cada um atua numa posição, mas temos um técnico, um capitão, que é o Lula, então alguma coisa que vocês acham que precisa de ajuste, mudar o tom em alguma área, pode me falar que estou 100% à disposição pra ouvir'. Todas as vezes que digo isso, o pessoal fala que tá super bacana, que tá gostando do trabalho, que o resultado nas redes tá muito positivo.”

Janones organiza vigília com militância petista para os últimos dias das eleições

Ainda na reunião com comunicadores, Janones propôs uma nova estratégia para os três últimos dias que antecedem o primeiro turno. “Sexta-feira não tem mais [propaganda de] TV, é onde os grupos de whatsapp começam a 'bombar' e as pesquisas não conseguem pegar, como foi no movimento que elegeu Zema [Romeu Zema, governador de Minas Gerais]”, relatou.

“Marcamos uma reunião pra quinta-feira da última semana das eleições e a gente vai criar um grupo que vai funcionar como uma espécie de vigília nas redes pra ficar atento a qualquer movimento, pra responder rápido nesses últimos três dias que podem ser decisivos.”

Segundo o parlamentar, a função que assumiu na campanha de Lula se concentra na comunicação. “A gente tem um grupo de representantes das legendas, cada um contribui na área que tem mais condições, no meu caso é na comunicação.”

Janones confirmou que não possui as senhas nem nunca pretendeu ficar por conta das redes sociais de Lula, o que configura mais um diferencial em relação ao filho de Bolsonaro, o vereador Carlos (Republicanos-RJ), que toma conta da campanha digital do pai, é publicamente reconhecido pelo presidente como responsável pela eleição dele em 2018 e é um dos alvos bolsonaristas preferidos do deputado mineiro no Twitter.

“Nunca teve disputa por senhas. Eu sou deputado, era presidenciável até dois meses atrás. Tenho meu mandato, tenho minha campanha [à reeleição] pra cuidar. Nem pedi as senhas do Lula porque não tenho interesse nisso."

"Meu papel é contribuir opinando, falando sobre conteúdo, ajudando a entender como funciona o ambiente de redes, e não [ser] um funcionário da campanha com uma sala e senhas pra ficar postando. Inclusive a pessoa que cuida dessa parte é uma profissional muito competente, com quem eu tenho excelente relacionamento, que é a Bruna Rosa.”

Foi sucinto ao discorrer sobre sua própria campanha: "Estou concentrando em viagens de campanha pelo Triângulo Mineiro e trabalhando muito nas minhas redes sociais".

Janones diz que se arrepende de publicação que foi apagada após decisão do TSE

Embora garanta que nunca tenha sido repreendido pela campanha petista e por Lula, é notável que houve uma reação do ex-presidente um dia depois de uma publicação polêmica de Janones no Twitter.

Em reunião do comitê de campanha realizada em 6 de setembro, Lula olhou na direção do deputado federal quando disse: “A gente não tem que ficar retrucando e não tem que ficar aceitando o nível baixo de campanha, não precisamos fazer jogo rasteiro”.

No dia anterior, Janones havia atribuído ao Partido Liberal, legenda de Bolsonaro, o pedido de suspensão da lei do piso salarial da enfermagem, feito pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso, um dos desafetos do presidente da República na Corte. A campanha do presidente acionou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) imediatamente pedindo a exclusão das publicações.

Sobre esse assunto, o parlamentar admitiu que subiu demais o tom, mas não retira o que disse. “Não tenho problema em admitir minhas falhas, meus erros. Nas redes sociais tenho muito a contribuir e aprendo todos os dias também. Concordo que não utilizei a melhor maneira de comunicar a minha mensagem, mas em relação ao mérito, mantenho o que falei. Usei ali uma técnica de linguagem.”

“Eu fiz o tweet e logo embaixo disse que a notícia não é verdadeira, então não me arrependo do que fiz, mas como eu fiz. Ali eu mostrei pra militância como eles [bolsonaristas] fazem. Tem embasamento aquilo que falei, uma vez que o partido do presidente [Jair Bolsonaro] se posicionou, durante a votação [na Câmara], contra o piso da enfermagem”, argumenta.

“Eu já estava esperando uma oportunidade pra fazer isso, desde o início da campanha já era algo planejado e ali eu executei meu plano de mostrar que enquanto eles usam as fake news pra desrespeitar as instituições e atacar a imprensa, usei aquilo no sentido oposto. Eu dei a essa fake news um fim oposto do que fazem os bolsonaristas.”

Para Janones, ele “fechou com chave de ouro” esse assunto quando publicou um vídeo em resposta à decisão do TSE, onde faz chacota com o estilo bolsonarista de comunicar. Ao comentar sobre o vídeo, que até a publicação desta entrevista havia somado mais de 978 mil visualizações no Twitter, Janones disse que não concorda com a decisão da Corte Eleitoral.

“Confio na Justiça, creio que vou reverter essa decisão. Contudo, o que fiz imediatamente quando recebi a decisão foi aquilo que todo democrata, toda pessoa que vive num Estado democrático de direito deveria fazer, fui lá e cumpri a decisão, apaguei os tweets imediatamente.”

Janones como reflexo no espelho que atormenta os bolsonaristas

A entrada em campo de Janones na campanha de Lula e a imediata adoção de estratégias de comunicação que refletem e espelham as dos bolsonaristas nas redes sociais provocou um caos entre os adversários, o que deleita o mineiro.

Em mais de uma publicação no Twitter, o deputado federal divulga vídeos com reações e incômodos gerados em Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente e deputado federal, e em apresentadores de programas da Jovem Pan, reconhecidos pelo posicionamento "chapa branca".

Recentemente, Janones tem feito questão de responder publicações dos irmãos Eduardo e Carlos invertendo o discurso. Exemplo dessa tática foi numa postagem de Carlos no Twitter, do dia 10 de setembro, onde o vereador escreveu: "Como em toda campanha, para roubar votos de inocentes, a esquerda esconde o vermelho, critica drogas e chega até a dizer que não possui nenhuma relação com o comunismo. O candidato a Vice de Lula e Haddad em 2018 ter sido um membro do Partido Comunista do Brasil é mero detalhe".

Janones rebateu: "Como em toda campanha, pra roubar os votos de inocentes, seu pai esconde o Queiroz, critica o centrão, e chega até a dizer que não tem nenhuma relação com a milícia. Os envolvidos no assassinato da Marielle Franco terem visitado o condomínio onde sua família mora é mero detalhe". Por sinal, a publicação do deputado, feita no mesmo dia, teve 19 mil curtidas, ante 14 mil de Carlos Bolsonaro.

Outra investida parecida ocorreu no perfil de Eduardo Bolsonaro no Twitter, que publicou a seguinte mensagem no 11 de setembro, em memória das torres gêmeas derrubadas em Nova Iorque em 2001: "Há 21 anos, o mundo era abalado pelos atentados de 11 de Setembro, que além de matar milhares de inocentes, iniciaram uma nova era de destruição da sociedade ocidental. Que o exemplo dos heróis do WTC [World Trade Center, nome em inglês das torres] não seja em vão e que resistamos a este terror que ainda ameaça a civilização".

Janones não perdeu tempo: "Há 2 anos, o Brasil era abalado pela COVID,onde Bolsonaro além de ajudar a matar 400 mil brasileiros, ainda debochou das vítimas com falta de ar. Que o exemplo dos heróis da ciência e da área de saúde não seja em vão e que resistamos a esse terror que ainda ameaça a civilização".

Desta vez, novamente, a publicação do mineiro alcançou mais curtidas do que a do filho deputado de Bolsonaro: 18,9 mil de Janones ante 2,6 mil de Eduardo.

O susto causado no bolsonarismo tem lastro no fato de que, pelo menos desde 2018, as redes sociais eram uma arena onde os apoiadores de Bolsonaro eram pouco confrontados.

Janones se projetou e se elegeu em Minas Gerais após a greve dos caminhoneiros de 2018, quando usou a seu favor uma das ferramentas mais tradicionais do bolsonarismo, que são as lives transmitidas pelo Facebook.

Segundo o deputado, ele ressignificou as técnicas bolsonaristas nas redes com objetivos diferentes. “A principal ferramenta deles são as redes sociais. A minha atuação está mostrando as incoerências deles, que o que eles pregam não se sustenta. Não chamo nem de "fake news do bem". Digo assim, as redes sociais não são boas nem ruins, elas são ferramenta, depende da finalidade que você dá a elas. Eu decidi dar às minhas redes sociais a finalidade de fortalecer a democracia.”

“Quando digo "usar os mesmos mecanismos" não falo de fake news, falo de algoritmo, de fazer leitura da rede. Usar os mesmos instrumentos é o que fiz no vídeo do auxílio. Como fiz pra matar o boato deles de que Lula vai fechar igrejas? Fui lá numa live com Lula e falei 'o Bolsonaro vai acabar com o auxílio a partir de dezembro'. Eles criaram um fato e eu sobrepus com outro fato. Do ponto de vista ético, o que nos difere é que o fato deles é mentira, o Lula nunca falou que vai fechar igreja. O meu é verdade, o Bolsonaro acaba com o auxílio emergencial dia 31 de dezembro.”

Sobre essa live no Facebook, Janones mostrou, no Twitter, o número impressionante do alcance com visualizações, já na casa dos bilhões em 13 de setembro: 2.374.928.393. “Agora comecei a falar sobre empréstimo consignado e BPC! Até dia 2 o gado pira”, escreveu na publicação.

O deputado contou à reportagem que é processado por toda a família Bolsonaro. “O Eduardo Bolsonaro vai lá, fala um monte de besteira e escreve "isso é só uma opinião". O Eduardo é um dos maiores defensores na tribuna da Câmara dos Deputados que a imunidade parlamentar deve ser estendida para as redes sociais. Então olha a incoerência dele me processar. Toda a família Bolsonaro está me processando por causa das minhas falas nas redes sociais.”

“O meu objetivo é restabelecer uma democracia plena no nosso país. A gente vive hoje um estado de democracia mitigada. É uma democracia onde se permite xingar uma jornalista como aquele Douglas Garcia fez com a Vera Magalhães, é uma democracia onde se pode colocar em xeque as decisões da Justiça, onde se coloca em xeque o processo eleitoral.”

“A gente tem um golpe em curso. Me perguntam se eu acredito que o Bolsonaro vai dar um golpe, ele já está dando. Não se dorme num regime democrático pleno e acorda com um golpe posto, eles vão minando a democracia aos pouquinhos. Isso já começou.”

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Fonte: O TEMPO
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