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Morre Angelo Venosa, artista plástico que usava o fantástico nas esculturas

Por Redação

17/10/2022 às 19:16:42 - Atualizado há

Morreu nesta segunda-feira o artista plástico Angelo Venosa, um dos escultores mais expressivos nas artes visuais do Brasil, aos 68 anos. O trabalho de Venosa se tornou conhecido a partir da década de 1980, quando passou a realizar obras tridimensionais. Ele foi um dos escultores mais respeitados do período, associando materiais orgânicos e industrializados.

A morte foi em decorrência de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), uma doença degenerativa. Ainda no começo da carreira, o artista paulistano tinha uma preocupação construtiva, com esculturas que tinham uma sustentação interna, como vértebras de um corpo. Em estruturas gigantes de madeira, ele evocava uma espécie de esqueleto encalhado, ou monstros marinhos suspensos no teto, tudo com um tom fantástico.

Venosa foi para o Rio de Janeiro ainda nos anos 1970, e passou a estudar na Escola de Artes Visuais do Parque Lage na década seguinte. Ele fez parte da conhecida "Geração 80", que buscou uma retomada da pintura no país. Nessa cena artística, ele foi um dos únicos a se dedicar a uma investigação específica da escultura.

Foi nos anos 1990 que Venosa expandiu sua pesquisa, trabalhando também com outros materiais -mármore, cera, chumbo, couro, fibras de vidro e até dentes de animais. Suas esculturas ganharam as formas de estruturas anatômicas, e alargaram o vocabulário de formas vegetais e animais com que o artista trabalhava até então.

"É como construir uma silhueta, um esqueleto que depois ganha corpo", disse Venosa, em entrevista ao jornal, em 2013. "Tem uma coisa meio esquisita, híbrida, um galho que vira coisa construída."

Uma das mostras mais amplas do artista no Brasil aconteceu entre 2012 e 2013, com trabalhos que mostravam essa virada de figuras animalescas que foram perdendo suas estruturas, até beirarem a abstração. A exposição começou no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em comemoração aos 30 anos de carreira de Venosa. Em 2013, suas obras vieram para a Estação Pinacoteca, em São Paulo.

O Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, o MAC, também mostrou trabalhos mais recentes do artista na inauguração de "Clareira", uma programação permanente no espaço térreo da instituição.

Os exosqueletos gigantes, ora com uma película clara e fina, ora com um pigmento denso e sombrio, atravessavam a própria estrutura do museu. Alguma das estruturas que começavam no ambiente interno do museu ganhavam continuidade do lado de lá do vidro que separa o prédio, como se penetrasse o edifício.

O trabalho de Venosa também foi permeado por tecnologias mais recentes - e ele mesmo se dizia apaixonada por novos recursos. Numa exposição na galeria Nara Roesler de 2016, parte das esculturas do artista foi feita com uma impressora 3D.

Ele, aliás, usava computadores para auxiliar na construção de suas obras desde 1988, e começou a trabalhar com a modelagem 3D ainda em 2009.

"Utilizo [a impressora] de forma mais tosca, é a impressão sujeita aos dessabores da técnica", disse ele, em 2016, ao jornal. Na mesma ocasião, ele afirmou que a tecnologia não era seu foco, apesar da proximidade dele com os recursos. "A arte às vezes tem um excesso de sentido e eu quero menos sentido, busco uma certa opacidade. Acho que estou atrás de algo que não existe", afirmou.

Venosa também se destacou em grandes exposições, como a Bienal de São Paulo de 1987 e a Bienal de Veneza de 1993. O artista também figurou na Bienal do Mercosul e numa mostra sobre arte brasileira do século 20 em Paris, no final dos anos 1980.

Recentemente, a Fundação Museu Reina Sofía, em Madrid, na Espanha, recebeu 20 obras de arte de artistas brasileiros doadas pela Coleção Patricia Phelps de Cisneros, com nomes como o próprio Venosa, Nuno Ramos e Rosângela Rennó.

Em entrevista ao jornal, o artista negou que suas obras façam referências a coisas reais, mesmo que lembrem essas estruturas fantásticas de uma fauna e uma flora próprias. "Fiz os trabalhos sem pensar em nada", disse ele. "É uma liberdade imaginária." (Folhapress)

Fonte: O TEMPO
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