Há dez anos, a probabilidade de não conseguir um interlocutor para conversar sobre um podcast era grande. Embora os programas de rádio já existissem naquela época, a disseminação no Brasil ainda era tímida. Hoje, dia 20 de setembro - data em que se celebra o Dia do Podcast - o cenário é o oposto: inseridos no dia a dia dos brasileiros, os podcasts ganham cada vez mais relevância e passam, inclusive, a fazer parte da agenda dos candidatos à Presidência da República.
Nesta quinta-feira (20), o candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) esteve presente no programa "Inteligência LTDA" no qual conseguiu 1,7 milhões de acessos simultâneos. O resultado superou os números referentes à participação do também candidato a presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no podcast "Flow" na última terça-feira (18). No programa comandado por Igor Monteiro, o ex-presidente conseguiu atingir 1 milhão de acessos.
Esses números passaram a estampar matérias de jornais e posts em redes sociais; são utilizados nas campanhas dos candidatos e por cabos eleitorais como troféus. São verdadeiros objetos de disputa que mostram como os podcasts são importantes para a comunicação no Brasil.
Uma pesquisa divulgada em março de 2022, com base de dados da Statista e IBOPE, revelou que o Brasil é o terceiro país que mais tem ouvintes podcasts no mundo, com 40% de sua população - cerca de 30 milhões de pessoas - acessando e escutando os mais diversos programas.
Um (novo) mercado
A audiência cresceu juntamente com a proliferação de plataformas que tornaram os programas muito mais acessíveis - antigamente, os ouvintes tinham que baixar o programa ouvir no computador ou transferi-lo para um mp3 player, por exemplo - os programas de áudio e, mais que isso, investem no formato remunerando alguns criadores, os podcasters.
O Spotify, por exemplo, divulgou uma pesquisa na qual registrou mais 1,2 milhões de novos podcasts na plataforma em 2021, e investe cada vez mais conteúdos exclusivos, como o sucesso "Mano a Mano", com Mano Brown como entrevistador.
"As plataformas investem [em conteúdo próprio] e promovem concentração de mercado, ou seja, levam a audiência para os próprios podcasts. Essa é uma mudança que notamos [no mercado brasileiro] de 2019 para cá", explica Guilherme Alpendre, diretor executivo da Rádio Novelo, responsável pela criação e edição de vários podcasts de sucesso, como “O Foro de Teresina”, que completa: "Por um lado, é bom para gerar boas oportunidade para podcasters; por outro, fica difícil para novos podcasts ter mais visibilidade.
O publicitário e podcaster do "Um Milkshake Chamado Wanda", Samir Duarte, vê que o crescimento dos podcasts também faz com que o mercado e o consumo modifiquem-se. "É importante acompanhar a forma com que as pessoas consomem conteúdo, se não a gente some. Eu posso ter orgulho do que criei e mantê-lo íntegro, mas entender se as pessoas estão querendo ainda ouvir aqui ou se é preciso tentar um formato novo", opina.
Quando o assunto é criação, Alpendre diz que não existe um formato certo ou mesmo uma fórmula ideal para um podcast. Mas os interessados em produzir um podcast devem estar atentos. “É preciso sempre saber o que está rolando, consumir vários programas e acompanhar os rankings. Mas o principal é que ele seja contínuo porque o ouvinte de podcast é rotineiro, gosta de saber que o programa estará ali quando quiser ouvir”, aconselha.
O TEMPO