Fundado em 20 de janeiro de 1961, bloco celebra legado decisivo na renovação do gênero a partir de 1978. Logomarca dos 60 anos do bloco Cacique de RamosArte de André Cezari? MEMÓRIA – Fundado em 20 de janeiro de 1961, no dia do padroeiro da cidade natal do Rio de Janeiro (RJ), o Cacique de Ramos completa 60 anos em 2021 sem poder pôr o bloco na rua por conta da pandemia, mas firme como a bússola do samba carioca, guia do que de melhor se produz nos fundos dos quintais da cidade partida. Na segunda metade dos anos 1970, precisamente a partir de 1977, essa bússola apontou para exponencialmente talentosa geração de bambas então pouco ou nada conhecidos – Almir Guineto (1946 – 2017), Arlindo Cruz, Jorge Aragão, Luiz Carlos da Vila (1949 – 2008), Sombrinha e Zeca Pagodinho, entre outros – que iriam renovar o samba ao longo da década de 1980. “Lá o samba é alta bandeira / E até as tamarineiras são da poesia guardiãs”, poetizou Luiz Carlos da Vila nos versos de Doce refúgio (1983), samba lançado na voz de Beth Carvalho (1946 – 2019), cantora atenta aos sinais dados pelas rodas de samba armadas na quadra do Cacique de Ramos. A poesia do compositor está enraizada na realidade dos fatos. A partir do álbum De pé no chão (1978), Beth contribuiu decisivamente para dar visibilidade aos bambas que se abrigavam debaixo das tamarineiras e, com o aval da madrinha, esses sambistas começaram a pavimentar as próprias discografias. Celeiro de bambas, o Cacique de Ramos se tornou o principal polo produtor do samba propagado do Rio de Janeiro para o Brasil ao longo da década de 1980 (a partir de 1990, a geração pagodeira paulistana assume o protagonismo comercial no mundo do disco sem jamais ter obtido o prestígio dos bambas cariocas). Contudo, é justo lembrar que, já no Carnaval de 1963, saiu do Cacique o samba folião Água na boca (Agildo Mendes), hit do bloco, comandado há anos por Bira Presidente, integrante do grupo Fundo de Quintal e de uma das famílias fundadoras da agremiação carnavalesca do bairro carioca de Ramos. Tombado em 2010 como Patrimônio Imaterial da cidade do Rio de Janeiro, o Cacique de Ramos já está na história. Mas essa história ainda continua. O Cacique segue à espera da oportunidade de poder pôr novamente o bloco na rua para, como bússola do samba, continuar apontando para bambas que brotam nas rodas com a intenção de semear o bom samba nos quintais cariocas.