Na última semana, durante coletiva de imprensa da Fundação Renova com o prefeito de Mariana, Ronaldo Alves Bento, atingidos pela barragem estiveram presentes para manifestarem suas insatisfações e discordarem das declarações da instituição. Indignados com a demora e a não entrega da residência de alguns atingidos, em meio às perguntas da imprensa, os moradores interromperam o momento com citações de descontentamento. Diante do cenário, a Fundação, no mesmo instante, encerrou o evento.
"A Renova só tem dinheiro para a Renova. No reassentamento nós estamos abandonados", afirmou José Nascimento de Jesus. O morador também alegou que a Fundação realiza lavagem de dinheiro após acusar a instituição de usar materiais de construção de qualidade inferior aos usados no antigo Bento. Outro apontamento realizado pelo atingido foi a respeito da proibição de frequentar o campo de obras.
A coletiva de imprensa tinha como objetivo a realização da assinatura do prefeito Ronaldo Bento junto a Fundação Renova para oficializar o plano de entrega de Bento Rodrigues, na qual aconteceu, e também um momento para a instituição apresentar os trabalhos já realizados.
Ao todo, 162 casas estão sendo construídas e a previsão é de que sejam entregues, até o início de 2023, 100 casas. Além delas, o posto de saúde, a escola municipal e a estação de tratamento de esgoto também foram concluídas. A Fundação Renova ainda se comprometeu a reduzir a mão de obra e o horário de funcionamento para que os atingidos que se mudarem não sejam incomodados com as obras que ainda estarão ocorrendo.
Sandra, outra atingida presente na coletiva, se mostrou preocupada com o comércio local. Proprietária de um restaurante em Bento Rodrigues, alegou que na hora de realoca-la a Fundação não reconheceu seu empreendimento de acordo com os planos e critérios estabelecidos pela empresa. A moradora também acrescentou que a área de seu bar está menor e que ainda não há projeto. "... Já me ofereceram dinheiro para mim não retornar (ao Bento). Renova não sabe que a gente tem sangue nas veias queremos voltar às nossas origens, voltar onde a gente parou. Eu não quero dinheiro, quero o bar da Sandra", desabafou a atingida.
O Prefeito de Mariana, Ronaldo Bento, em entrevista à Rádio Real, comentou a respeito do ocorrido afirmando que concorda com as manifestações e relembrou que, no momento da coletiva de imprensa, fez o convite aos atingidos para que participassem da mesa, permitindo, assim, que tivessem um lugar de fala, mas que o convite não foi aceito por parte dos moradores presentes. Em relação às moradias, o prefeito preferiu se abster e acredita que a demora se dá devido a proporção dos projetos. Além disso, relatou que por ser gestor público cabe a ele avaliar somente os prédios públicos.
A Fundação renova relatou ao G1:
"A Fundação Renova esclarece que o novo distrito foi desenhado com a participação ativa de seus futuros moradores, seguindo as melhores práticas. [...] A aprovação do projeto pela comunidade envolveu mais de 70 revisões da proposta, com reuniões semanais entre 2016 e 2017, além de 23 oficinas entre 2017 e 2018. [...] a obra só começa após a aprovação final do desenho pelos futuros moradores. O tempo transcorrido desde o rompimento é longo, mas o trabalho respeitou a necessidade de amplo diálogo com os moradores, autoridades públicas, Ministério Público, poder judiciário, comissões e assessorias técnicas."