Sem prever fim de bloqueios, a PRF (Polícia Rodoviária Federal) disse que já houve 182 autuações por obstrução de rodovias ou por organização de bloqueios e também prisões. Entretanto, não houve detalhamento de quantas pessoas foram presas e em quais locais.
Além disso, a PRF disse que já identificou os agentes que participaram de três vídeos falando que a ordem seria para só estar no local, sendo dois vídeos em Santa Catarina e um em São Paulo.
A Folha teve acesso a vídeos em que os policiais federais dizem que não vão fazer nada em relação aos bloqueios. Em uma das imagens gravadas em Palhoça (SC), um policial diz que a ordem é somente estar no local.
"A única coisa que eu tenho a dizer nesse momento é a única ordem que nós temos é estar aqui com vocês, só isso", disse na imagem.
Segundo a PRF, os policiais não foram afastados das funções, mas devem responder por processos administrativos. As informações foram divulgadas em coletiva de imprensa nesta terça-feira (1°).
"A PRF não apoia a ilegalidade e a atuação ilegal ou o fechamento de rodovias federais. Os casos que apareceram na internet já foram identificados e a corregedoria-geral do órgão já instaurou um procedimento para apurar esses casos", disse Wendel Matos, corregedor-geral da PRF.
A PRF não divulgou quanto tempo deve durar a operação para não atrapalhar a estratégia. Entretanto disse que foram suspensas folgas, serviços administrativos, além de já estar trabalhando com o apoio da Polícia Federal, Corpo de Bombeiros, Polícia Militar e Força Nacional de Segurança Pública. Não houve detalhamento do efetivo.
O diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques, estava previsto para comparecer na coletiva de imprensa, mas não foi ao local para se reunir com o ministro da Justiça, Anderson Torres, no Ministério da Justiça.
O diretor de operações da PRF, Djairlon Henrique Moura, rebateu as acusações sobre a forma de atuação da PRF. "Em momento algum a PRF foi passiva. Em momento algum a PRF se omitiu. A determinação do ministro [Anderson Torres] e do nosso diretor-geral [ Silvinei Vasques] foi para atuar desde o primeiro instante. Não vai haver nenhuma omissão da PRF, assim como não está tendo, disse.
Durante a coletiva de imprensa, os jornalistas não puderam falar as perguntas para os representantes da PRF, sendo que os questionamentos tiveram que ser escritos no papel.
Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), incluindo caminhoneiros, iniciaram na noite deste domingo (30) bloqueios em estradas pelo país em protesto contra o resultado das eleições, que teve Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como vencedor na disputa pelo Planalto.
Os novos episódios envolvendo a PRF ocorrem um dia após a instituição descumprir uma decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e realizar abordagens em transportes públicos.
Procuradores da República nas cinco regiões do país já instauraram procedimentos sobre a situação dos caminhoneiros e apontam o cometimento, em tese, do crime contra o Estado democrático de Direito.
O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), determinou nesta segunda-feira (31) que o governo adote imediatamente "todas as medidas necessárias e suficientes" para desobstruir as rodovias ocupadas por bolsonaristas em protesto pelo resultado das eleições. O STF formou maioria a favor da decisão do ministro.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, disse que determinou reforço do efetivo da PRF (Polícia Rodoviária Federal) para normalizar o fluxo nas rodovias. A declaração foi dada nas redes sociais na noite desta segunda-feira (31).
"Situação das paralisações nas estradas sendo monitorada minuto a minuto pela @PRFBrasil e @gov_pf Acabo de determinar um reforço de efetivo, e de meios de apoio, a todas as ações possíveis para normalização do fluxo nas rodovias, com a brevidade que a situação requer", disse o ministro.
Na manhã desta terça-feira (1°), Torres disse que a PRF segue atuando nas estradas. " A @PRFBrasil segue atuando ininterruptamente no desbloqueio das estradas. Das 18h00 de 30/10 às 05:30 de 01/11 já foram eliminados 192 pontos de bloqueio", disse.
A FenaPRF (Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais) e os sindicatos dos Policiais Rodoviários Federais de todo o Brasil disseram, em nota, que o resultado das eleições de 2022 expressa a vontade da maioria da população e deve ser respeitado.
A federação afirma que segue cobrando uma postura firme da direção da PRF para que a corporação cumpra suas funções constitucionais, garantindo o direito de ir e vir da população e resguardando a segurança e integridade dos policiais.
"A postura do atual presidente da República, Jair Bolsonaro, em manter o silêncio e não reconhecer o resultado das urnas acaba dificultando a pacificação do país, estimulando uma parte de seus seguidores a adotarem ações de bloqueios nas estradas brasileiras", disse, em nota.
(Raquel Lopes/Folhapress)