Imersos em áreas com grande volume de crimes violentos, os centros comerciais podem ser ilhas de amparo às pessoas em Belo Horizonte, devido ao grande investimento em vigilantes, câmeras e lançamento policial. Mas os caminhos e quarteirões que levam a essa concentração de estabelecimentos necessitam de mais segurança. É o que mostra estudo sobre o volume de ocorrências dos bairros de Belo Horizonte – de janeiro a julho de 2022, ao qual a reportagem do Estado de Minas teve acesso exclusivo por meio de fonte da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) – e sua incidência sobre a extensão dos vários centros comerciais, com a orientação de especialista em segurança pública.
Por meio dessa razão de crimes nos bairros e extensão dos centros comerciais, a área de lojas e estabelecimentos que mais precisa de atenção das forças de segurança pública fica na Floresta, na Região Leste, entre as ruas Itajubá e Pouso Alegre, com uma referência de 14,08 metros por crime violento.
“Esse cálculo, com uma mensuração por extensão, aponta o nível de pressão de um determinado espaço com alvos valiosos para a criminalidade e, por isso, onde a polícia deve ocupar de forma estratégica”, observa o coronel Carlos Júnior, especialista em inteligência de Estado e segurança pública e que auxiliou a reportagem na constituição do estudo.
Na sequência, os cinco centros comerciais sob maior pressão da criminalidade violenta estão no Bairro São Luís, na região da Avenida Coronel José Dias Bicalho, na Pampulha, com razão de 17,39 metros para uma ocorrência; o Mantiqueira, com referência na Rua José Félix Martins, em Venda Nova, onde há um delito a cada 19,35 metros; o Padre Eustáquio e a rua de mesmo nome, na Regional Noroeste, com 21,05 metros para um crime; e o Santa Amélia, a partir da Avenida Guarapari, na Pampulha, com 26,92 metros para o registro de um crime violento.
São considerados crimes violentos pela Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) o estupro, a extorsão, a extorsão mediante sequestro (incluindo sequestro-relâmpago), homicídio e tentativas, roubos e tentativas, sequestro e cárcere privado e tentativas. Segundo dados da Sejusp, de janeiro a setembro, o total desses registros caiu 0,78%, de 7.295, em 2021, para 7.238, em 2022.
Desconfiança nas ruas
Frequentadora assídua do centro comercial que se estende nas ruas Pouso Alegre e Itajubá, na Floresta, onde conhece pessoalmente alguns dos donos e funcionários de estabelecimentos, a dona de casa Maria do Carmo Resende, de 62 anos, não se sente segura no caminho para as compras, mas, sim, quando chega aos locais.
“Ponho sempre a minha bolsa para a frente e a abraço. Vou andando bem desconfiada mesmo. Tem muito bandido, muita gente traficando drogas e fumando crack nas ruas Salinas, Dona Maria Inês, na Pouso Alegre mesmo, mais embaixo. Não me sinto segura nem de dia. De noite, não passo ali de jeito nenhum. Queria mais polícia, mais abordagens nesse pessoal”, afirma a dona de casa.
O entrevistador Felipe Gabriel de Souza, de 30, também ressalta a necessidade de ampliação da segurança que nos corredores que levam aos centros comerciais: “Comprando aqui na (Rua) Itajubá ou na Pouso Alegre nunca tive problemas. Nem notícias de pessoas que sofreram crimes. Mas, quando estou mais longe e preciso chegar passando por algumas ruas, como a Sapucaí, aí sim, sinto que estou em situação de insegurança”.
Movimentada e com grande pressão de crimes no seu entorno, a Padre Eustáquio e arredores que formam o centro comercial local tem casos de crimes, mas já foi muito pior, segundo moradores e comerciantes. “Com as redes sociais e redes da polícia e da Câmara de Diretores Lojistas de Belo Horizonte ( CDL) ficou muito mais seguro dentro dos centros de comércio. As pessoas sentem isso e procuram vir nesses locais. As redes sociais deixaram as pessoas um pouco paranoicas, porque acontece uma coisa e todos ficam sabendo. Antigamente, tínhamos muito mais crimes e não havia câmeras, polícia presente”, afirma Juarez Campos, dono de uma ótica na região.
“O problema aqui passou a ser o roubo de carros. Acho que é porque perto a gente escuta dizer que tem muitos desmanches. Meu pai teve um carro roubado da sua oficina enquanto trabalhava nele. É complicado, porque tem a violência e o transtorno com o cliente depois”, afirma Sandro Eustáquio Camisas, de 47, que trabalha com martelinho de ouro.
Na região da Pampulha
No Bairro Santa Amélia, na Região da Pampulha, um ativo centro comercial é a Avenida Guarapari. Morador e taxista da região, Zeferino Máximo Neto, de 70, acha que os problemas relacionados à insegurança se devem à saída dos bares.
“De madrugada não tem policiamento, e os barzinhos lotam. Muita gente vai buscar o carro na rua e acaba roubado, agredido. Se não tiver uma polícia ativa nesse horário, não adianta. Mas, de dia, é tranquilo demais. As pessoas fazem caminhadas, comem nos restaurantes, compram nas lojas normalmente”, afirma Zeferino.
A dona de restaurante Ana Paula Nunes de Souza Silva investiu pesado para manter a segurança no seu restaurante e diz nunca ter sido vítima de roubos, arrombamentos ou qualquer outro crime na Avenida Guarapari.
“A gente se precaveu, até para ter esta segurança ao nosso cliente. Instalamos alarme de sensor, cerca elétrica, concertina e 24 câmeras de monitoramento. Isso tudo parece ter inibido muito, porque os bandidos procuram lugares com facilidades”, pondera a comerciante.
“Acho aqui muito tranquilo. Quando chego cedo, vejo muito lixo e coisas espalhadas depois pelos frequentadores dos bairros, mas de dia é muito pacífico”, define a autônoma Ariane Feitosa, de 22, que de dia passeia tranquilamente pela avenida com o filho Altair, de 1 ano e 3 meses. Oportunistas rondam locais movimentados
A proximidade com o Centro de Belo Horizonte é o que mais pressiona a violência no entorno do centro comercial da Floresta, compreendido pelas ruas Itajubá e Pouso Alegre, segundo avaliação do coronel Carlos Júnior, especialista em inteligência de estado e segurança pública.
Como a reportagem do EM já mostrou, a área central da capital mineira é a que contabiliza mais registros de crimes violentos da cidade, com 474 ocorrências entre janeiro e julho de 2022, segundo dados de fonte da Polícia Militar.
“É também uma das maiores concentrações de comércio depois do Centro, atraindo muito a atenção dos criminosos oportunistas, com repercussões também provenientes da Avenida Cristiano Machado”, afirma o especialista.
No Bairro São Luís, na Pampulha, o problema, segundo o especialista, são os entornos de eventos. “Não é nas lojinhas que se vai ter problemas, mas nas áreas ermas da Pampulha”, observa. Em Venda Nova, no Bairro Mantiqueira, a Rua José Félix Martins acabaria afetada, de acordo com o coronel Carlos Júnior, pela proximidade com o Morro Alto (Vespasiano). “É um local muito pujante e que se encontra próximo a um local onde já se tem um problema de segurança pública e ausência do Estado”, avalia.
Dinheiro vivo
No entorno da Rua Padre Eustáquio, o histórico de receptação de produtos roubados nos arredores e na proximidade com a Avenida Dom Pedro II cria uma atmosfera, segundo o especialista, que propicia vários níveis de crimes.
“Ali há grande volume de coisas roubadas sendo negociadas. São específicos, como peças de retrovisor de carro, rodas, pneus, portas e macacos que podem ter sido roubados. O fluxo de pessoas com intuito de comprar e vender veículos ou peças, muitas vezes vindos do interior com dinheiro vivo, atrai criminosos e por isso têm sido combatidos na região”, afirma Carlos Júnior.
Promessa de projeto para a Savassi
A segurança nos centros comerciais pode receber mais incremento, de acordo com a Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), que tem atuado em várias regiões importantes de comércio, como no Centro, em parceria com a polícia e a prefeitura, onde foram feitas as instalações de câmeras do sistema Olho Vivo e grupos de colaboração e monitoramento de segurança no comércio (Rede de Comerciantes Protegidos).
Um dos próximos alvos é a Savassi, segundo o presidente da CDL/BH, Marcelo de Souza e Silva. “A capital possui 30 centros comerciais, e a Savassi é um dos principais, com mais de 500 estabelecimentos. Em parceria com a Polícia Militar, iremos elaborar projetos para que consumidores, lojistas e funcionários sintam ainda mais tranquilidade e segurança em frequentar uma das principais regiões da cidade”, destacou Marcelo de Souza e Silva.
A Operação BH Mais Segura, por exemplo, é sempre intensificada nas vésperas de datas comemorativas, pontua. “Além disso, constantemente estamos fazendo reuniões periódicas para discutir a melhoria da segurança pública nos centros comerciais da cidade”, complementa Marcelo de Souza e Silva .
Vigilância
Para a proteção dos comerciantes a Polícia Militar recomenda que procurem participar de redes de proteção preventivas, como a da corporação e da CDL/BH.
“A vigilância mútua é muito eficaz e preventiva. Para maiores informações, procure a Base de Segurança mais próxima. Instale em seu comércio fechaduras e travas de qualidade, dispositivos sonoros que acionam e avisam a entrada de alguma pessoa na loja, câmeras de segurança em pontos estratégicos, como a entrada da loja e o caixa, que identifique os rostos das pessoas”, indica a PM.
A corporação também orienta ao comerciante que crie vínculos com outros lojistas da região e combinem ações em conjunto, como abrir e fechar as lojas juntos, de maneira a se precaver dos crimes.
“Antes do início do expediente e no final, não deixe a porta da loja semiaberta, demonstrando que você está sozinho. Exponha os produtos mais caros sempre no fundo da loja. Nunca coloque o caixa perto da porta de saída e de costas para a rua. Isso atrai os infratores e a fuga é facilitada. Nunca deixe quantias de dinheiro à mostra. Evite deixar objetos pessoais de valor, como bolsas e celulares, expostos sobre o balcão”, recomenda a polícia.