Portal de Notícias Administrável desenvolvido por Hotfix

BRASIL

Estudo inédito evidencia desigualdades da vacinação da Covid no Brasil


Um estudo inédito da Oxfam Brasil detalhou, em números, a desigualdade da campanha de vacinação contra a Covid-19 no País. A pesquisa, divulgada nesta quarta-feira (23), mostra, entre outros fatores, que a cobertura vacinal tende a acompanhar o nível do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos Estados. Com o segundo maior IDH entre as unidades da federação, São Paulo tem cobertura vacinal de 91% – a única localidade a bater a meta de 90% do Ministério da Saúde. Na contramão, está Roraima: no "meio da tabela" do IDH, o Estado não bateu 60% de imunização. Segundo pior índice de desenvolvimento do País, o Maranhão registra cobertura de 64,9%, bem aquém de São Paulo.

“Há uma correlação entre o IDH e a cobertura vacinal. A gente sabe que o Brasil é um País regionalmente desigual. Então, a ausência de uma coordenação centralizada e efetiva por parte do governo federal impactou a possibilidade de acesso dessas regiões (mais periféricas). Chegamos nos extremos de São Paulo, única unidade que ultrapassou 90% do ciclo completo vacinal, e Roraima com 57,5% (de cobertura). Uma discrepância bastante grande", diz Jefferson Nascimento, coordenador de Justiça Social e Econômica da Oxfam Brasil.

A pesquisa também analisou as coberturas vacinais por raça/cor e sexo no Brasil. Novamente, o que a Oxfam descobriu é uma desigualdade no acesso ao imunizante contra a infecção pelo novo coronavírus. Porém, a conclusão fica limitada pela ausência de dados. Algumas unidades da federação ignoram as diretrizes do Ministério da Saúde e simplesmente não registram a raça/cor do vacinado. No Distrito Federal, 39,41% das aplicações não computam a informação. Em Minas, o índice é de 18,43%.

“Há dificuldades na coleta. Há uma preocupação menor que se deveria ter com esse tipo de informação, mas também há dificuldades estruturais que comprometem a coleta. Alguns locais fazem o controle da vacinação no papel e depois passam para o sistema (digital) por falta de acesso à internet. Então, o dado já fica menos confiável. São nove obstáculos que explicariam essa desigualdade", diz Jefferson Nascimento, da Oxfam. Ele lembra, ainda, da sobrecarga dos profissionais de saúde, que trabalharam longe das condições ideais durante a pandemia.

Para o especialista da Oxfam, a análise por raça/cor é fundamental para medir o sucesso da campanha de vacinação. Ele cita estudos científicos que comprovam que a população negra tem maiores riscos de morrer pela Covid-19, justamente por ser aquela mais exposta à vulnerabilidade social, diante do racismo estrutural e da dificuldade de acesso a melhores condições de vida.

“A população negra sofre com maior taxa de desemprego, o que fez ela se expor mais à pandemia. Ela também tem o acesso à saúde mais limitado”, cita Jefferson Nascimento. Portanto, o objetivo do estudo era saber se essa dificuldade também se estendeu à cobertura vacinal, mas a falta de dados comprometeu a análise.

Medidas para o futuro

O estudo ainda sugere medidas a serem tomadas a curto, médio e longo prazo no Brasil para uma melhor gestão do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19 (PNO). Além de melhorar a coleta dos dados segmentados por renda, raça/cor e gênero, os especialistas pedem aperfeiçoamento das "campanhas nacionais de comunicação em saúde para vacinação, com ações pró-vacina". A formação de profissionais com "foco no combate aos movimentos antivacina e ao negacionismo científico" também é preocupação.

A médio prazo, o estudo pede a criação de uma lei federal para reorganizar as campanhas de vacinação com enfoque nos direitos humanos da segurança sanitária. A ampliação do financiamento de ações contra as doenças infectocontagiosas e das parcerias entre centros tecnológicos brasileiros e estrangeiros para a produção no Brasil de vacinas de interesse do SUS também estão na lista.

No longo prazo, a Oxfam sugere maiores investimentos de "recursos públicos no complexo econômico e industrial de vacinas brasileiro, inclusive em inovação farmacêutica". O mesmo vale para o incentivo a inovações sociais farmacêuticas, principalmente para vacinas e medicamentos de doenças raras e negligenciadas.

O TEMPO

Assine o Portal!

Receba as principais notícias em primeira mão assim que elas forem postadas!

Assinar Grátis!

Assine o Portal!

Receba as principais notícias em primeira mão assim que elas forem postadas!

Assinar Grátis!