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Perfil: pesquisadora morta em Aracruz se dedicava a vítimas de tragédia

Por Redação

05/12/2022 às 05:43:23 - Atualizado há
Comprometida, séria, dedicada, brilhante. É assim que a professora Flávia Amboss Merçon Leonardo é descrita por quem a conhecia. A mulher de 38 anos é uma das quatro vítimas de ataques armados a escolas na cidade de Aracruz, no Espírito Santo, na em 25 de novembro. Professora de sociologia na Escola Estadual Primo Bitti, a primeira a ser atacada por um adolescente de 16 anos, Flávia dedicou sua vida a ajudar e atender as comunidades atingidas pelo rompimento da barragem da Samarco, em Mariana, na Região Central de Minas Gerais, em 2015. Desde sua tese de mestrado na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) até a defesa do seu doutorado, em abril deste ano, Amboss pesquisava como o despejo de toneladas de lama no leito do Rio Doce ainda afetam quem mora próximo ao curso d’água. Ao Estado de Minas, a orientadora de Flávia, durante o doutorado cursado na Universidade Federal de Minas Gerais, Andréa Zhouri, contou que a aluna era dedicada e “muito comprometida com os atingidos”. Segundo ela, Amboss morou por um período na Vila Regência Augusta, na foz do Rio Doce, onde se instalou não só para desenvolver a pesquisa, mas também social e politicamente. “Flávia era uma pessoa preocupada com a vida dos atingidos, com os direitos deles. Ela era uma pessoa que trabalhava e pesquisava com muita seriedade e compromisso. Muito inteligente. Sua pesquisa foi voltada para contribuir com a comunidade, não era apenas para ela, ou para a sua qualificação”, afirmou Andréa Zhouri, professora do departamento de antropologia e arqueologia da UFMG.
ATIVISMO Além de pesquisadora e professora, Flávia Amboss também atuava no Movimento de Atingidos pelas Barragens (MAB), no Espírito Santo. Dentro do grupo, Flávia trabalhava com as mulheres atingidas. Ela integrava a equipe de garantia dos direitos das mulhere, e contribuía na sua auto-organização. Para José Carlos Nascimento, coordenador nacional do MAB, o trabalho que a professora realizava dentro do movimento ia contra todos os tipos de violência, principalmente aquelas praticadas dentro de comunidades escolares. “O MAB tem uma linha muito clara que é a organização dos atingidos pelas barragens. Mas não nessa perspectiva armamentista e da política do ódio. Na verdade, o movimento é contrário a esse cenário. Nós lutamos pela educação. O MAB compõe os comitês Estadual e Nacional de Educação do Campo”, disse Nascimento. Desde o ataque, os colegas de Flávia pedem por justiça. O coordenador nacional do MAB afirmou que o caso tem que ser investigado com seriedade, e, além dos motivos que levaram o adolescente a matar as pessoas, outros possíveis envolvidos também devem ser investigados.
RELEMBRE O CASO Em 25 de novembro, uma sexta-feira, duas escolas do distrito de Coqueiral, localizado a 22 quilômetros do centro de Aracruz (ES) foram atacadas por um adolescente, de 16 anos. Professores e alunos das instituições Escola Estadual Primo Bitti e oCentro Educacional Praia de Coqueiral, que é particular, foram surpreendidos pelo atirador. Além de Flávia, uma adolescente de 12 anos e outras duas professoras – Maria da Penha Pereira de Melo Banhos, de 48, e Cybelle Passos Bezerra, de 45 – morreram. A ação do adolescente de 16 anos apontado como autor dos crimes teve início por volta das 9h30 e começou pela Escola Estadual Primo Bitti, onde ele arrombou o cadeado de um dos acessos e fez disparos na sala dos professores. Em seguida, o atirador entrou em um carro e foi até a segunda escola, Centro Educacional Praia de Coqueiral. No local, efetuou novos disparos, tirando a vida de uma aluna e ferindo outras vítimas. O adolescente foi apreendido. Segundo a Polícia, ele usou duas armas de responsabilidade do pai, que é policial militar.

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