Os exames de Covid com resultado positivo em crianças de zero a dois anos atingiram um pico no mês de novembro, segundo levantamento feito por um laboratório. Segundo os dados do Grupo Fleury, os testes positivos para o Sars-CoV-2 nesta faixa etária em novembro chegaram a uma média de 16,64%, o que equivale a cinco vezes mais que o observado no mês anterior, em outubro (3,06%). Igualmente, os adolescentes de 13 a 18 anos tiveram uma taxa de resultados positivos de 23,33%, cerca de 4,7 vezes no mês anterior (de 4,88%).
Já nos demais grupos etários, de 3 a 5 anos, a taxa passou de 1,42%, em outubro, para 7,73%, em novembro, e na faixa etária de 6 a 12, de 2,4% para 16,54% no último mês.
De acordo com o levantamento, dois dias no último mês tiveram o maior pico: os dias 19 de novembro, com 27,4%, e o dia 9, quando atingiu 30,56% (ou quase um terço dos exames com resultado positivo). Os dados são semelhantes aos observados na última onda da ômicron, em junho, e inferiores ao registrado em janeiro, na primeira onda da ômicron, com taxa de teste positivos de 45% nos menores.
Para o infectologista e diretor-médico do Fleury, Celso Granato, o cenário constatado entre crianças resulta da baixa cobertura vacinal nesse grupo. "Como a cobertura vacinal está baixa e a gente já voltou praticamente ao normal, o crescimento de casos nas crianças começa a aparecer", explicou.
O aumento de resultados positivos dos testes em crianças reflete a onda de casos registrada no último mês também em adultos. "São fenômenos paralelos, vimos um aumento nos adultos, que foi até maior, e um crescimento nas crianças, que começa agora a dar um sinal de queda, mas ainda preocupa", disse.
A alta de casos já havia sido apontada pela Folha no início do mês. Especialistas acreditam que com as aglomerações causadas pela Copa do Mundo e pelas festas de final de ano os novos casos podem crescer ainda mais nas próximas semanas.
Segundo ele, apesar de fazer pouca "tipagem" das amostras para saber qual o vírus presente nelas, ainda há uma dominância da ômicron e da subvariante BQ.1. "Somadas acabam ficando 40%", disse.
De acordo com Granato, é mais comum que os casos detectados em crianças sejam mais graves, com necessidade de avaliação hospitalar, o que preocupa. "Com o período de maior circulação e de encontro entre familiares e amigos, as crianças devem ter cuidado especial para evitar a infecção."
Apesar de já existir a vacina para bebês de 6 meses a 4 anos da Pfizer, o governo até o momento restringiu a vacinação para os mais novos com comorbidades. Mesmo nas faixas etárias mais velhas, como aquela com mais de cinco anos, o ritmo da vacinação está lento.
"Seria bom que o governo finalizasse o ano trazendo a vacina bivalente da Pfizer para os adultos e aqueles com mais de cinco anos e para as crianças novinhas ofertasse também a vacina pediátrica. A baixa cobertura vacinal preocupa muito até mesmo para o retorno de doenças antes controladas no passado, como sarampo", afirma ele.
(Ana Bottallo / Folhapress)