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Um convite à alegria e à união

Por Redação

17/12/2022 às 04:09:09 - Atualizado há

Papai Noel não brinca em serviço – na verdade, conjuga o verbo brincar apenas para alegrar a criançada, fazer sorrir alguém que há muito tempo se esqueceu desse prazer ou convidar o mundo à leveza de dezembro a dezembro, mesmo que o mundo ainda não tenha espantado de vez o fantasma da COVID-19. Será possível? Ele garante que sim, e dá as dicas para este Natal, que traz de volta as máscaras e liga o sinal vermelho da pandemia.
A turma que encarna o bom velhinho, que não é boba nem nada, tem trabalho dobrado com as apresentações em shoppings, praças públicas e festas particulares na capital e no interior. Para cada um, neste 2022 tão polarizado, deve prevalecer o amor para afastar desavenças políticas e levar de vez as “águas passadas” do rancor.
Com 62 anos de idade, dos quais 37 encarnando o bom velhinho, o educador Mário de Assis se declara um Papai Noel em tempo integral. E traz sempre uma máscara especial na mochila, caso seja obrigatório usá-la. “Neste ano, após tanta confusão, minha mensagem é de diálogo entre pais e filhos, avós e netos, irmãos e irmãs. Vou dar um puxão de orelha em quem continuar brigando por causa de eleição”, diz o marido de Maria Cristina, com quem tem três filhos, e avô de Pietro, de 6, e Rafael, de cinco meses. Um segundo depois do aviso, ele diz acreditar na felicidade dos brasileiros pós-pandemia. “Este Natal será o máximo! O segredo está na magia.”
Ao se revelar um Papai Noel nos 365 dias do ano, Mário de Assis explica que, talvez por teimosia, não tenha parado em 2020 nem no ano passado, quando a COVID-19 fazia os maiores estragos. “Felizmente, não contraí a doença, mesmo abraçando e beijando muita gente. Não escolhi ser Papai Noel, mas fui escolhido por Deus para continuar nesse caminho”, crê o belo-horizontino “hipertenso, sedentário e diabético”, sempre disposto a fazer lives, gravar vídeos e fazer visitas.
“Já cheguei a velório com a roupa vermelha, entre um compromisso e outro. Pedi desculpas, mas não tinha outro jeito. Uma vez Papai Noel, sempre Papai Noel, na terra ou no mar”, revela bem-humorado. Nas andanças, Mário de Assis vai a todo canto: “No último 7 de setembro, fui à Praça da Liberdade (Região Centro-Sul de BH) com todo mundo de verde-amarelo. Encontrei boa recepção, as pessoas tirararm fotos comigo”.

BARBA NATURAL

Quem se encontra com Mário de Assis pode notar que sua barba é 100% natural. “Logo que começou a COVID, decidi não cortá-la nunca mais. Antes, era artificial, mas, veja, está batendo no peito”, conta o homem com autoridade não só para bater a bola no peito, como cabecear e marcar um gol de placa pela esperança. “Precisamos demais de união. Votei num candidato à Presidência, meu irmão em outro. Somos amigos... a eleição terminou, 2023 vem aí”, ressalta Mário, com programação no Natal de Itabirito (Região Central de Minas), onde ganhou trenó motorizado; na Galeria Ouvidor, no Centro de BH, aos sábados, em eventos escolares e no tradicional almoço natalino do Restaurante Popular, na capital.
Há dois anos na pele e na voz do senhor do “Ho ho ho”, Marco Antônio de Assis, de 68, aposentado, faz sua grande estreia. Morador do Bairro Santa Tereza, na Região Leste de BH, marido de Dinéia Patrícia e com uma família composta por três filhos e cinco netos, ele participa do Natal da Galeria Ouvidor, onde posou com o irmão para as fotos dessa reportagem. “Sempre acompanhei o Mário nas festas natalinas. Foi ele quem me incentivou a vestir a roupa vermelha e sair por aí”, conta com satisfação.
“É gratificante alegrar as crianças e também os adultos. Meu maior desejo é que a paz volte a reinar no mundo, trazendo saúde, amor e muito respeito”. No ano passado, Marco Antônio movimentou a Praça Duque de Caxias, em Santa Tereza, participou como convidado de um coral e esteve em reuniões familiares. Neste novo tempo, é hora de aproveitar a oportunidade e fazer a criançada feliz.
A presença dos dois irmãos na Galeria Ouvidor surpreendeu as famílias que faziam compras. “Foi a primeira vez que minha filha viu Papai Noel assim tão de perto. Queria até levá-lo para casa. Me falou: ‘Mamãe, compra ele para mim?’”, contou, sorrindo, Edna Pinto Andrade ao lado de Alice Jennifer, de 3.
Cauan, de 8, filho da artesã Cássia Aline de Oliveira Rodrigues, perguntou se Papai Noel tinha um irmão gêmeo. Para Cássia, que levou também a pequena Catarina, de 1 ano, um bom sentimento vale por dois: “O Natal é ótima oportunidade para o ser humano cultivar o amor e a compaixão pelo semelhante.” Para Laura, de 10, acompanhada da mãe, Roberta Almeida Faria, auxiliar administrativa, a compra das sapatilhas para uma apresentação de dança na escola resultou em encontro inesperado. “Ela ficou feliz porque o Papai Noel a chamou para tirar a foto. Achou o máximo, nunca imaginava isso”, revelou Roberta.  

CASAL NOEL

Mamãe Noel entra em cena, vinda lá da Lapônia para o calor tropical, e está ao lado de Papai Noel em todos os momentos pré e pós-natalianos. É assim com Marcos Henrique Gomes e Glória Maria de Godoy Gomes, casados há 52 anos e residentes no Bairro União, na Região Nordeste de BH. “Nossa expectativa é a melhor para este Natal, pois muitas crianças estão ávidas para ver o Papai Noel pela primeira vez”, destaca Marcos Henrique, de 76, presidente da Associação dos Papais Noéis (Aspanoeis), que reúne 22 pessoas (a maioria da Região Metropolitana de BH), com 15 na ativa.
E qual a função do Papai Noel? “Bem, ele não existe apenas para ficar sorrindo, sentado na cadeira de um shopping. Precisa interagir com o público, embora muitas mães estimulem as crianças a puxar nossa barba. Isso é falta de educação”, diz o técnico em explosivos aposentado. Marcos Henrique já tentou ser coelhinho da Páscoa, mas não deu certo, foi apóstolo na encenação da Paixão de Cristo, em Nova Jerusalém (PE), e, há 13 anos, encarna o bom velhinho. Na avaliação dele, é fundamental gostar de crianças – o casal tem quatro filhos e sete netos.
Neste ano, o casal Noel estará em Contagem, na Grande BH. “Estou feliz, pois as mulheres mais velhas me procuram e se sentem representadas. É meu segundo ano de Mamãe Noel, e tenho esse contato de avó com avó”, conta Glória Maria. Nos últimos dias, o casal se dedica a embrulhar 300 presentes, numa ação particular e com parceiros, a serem distribuídos a crianças de comunidades carentes. “Etiquetamos cada um, separamos por idade, um trabalho cuidadoso”, explica Marcos.
Para ser o bom velhinho, não basta vestir a roupa de veludo e sair por aí desejando Feliz Natal. Há regras a serem seguidas. Em primeiro lugar, não pode ser pedófilo nem beberrão. “Uma vez, num shopping de uma cidade do interior de Minas, um homem bebeu tanto que caiu da cadeira. Não era nosso associado nem nunca será”, diz Marcos Henrique.

ITINERANTE

Contratados por agências, prefeituras e estabelecimentos comerciais ou atuando de forma autônoma, os Papais Noéis estão acostumados a circular – tanto no seu trenó como sacolejando em ônibus, muitas vezes recebendo menos do que merecem, como informa Carlos Vicari, paulista de Santos, residente em BH desde 1990. “Trabalhei em shoppings daqui, mas, na última vez, estavam oferecendo menos do que no período natalino anterior. Então, fui trabalhar em Cariacica (ES). Morava em Vila Velha, trabalhava oito horas, viajando duas horas para ir e duas para voltar. Voltei para BH e veio a pandemia. Achei triste, em 2020, quando os shoppings puseram um boneco sentado no nosso lugar.”
Nos dois últimos anos, Vicari, que tem dois filhos do primeiro casamento e é padrasto de três da segunda união, tornou-se Papai Noel itinerante em Contagem, contratado pela Câmara Municipal. “Saio num caminhão percorrendo as ruas do município, e também faço visitas presenciais. Minha mensagem é sempre de esperança, e de que o bem sempre vence o mal.”
DEPOIMENTO

Nas ruas, a magia do Papai Noel

“Já me vesti de Papai Noel por duas vezes. Não era festa de família nem do trabalho, muito menos uma brincadeira entre amigos. Entrei no papel e no figurino para fazer uma matéria aqui para o Estado de Minas. A pauta, que no início estranhei, transformou-se numa das experiências mais surpreendentes da minha vida profissional. Na primeira vez, no calorão de dezembro, fui ao Parque Municipal, no Centro de Belo Horizonte, e oferecia uma bala ou pirulito a quem me contasse uma história. “Papai Noel, por favor, traga de volta meu namorado”, me disse uma jovem em quase desespero, como se eu fosse uma entidade ou figura mágica. Na segunda vez, no entorno do terminal rodoviário, me emocionei com o relato de uma grávida soropositiva. Só queria que o bebê nascesse com saúde. Certo de que Papai Noel (até onde sei) não escreve, só recebe cartas, memorizando os relatos, enquanto o fotógrafo Beto Novaes registrava, de longe, cada cena, encobrindo os rostos dos personagens com arbustos, placas, às vezes as mãos. Enquanto isso, o suor escorria e minha barba deixava o rosto à mostra. Ninguém se incomodava e, curiosamente, continuava a fazer os pedidos. Crer ou não crer, eis a questão... só sei que, depois dessas reportagens, vi, mais do que nunca, que ‘cada um sabe onde seu calo aperta’.”   
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