“Aqui é uma região que já tem rótulo negativo muito grande e não é isso tudo que as pessoas acham. É um prejuízo gigantesco para a comunidade quando um aplicativo de corrida tacha a região com um termo tão pejorativo”, reflete. Para além dos estereótipos, o bairro é berço de Belo Horizonte, conforme aponta o professor e advogado Daniel Silva Queiroga, autor do livro "Nossas ruas, nosso patrimônio (in)visível: Dicionário toponímico da região da Lagoinha". Relembre a reportagem – Lagoinha: as curiosidades que cercam o bairro considerado 'berço de BH' Ao Estado de Minas, o músico e doutor em Educação pela UFMG, Bodô Alcântara, de 46 anos, reconhece os problemas sociais da região, afirmando que “o crack é um problema de saúde pública”, mas destaca que os estereótipos ali lançados não representam a pluralidade que há no bairro. “Sou um historiador da região e moro aqui há 23 anos. Não há roubo ou assaltos na Lagoinha. É uma regra imposta até pelo tráfico. Recentemente, tivemos o festival de jazz neste ano, que movimentou muito a economia na região. Aí vem um aplicativo e coloca que aqui é a cracolândia. Isso é muito prejudicial para nós”, avalia Alcântara, que também é fundador da Universidade Popular do Som, nascida na Lagoinha em 2019. Idealizador do Viva Lagoinha – iniciativa que conecta pessoas que acreditam na requalificação do bairro – , Filipe Thales também lamenta a classificação da região no aplicativo. “Sofremos na pele diariamente, pois demora muito para um carro chegar aqui. O índice de cancelamentos – ao pedir um carro para ir a Lagoinha ou sair daqui – é grande”, afirma.
O que diz a 99 App
Em nota à reportagem, a Prefeitura de Belo Horizonte disse que “irá avaliar as medidas cabíveis a serem adotadas”. Já a 99 App afirmou que a denominação da região foi ajustada após as reclamações de moradores. A empresa ainda reforçou o compromisso em ser “a melhor opção de mobilidade urbana para as pessoas”, pontuando que tem “uma política de tolerância zero a qualquer tipo de discriminação”.Leia a nota na íntegra:
"A 99 após cruzamento de dados ajustou a denominação da região apontada pelos moradores do bairro Lagoinha, em Belo Horizonte. A empresa reforça que atua para ser a melhor opção de mobilidade urbana para as pessoas, oferecendo um transporte acessível e democrático para as 1.600 cidades em que está presente. Para equilibrar a necessidade dos motoristas parceiros por segurança e sem excluir regiões específicas, a 99 trabalha com transparência e possui uma política de tolerância zero a qualquer tipo de discriminação, seja ela de raça, gênero, religião, orientação sexual, idade, classe social, local de moradia, entre outras."Estado de Minas